A revolução dos bichos, plantas que falam e os tratores de James Cameron

Assisti dias atrás na internet uma palestra de um cara chamado Neil Harbisson, artista audiovisual inglês que nasceu com a síndrome da acromatopsia, o que só lhe permite enchergar o mundo em preto e branco. Ele esteve presente em uma conferência da TEDGlobal em 2012 – sigla para Tecnologia, Entretenimento e Design – evento reconhecido pela exposição de grandes ideias, já tendo recebido celebridades como Bill Clinton, Al Gore, os fundadores do Google e diversos ganhadores do prêmio nobel, só para citar alguns.

Sua invenção é um tanto peculiar e nos chama a atenção logo de cara. Já que ele não encherga as cores, por que não então ouví-las? Assim, desenvolveu um aparato chamado de “Eyeborg”, capaz de traduzir as frequências eletromagnéticas da luz que está em sua frente e enviá-las para um chip implantado atrás de sua cabeça. O chip converte as cores em ondas sonoras com base em uma escala, na qual cada cor (frequência de vibração da luz) está associada à uma nota musical. As ondas sonoras produzidas são conduzidas até os nervos auditivos de Neil através dos ossos, o que lhe permite perceber até mesmo o que não conseguimos naturalmente, como a luz infravermelha e ultravioleta.

Neil Harbisson e seu invento na TEDGlobal em 2012. Foto: James Duncan Davidson.
Neil Harbisson e seu invento na TEDGlobal em 2012. Foto: James Duncan Davidson.

Comecei a pensar se o cara é maluco ou se está vendo algo que ainda não enchergamos – literalmente. Segundo o artista inglês, deveríamos parar de criar aplicativos para dispositivos móveis, como celulares e tablets, e começarmos a desenvolver aplicativos para nossos próprios corpos, ampliando nossos sentidos. “Essa é uma das grandes mudanças que presenciaremos neste século”, afirma.

Ligando um pouco os fatos, começo a imaginar que talvez ele não seja tão alienado assim…

O que a Engenharia de Biossistemas tem a ver com isso?

A ideia contida nisso tudo se traduz na forma totalmente diferente a qual podemos interagir com o ambiente, nos tornando melhores naquilo que fazemos, ou ainda, autossuficientes em certas atividades. Acredito que no futuro da produção agropecuária, adotando-se tal inovação pode-se mudar a autonomia e relação entre os agentes.

Eis aqui algumas aplicações do conceito apresentado na TED – a tecnologia servindo como ponte para a tradução de sentidos e necessidades:

1 – A revolução dos bichos

Com uma maior independência, o conforto térmico ficará por conta de si próprio. Foto: revista Plantar.

Para o professor Iran José Oliveira da Silva, coordenador do Núcleo de Pesquisa em Ambiência (NUPEA) da ESALQ/USP, uma tendência na produção animal está nos próprios animais controlando o ambiente onde estão inseridos. Isso significa, em suas palavras, que serão eles que darão o sinal para o sistema eletrônico automatizado agir, tal como o acionamento de nebulizadores, cortinas e ventiladores. Isso poderia ser feito através de colares, pulseiras ou outros tipos de sensores ligados ao animal, imagino, que coletem a temperatura da superfície corpórea, batimentos cardíacos, frequência respiratória de uma amostragem do lote e envie para o sistema de controle. Não está muito distante de acontecer, há muitas pesquisas sendo realizadas no mundo, afirma o professor.

2 – Plantas que falam

#medaumcopodagua. Foto: Botanicalls.
#Medáumcopodágua. Foto: Botanicalls.

Desbravando a fronteira do inanimado, publicamos há algum tempo uma notícia sobre plantas que “mandam” mensagens de texto para o celular de seu dono e até mesmo publicam mensagens no twitter, pedindo que as reguem quando necessário. O sistema se baseia na análise do déficit hídrico sentido pela planta para a tomada de decisões, que neste caso, cabe a um ser humano. Entretanto, a rega poderia ser automatizada e comandada pela própria planta, de acordo com a “sede” que está sentindo. O conceito já nos é conhecido, trata-se da Agricultura de Precisão – prática que utiliza tecnologia avançada no campo para ganhos de produtividade. A grande sacada dos cientistas foi a tradução das informações obtidas da planta para uma linguagem mais prática.

3 – Máquinas mais inteligentes

Falta pouco para que as máquinas agirem sozinhas. Ou já estão fazendo? Foto: Google.
Falta pouco para as máquinas agirem sozinhas. Ou já o estão fazendo? Foto: Google.

Indo além, outra possibilidade seria a de máquinas agrícolas integradas via rede sem fio a um sistema de gerenciamento e que, de acordo com o número de horas trabalhadas, automaticamente agendem suas manutenções periódicas, abastecimentos e trocas de óleo, facilitando a operação de gestão da frota agrícola. Um sistema de conceito parecido está em desenvolvimento no Laboratório de Máquinas Agrícolas e Agricultura de Precisão (LAMAP) da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP. Seria esse o cenário vislumbrado por James Cameron há 29 anos quando lançou o exterminador do futuro – máquinas que possuem algum tipo de autoconsciência?

As possibilidades de aplicação dessa ideia no campo são inúmeras, mas para que a inovação chegue até lá basta um agente de transformação. Imagino que em breve teremos que encontrar um termo que substitua a ficção científica de nosso vocabulário, pois quase todas nossas ideias hoje já podem ser materializadas. A tecnologia atual pode nos ajudar tanto à realizar atividades de uma nova maneira, quanto para Neil Harbisson perceber se é um bom dia para se tomar sol.

E aí, curtiu? Veja mais

Neil Harbisson – “Eu ouço as cores”. Palestra na Ted 2012 (legendado em português).

Entrevista com o professor Iran José Oliveira da Silva – revista Avicultura Industrial, out/2012.

Plantas conectadas à internet com acesso a twitter e redes sociais

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