Entrevista com o graduando Thiago Menezes

Olá leitores do Portal Biossistemas, nessa publicação entrevistamos o aluno Thiago Menezes, graduando em Engenharia de Biossistemas pela Universidade de São Paulo, que possui diversos destaques acadêmicos e participações em atividades de empreendedorismo.

Olá Thiago Menezes, inicialmente muito obrigado por aceitar o convite de ser entrevistado pelo Portal Biossistemas. Você poderia se apresentar para as pessoas que ainda não o conhecem? (Idade, curso, ano de ingresso na faculdade, previsão de formatura, gosto musical, esportes, idiomas…).

Thiago Menezes, em seu primeiro intercâmbio, visitando a ponte Golden Gate, San Francisco-CA.
Thiago Menezes, em seu primeiro intercâmbio, visitando a ponte Golden Gate, San Francisco-CA.

Oi pessoal do Portal Biossistemas. Primeiramente obrigado pela oportunidade de falar e parabéns pelo trabalho de vocês. Bom, eu nasci no século passado (rs), e tenho 24 anos; quando ingressei em Engenharia de Biossistemas, tinha 19, em 2009. Minha previsão de formatura é para esse ano (2014), se tudo der certo! Eu participei da colação de grau das turmas 01 de EB e Med. Vet., mas diploma mesmo só ano que vem, depois de ter defendido meu TCC e estágio curricular. Não tenho pressa, embora, é claro, com o passar do tempo na Faculdade, a gente se “cansa” do mesmo esquema (aula, prova, trabalhos etc.) e já começa a ansiar por uma experiência profissional. 

Quanto à música, essa é uma boa parte da minha vida. Eu venho de uma família de músicos, meu avô e os primos dele tinham uma orquestra, minha mãe tocou piano por anos a fio. Desde que eu me lembro, tinha música em casa. Eu me arrisco no violão e no piano, mas meu gosto mesmo é o canto. Ultimamente com a faculdade atropelando a vida (rs), não dá tempo de curtir nada, mas tenho planos de voltar à ativa assim que me graduar. Acho que gosto musical é algo bem singular. Eu não gosto de um gênero específico, mas também depende bastante da ocasião. Por exemplo, de manhã gosto mais de ouvir um rock ou pop-rock para acordar e começar o dia. Depois do expediente, algo mais sossegado. No churrasco com os amigos, um MPB, samba, samba-rock ou até uma eletrônica. Quando você gosta de música, cada gênero tem algo a acrescentar, é difícil falar que só ouve uma coisa.

Em esportes, tenho mais habilidade no vôlei, sempre fui perna de pau no futebol, mas quebro o galho. Na piscina, eu ganhava a maioria das vezes. Meu irmão é faixa-preta em judô, mas eu, apesar do apelido, nunca passei da primeira aula. Assim como a música, o esporte foi esmagado pelos meus oitavo e nono semestres, infelizmente. Eu pretendo voltar a nadar e jogar depois da Faculdade, porque, realmente, não dá para ficar parado.

Quanto a idiomas, meu primeiro contato com o inglês foi quando eu ainda era pequeno. Um dos meus irmãos é treze anos mais velho que eu, então quando ele começou a estudar inglês, eu ainda era criança. Ele me ensinava algumas coisas, e eu comecei a traduzir os jogos do videogame para entender as missões de cada fase. Naquela época, sem computador ou internet, a única coisa que existia era o dicionário. Eu me lembro de uma vez anotar no caderno que “is” era “é” em português. Acho importante começar a aprender, quanto antes possível. Não é porque os intercâmbios precisam, ou porque os professores passam artigos em inglês, ou porque tem aquele teste nos processos seletivos de estágio no último ano. Nós precisamos falar outra língua porque são cada vez mais próximas as fronteiras entre um povo e outro. Hoje eu tenho amigos da época do intercâmbio nos EUA e na Áustria, e aí? Só na base do inglês mesmo. Na Europa, a maioria dos países fala nativamente duas línguas. Aqui no Brasil, nós estudamos inglês e espanhol na escola, e olha lá, é “só para passar no vestibular”. Chega a ser irônico, visto que na América Latina só nós não falamos espanhol. Eu continuo dando uma lida em inglês, mas foquei no alemão ultimamente, por causa das indústrias fornecedoras que ficam naquela região. Dizem que uma vida inteira é pouco tempo para aprender alemão, então melhor começar já né? Bem difícil (rs).

Qual foi a sua trajetória dentro da faculdade? isto é, por quais laboratórios você passou, quais foram suas pesquisas/trabalhos e atividades extra curriculares mais destacáveis?

Thiago Menezes e seus amigos assistindo um jogo de futebol americano, em Champaign-IL.
Thiago Menezes e seus amigos assistindo um jogo de futebol americano, em Champaign-IL.

Durante a graduação, eu tentei contribuir da melhor forma possível com as causas das quais eu participei e pude conhecer melhor as pessoas que hoje são meus melhores amigos e amigas. Acabei participando de (quase) tudo: empresa júnior, atlética, iniciação científica, monitoria, intercâmbio e representação discente, só não passei mesmo pelo C.A., mas sempre tive amigos lá dentro, e acabávamos trocando uma ideia. Eu comecei a estagiar em um laboratório no primeiro ano mesmo. Em setembro de 2009, comecei a trabalhar no Laboratório de Nanotecnologia do Prof. Andrés e lá fiquei. Aprendi muita coisa. Quando eu entrei, não fazia ideia o que era nanotecnologia ou biossensores, muito menos como era o dia-a-dia da pesquisa na área de Ciência dos Materiais. Com o tempo, fui pegando prática, o pessoal de lá é bastante acolhedor e prestativo. Acabei me familiarizando com as técnicas de síntese e caracterização de materiais, as várias espectroscopias e microscopias que existem, os diversos tipos de materiais, as formas de processá-los e, o mais importante para mim como engenheiro, as aplicações de cada classe. Recomendo imensamente o laboratório para todos os colegas do curso que tenham uma inclinação à área de materiais, nem que for apenas por um semestre, vale a pena! Para quem se interessa, é legal já ter cursado ou estar pelo menos cursando a disciplina de Ciência dos Materiais (3º ano). Por um lado, às vezes eu penso que poderia ter conhecido o trabalho de outros professores em seus laboratórios, mas toda escolha é uma renúncia, certo? Eu sempre busquei manter uma boa relação com todos os professores e ficar por dentro das suas pesquisas, dessa forma, eu acabava enxergando formas de aplicar, em outros problemas, o que eu aprendia no meu laboratório. Esse exercício de criatividade é uma boa para qualquer engenheiro.

 Por que você escolheu cursar Engenharia de Biossistemas? 

Ah, essa estória é engraçada. Eu me formei em 2007 e em 2008 estava estudando na Unicamp cursando Tecnologia da Informação. Eu não me via seguindo o estilo de vida daquela profissão a acabei largando o curso. Voltei para casa e comecei o cursinho à noite. Foi meu melhor ano, eu fazia meu próprio horário, tinha meu próprio ritmo, fazia atividades durante o dia e estudava à noite. Quando chegou a hora das inscrições para os vestibulares, eu não sabia qual engenharia escolher. Deixei a USP por último, e me inscrevi em engenharia mecânica na Unicamp, engenharia química na UFSCar e engenharia ambiental na Unesp e na UFABC. Na Fuvest, eu pensava em colocar engenharia ambiental na EESC. Numa sexta-feira, saindo com o pessoal do cursinho, conheci a namorada desse amigo que estudava comigo. Ela cursava engenharia alimentos na FZEA e era de Leme também. Contando da minha indecisão, ela acabou falando que a FZEA estava abrindo um curso novo, que ela não sabia muito a respeito, mas que parecia legal. Eu não encontrei uma notícia a respeito. Fui para São Paulo na Feira de Profissões da USP e conversei com uma professora, que me deu o discurso pronto do curso: “Estudar, desenvolver e implantar soluções tecnológicas para dar suporte à produção de alimentos, materiais e energia, aumentando a produtividade de forma sustentável.” Parecia a profissão das profissões.

Graduandos do curso de Engenharia de Biossistemas visitando a Usina Hidrelétrica de Itaipu.
Graduandos do curso de Engenharia de Biossistemas visitando a Usina Hidrelétrica de Itaipu.

Preenchi minha ficha da Fuvest, fiz as provas e esperei os resultados. Eu passei em todas e não sabia qual escolher. Todas eram boas, mas eu tinha que me decidir. Acabei optando pela FZEA pela proximidade e pelo pioneirismo.

Quais eram as suas expectativas iniciais e qual é a sua visão dessa graduação atualmente?

Eu imaginei que um curso que não existia, mas que tinha o respaldo da USP, ofereceria muita oportunidade de crescimento, ao passo que, em um curso cujo programa já estava consolidado, talvez fosse mais difícil criar algo novo. Em partes essa visão se confirmou, em partes não. Ninguém nunca mencionou os problemas e dificuldades que nós encontraríamos pela frente, e não foi fácil. Depois das disciplinas básicas, a minha turma teve a maioria das aulas com professores que não foram contratados para aquele assunto, mas estavam ali suprindo a falta de outros profissionais. Foi assim com termodinâmica, circuitos elétricos, eletrônica, elementos de máquinas. Depois vieram as disciplinas que precisavam de um laboratório, e, sem prédio ou sala de aula, a gente chegou a ter aula no laboratório de alguns professores, e até mesmo *fora* dos laboratórios, em alguns casos. A essa altura, as outras turmas já começavam a chegar ao campus, e parece que tudo foi feito mais às pressas ainda. Também tem a questão das disciplinas, algumas parecem sobrar na nossa grade, enquanto outras fazem bastante falta. Eu compartilho da opinião de alguns colegas do curso de que algumas das disciplinas que mais saltam aos olhos, quando cursadas, ficam a desejar, se não total decepção. Eu levanto todos esses pontos porque acho que a única forma de ir para frente é não varrê-los para baixo do tapete. Por conta do meu perfil, do laboratório em que estagiei, dos amigos mais próximos e meus intercâmbios, acabei me especializando na área de materiais e fui me distanciando da veia “agro” do nosso curso. No entanto, eu acredito que o curso tende a crescer sim. Há algumas forças que agem sobre esse crescimento e, em minha opinião, o segredo para consolidar o programa (e com qualidade) é entender essas forças e agir sobre elas. Por exemplo, pensar em formas de atrair mais vestibulandos, diminuir a taxa de evasão (que é bem alta), unificar ementas de disciplinas, estreitar a relação com a iniciativa privada, trazer ex-alunos periodicamente para conversas etc. Eu acredito que quando todos esses departamentos forem nutridos e olhados com cuidado, a Engenharia de Biossistemas da USP vai exponencialmente ganhar renome, fama.

Você já participou de intercâmbio(s)? Quais as principais atividades que você desenvolveu fora do Brasil? 

Thiago Menezes apresentando alguns projetos de pesquisa futuros do Laboratório de Nanotecnologia, em San Diego-CA.
Thiago Menezes apresentando alguns projetos de pesquisa futuros do Laboratório de Nanotecnologia, em San Diego-CA.

Já. Participei de dois intercâmbios. Um em 2011, de 6 meses, para a Universidade de Illinois em Urbana-Champaign (UIUC), no então programa CAPES/FIPSE; e em 2013, por 2 meses, para a Universidade da Califórnia em San Diego, no programa Bolsa Empreendedorismo da Agência USP de Inovação. Os dois foram bem diferentes, tanto na proposta do intercâmbio quanto em relação à minha maturidade para sair do país. No primeiro, para Illinois, o processo foi assistido do começo ao fim, nós fomos conduzidos e amparados o tempo todo. O acordo de cooperação foi firmado dentro de outro acordo entre a CAPES (Brasil) e FIPSE (EUA), que são agências de formação de recurso humano com ensino superior. Do nosso lado, tinha a USP-FZEA, o pessoal da UFLA e da UFV; e do lado de lá tinha UIUC, Purdue e Kentucky, então qualquer aluno de uma das três brasileiras poderia ir para qualquer uma das três americanas. Antes das inscrições, a delegação americana veio nos visitar na FZEA, com alunos da UIUC e professores dessa e da de Purdue. Foi uma semana de festa, praticamente. Nós nos conhecemos bem e todo mundo se animou para prestar o intercâmbio. Se não me engano, tinha 11 inscritos na primeira etapa (o teste de inglês). E veja bem, esses 11 equivalem à minha sala toda na época, então foi todo mundo mesmo. Do teste para frente só passaram 6, e depois na análise de currículo e entrevista (em inglês!), 4. Como a remessa era de 6 bolsas para a FZEA, sobraram duas vagas. Isso causou bastante confusão, porque o programa não previa que os engenheiros de alimentos pudessem participar, tanto é que ninguém da Engenharia de Alimentos se inscreveu para o teste de inglês. Com a mudança de regra no meio do campeonato, o processo todo foi feito às pressas e, no fim, duas engenheiras de alimentos passaram. Nós 6 nos preparamos durante os meses que se seguiram, sempre juntos. Toda a interminável papelada, a entrevista no consulado, compra de passagens, busca por moradia etc. Pegamos o mesmo avião e desembarcamos nos EUA. Daí até os seis meses seguintes, foram só experiências memoráveis. Se eu fosse contar todas aqui não teria espaço, mas além de frequentar as aulas, estudar assiduamente para os homeworks e exams, ir para um congresso internacional em Boston, na área de materiais, para realizar uma apresentação referente a uma publicação minha, também pude me divertir muito, viajando no feriado do Thanksgiving e convivendo com a cultura americana. Minha viagem de Thanksgiving foi um road trip pela Califórnia com um bando de austríacos que falavam mais alemão que inglês, mas também são as minhas melhores memórias. Nós vimos o pôr-do-sol de cima da Golden Gate, em São Francisco; fomos em uma balada xis por recomendação do taxista (era a única casa noturna aberta numa segunda-feira) e, acredite, tinha brasileiros no meio da festa (brasileiro atrai brasileiro, é impressionante). Nós dirigimos pela Califórnia 001, uma rodovia costeira que tem o Oceano Pacífico como paisagem. Fomos para Las Vegas, e muito mais. Sobre a cultura americana, meus amigos e eu  íamos aos jogos de futebol americano, festinhas da universidade, festas das fraternities, shows e concertos, teatros e mil coisas. Acho que, para mim, algumas coisas que marcaram foram: uma festa em uma fraternity, nós não sabemos como chegamos lá, nem como voltamos. Também no dia de Halloween teve um show do ZZ Top e Lynyrd Skynyrd em uma mega arena por míseros 30 dólares, e depois nós saímos todos fantasiados de zumbi para as festas. No dia seguinte, meus amigos me deram uma festa surpresa de aniversário em um Pizza Hut; acho que todos os brasileiros da UIUC estavam naquele Pizza Hut naquela noite, umas 40 pessoas, não tem como esquecer.  Voltei mais cedo para o Brasil e passei o Natal com a família, mas meus amigos ficaram lá. O pessoal da UIUC nos chamava para conversar regularmente, eu posso dizer com segurança que em momento nenhum nós ficamos perdidos. A proposta desse intercâmbio era flexível, nós podíamos escolher as aulas a que íamos assistir e podíamos ou não fazer estágio. Eu optei por cursar disciplinas da área de materiais, fugindo (de novo) um pouco da proposta “agro”, mas creio que foi para melhor (eu consegui equivalência da disciplina na FZEA).

Grupo de austríacos, espanhóis, italianos, belgas, noruegueses, australianos e um brasileiro (Thiago Menezes).
Grupo de intercambistas  austríacos, espanhóis, italianos, belgas, noruegueses, australianos e um brasileiro (Thiago Menezes), todos da UIUC.

Já em San Diego, eu era mais velho e não fui para assistir às aulas. O intercâmbio também era mais curto (dois meses) e foi durante o verão americano. Estar em San Diego, na capital americana do surf, e ainda mais nessa época foi muito bom. Nesse intercâmbio, eu organizei tudo por conta própria, fui atrás do contato, do laboratório, escrevi a proposta de projeto, enviei toda a documentação para a Agência USP de Inovação, providenciei passagem, moradia, tudo. Chegando em San Diego, eu também tive que me virar. Como não era parte de nenhum programa de intercâmbio “formal”, não tinha uma comissão me esperando com tudo mastigadinho. Foi uma aprendizagem essa experiência. O curso também foi muito bom. Infelizmente eu peguei uma infecção e não aproveitei o finalzinho da viagem, mas fiquei me devendo de ver o Sea World e a Comic Con, que aconteceu bem na época em que eu estava lá. Tudo bem, um dia eu volto e refaço o itinerário. Aliás, recomendo San Diego! O que mais me marcou nessa viagem foi trabalhar em um laboratório onde tinha alunos de todos os níveis, do ensino médio (que nem entraram na faculdade ainda) até os pós-doc. E mais legal que isso, tinha pesquisadores de empresas consolidadas e também startups fazendo pesquisa ali, no mesmo laboratório, coisa que na USP não existe (até onde eu saiba!). Parece que aqui é até pecado falar que tem gente da iniciativa privada usando os equipamentos da universidade pública. Que pena, eu torço para que essa realidade mude.

Comemoração surpresa do aniversário de Thiago Menezes, organizado pelos amigos, no Pizza Hut. Champaign-IL.
Comemoração surpresa do aniversário de Thiago Menezes, organizado pelos amigos, no Pizza Hut.  “Essas eram só algumas  das pessoas que estavam lá”. Champaign-IL.

Gostaria de dar algum conselho aos alunos que estão indecisos sobre participar ou não de um intercâmbio estudantil?

Sem dúvida eu recomendo o intercâmbio para todos os alunos. Os dois intercâmbios que eu fiz cobrem todas as despesas, da passagem aérea até as mensalidades; se não fosse assim, eu não teria condições financeiras de ter viajado. O único jeito de conseguir isso é com mérito, estudando muito, fazendo atividades extracurriculares e falando o idioma do país de destino a um nível de intermediário para avançado. Na minha época, não tinha as facilidades de idioma que existem hoje na FZEA, as aulas de idioma na Seção Cultural eram só projeto. Também não existia o Ciência sem Fronteiras. Se você está indeciso sobre fazer um intercâmbio ou se durante a graduação é o momento certo, eis o que eu tenho a dizer: vá agora, senão depois você não irá. Sabe por quê? É só durante a graduação que você tem acesso a esses programas, sem contar que você não perde sua vaga na universidade (ela fica “em espera”), todos os custos são cobertos e tem alguém do outro lado te esperando. Se você quiser ir depois, vai ter que arrumar os próprios meios (físicos e financeiros), vai ter que se virar procurando algum lugar e faculdade que te aceite e provavelmente vai colocar seu emprego em jogo. Preocupado em “perder” um ano de faculdade? Concordo que ainda falta mais articulação na volta do intercâmbio, porque ficamos quase impossibilitados de assistir às aulas, mas mesmo assim, melhor se formar um ano depois com um intercâmbio no currículo e um inglês fluente que se formar na “data certa” com o currículo em branco, não acha?

Além dos intercâmbios, você participou de outras atividades extracurriculares? Como você avalia a importância dessas atividades como complementação para a formação acadêmica/profissional dos estudantes de Engenharia de Biossistemas?

Alguns dos alunos da primeira turma de Engenharia de Biossistemas, participando de um congresso em São Paulo.
Alguns dos alunos da primeira turma de Engenharia de Biossistemas, participando de um congresso em São Paulo.

Sim. A resposta a essa pergunta vai a favor do que eu falei na anterior. O máximo que você puder fazer durante a faculdade, que não ponha sua saúde física ou mental em jogo, sua ética e moral ou qualquer que não seja coisa errada, faça (rs). De novo, sabe por quê? Nós temos a impressão de que durante a graduação nós formamos uma estreita rede de amigos que vão nos acompanhar para o resto da vida, mas já foi comprovado cientificamente que, durante a vida, nós vamos ter cinco grandes amigos. A julgar pela nossa pouca idade, muita coisa ainda vai acontecer. Mas eu digo isso justamente pelo contrário: experiência! Se o seu colega que só sai da casa dele para a aula e volta acha que está certo, respeite, mas ele não está. Participando das EJs, da Atlética, do C.A. ou das várias agremiações que estão pipocando pelo campus, você conhece pessoas fora do seu curso, da sua sala, da sua rodinha de amigos; você passa por situações engraçadas, apaixonantes, memoráveis, às vezes desconfortáveis, indesejáveis; você aprende a respeitar prazo, entregar resultado, cumprir o prometido; aprende a dialogar, saber ouvir, mas também saber se impor quando for preciso. A lista é longa, mas as coisas que você aprende durante essa época NÃO são ensinadas na sala de aula e são as características que, justamente, vão te destacar na hora do processo seletivo (seja para estágio, trainee, emprego, intercâmbio ou pós-graduação). A maior parte da nossa linguagem não é verbal, muito se percebe de uma pessoa pela expressão corporal e pela índole. E a inteligência emocional? Conta mais que as suas habilidades técnicas hoje em dia. Nós não temos aulas de “Introdução à Expressão Corporal” ou “Fundamentos de Inteligência Emocional” na Engenharia, temos? Temos, chamam-se agremiações. Então, vá lá fora, dê a cara a tapa, perca umas batalhas e ganhe outras. É a vida. Parece duro ler isso se você está no primeiro ou segundo ano, mas eu também era assim, é natural. Com o passar dos anos, o curso só dificulta (isso é verdade!), os prazos apertam e o volume de trabalho só cresce. O oitavo e nono semestres são o chefão da Engenharia de Biossistemas. Do quarto ano para frente já começa a ficar impossível fazer outra coisa que não seja… estudar. Então, já no primeiro ano se envolvam em alguma causa na qual vocês acreditam e sigam em frente. Se não der certo, muda que não dói e é de graça, sem medo, sem ressentimento gente. Estamos aqui para aprender. Leiam os jornais e as entrevistas de ex-alunos, vocês vão ver que eu estou falando a verdade: são essas agremiações que fazem diferença na sua vida. Verdade.

 É verdade que você está prestes a abrir a sua própria empresa? Poderia explicar um pouco mais sobre a sua empresa, e quais foram as etapas para chegar a essa grande conquista?

É verdade que eu sempre QUIS abrir minha própria empresa, agora se eu vou conseguir abrir ou não são outros quinhentos (rs). Brincadeiras à parte, algumas coisas me ajudaram. Primeiro, uma questão de perfil. Decidir enveredar no empreendedorismo é uma escolha bem pessoal: ou você quer porque você é assim ou você não quer mesmo. Não tem como alguém te convencer, nem a ser empresário, nem a desistir de ser um. Que perfil é esse? Você enxerga oportunidade onde os outros veem dificuldade, você pensa nos problemas em termos de “o que eu posso fazer melhor que o que já existe?”, você gosta de experimentar tudo novo antes que os outros experimentem (um early-adopter), você fica descontente rápido com atividades rotineiras ou com ambientes que não te dão espaço para ser criativo ou tentar fazer coisas velhas de um jeito novo, você gosta de ter alguma autonomia, mas ter o respaldo de alguém; você também tem que ter ambição (moderada). Tem mais características, mas vamos ser sucintos aqui no blog (rs). Depois, você precisa de umas ferramentas mais técnicas: aprender a fazer um plano de negócio, desenvolver uma boa oratória (capacidade de comunicar uma ideia, ser persuasivo, saber argumentar), encontrar boas fontes de informação, encontrar fontes de investimento. Ter uma boa ideia é só o começo, há toda uma estrada que você precisa trilhar da concepção da ideia até o produto chegar ao mercado. Eu só estou no comecinho, então também não posso falar muita coisa. Eu vou falar do que eu já fiz até agora.

Você também possui perfil empreendedor?
Você também possui perfil empreendedor?

Eu sempre trabalhei com nanotecnologia. Para quem não sabe, nanotecnologia é um conjunto de técnicas e ferramentas que permite trabalhar com a matéria na escala dos 100 nm (10-9m), isso é um bilionésimo da espessura do seu fio de cabelo (!). Não é nada recente, existem produtos de nanotecnologia desde a época dos babilônios, egípcios, depois os chineses e também na Idade Média. Também não é nada tóxico, a humanidade respira produtos nanotecnológicos desde que o primeiro vulcão entrou em erupção. Por outro lado, também não é nada ultra tecnológico: tem nanotecnologia na comida que você come, no seu protetor solar, na cera do seu carro, na raquete de tênis, no seu ar condicionado e por aí vai. Se é algo tão antigo, inofensivo ou simples, porque se fala tanto nisso? Porque só de uns tempos para cá nós aprendemos a arranjar os átomos e moléculas da forma que queremos; até então era um processo desconhecido, dava certo, mas ninguém sabia por que. Com o surgimento dos microscópios eletrônicos, nós começamos a conseguir “ver” os átomos individualmente (!). E depois disso, começaram as pesquisas com materiais sintéticos estranhos: você já ouviu falar nanotubos de carbono, grafeno ou quantum dots? Pois é, essa é a “nanotecnologia moderna”. A ideia da minha empresa é aproveitar os desenvolvimentos desses materiais e aplicar na indústria brasileira. Produtos com aditivos nanotecnológicos conseguem ter propriedades como anti-abrasão (sabe o vidro do seu celular que não risca?), anti-corrosão, anti-micróbios, anti-UV, anti-reflexo, repelente à agua, poeira ou gordura, e por aí vai. Nosso país é a 5ª maior indústria química, mas ainda assim muita coisa é importada. Na indústria de revestimentos e cerâmica, também há muita oportunidade: éramos o maior produtor e estamos perdendo espaço para o Oriente Médio porque falta inovação. Em cosméticos, somos o maior produtor e consumidor desses produtos. Apesar da animação toda, ainda estamos trabalhando no plano de negócios e na proposta de valor, afinal não adianta fazer uma coisa super interessante que ninguém compra. Tem bastante oportunidade nesse meio para quem souber procurar e, se tudo caminhar como esperado, vai ser uma boa oportunidade de negócio.

 Quais as experiências da sua carreira, acadêmica e profissional, que você julga ser como as que mais contribuíram para a conquista desse reconhecimento da FAPESP?

A FAPESP tem um programa que chama PIPE – Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas. Eles buscam incentivar a contratação dos mestres e doutores para trabalharem nas empresas, e que as empresas façam pesquisa e desenvolvimento no Brasil. Isso tudo é para desenvolvermos tecnologias nacionais e começar a ser um pouco menos dependente de importação (de insumos ou tecnologia). Há uma política nacional para incentivar esse tipo de atitude, e a FAPESP segue essa linha. Eu escrevi um projeto PIPE ano passado e esse ano, depois de uma longa espera (que ainda não terminou), o projeto foi aprovado. Agora nós estamos analisando alguns itens da proposta e, se tudo caminhar para frente, vamos começar a ir atrás dos investidores e trabalhar na proposta de produto. Eu posso citar os pontos que mais chamaram atenção da FAPESP na minha entrevista pessoal. Eles citaram bastante o fato de eu ter sido presidente duas vezes de duas agremiações. A experiência contou muito. Outra coisa foi ter participado de um congresso internacional e ter feito iniciação científica na área. Acho que tudo que eu já respondi nas perguntas anteriores levou a isso. Daqui para frente eu pretendo me especializar mais, estou estudando Gestão de Projetos e Introdução ao Marketing online, e estou considerando fazer Administração como segunda faculdade. Depois, um dia, um Doutorado Direto em Engenharia de Materiais, mas por ora vamos com calma né, eu ainda sou novo e também quero aproveitar a vida.

Gostaria de compartilhar alguma frase/citação que lhe marcou?

Acho que Einstein foi bem verdadeiro quando ele disse “Não espere resultados diferentes fazendo as coisas sempre da mesma forma”. Cansei de ver exemplos durante a faculdade mesmo de pessoas repetindo os mesmos hábitos e esperando que uma luz divina viesse e mudasse as coisas. Sabe aquela história de que quem procura acha? Então, saia do lugar e vá atrás dos seus sonhos. Pedindo licença para mais uma, eu gosto dessa de Gandhi também: “Seja a mudança que você quer ver”. Eu acredito bastante nessa, sempre que eu quero mudar algo, eu começo por mim. Eu acho egoísta pedir que o outro pare de comer chocolate quando eu mesmo sou um chocólatra assumido (rs). É um exemplo bobo, mas extrapole isso para a vida e você será mais feliz!

O que você diria para um(a) aluno(a) de Engenharia de Biossistemas que está achando o curso muito difícil?

“O curso só dificulta, mas é você que tem que crescer e acompanhar essa evolução”.

Eu diria que esse(a) aluno(a) tem um senso de dificuldade muito apurado (rs), porque realmente esse curso é muito difícil. Se você espera que vá ficar mais fácil, reles sonho seu. O curso só dificulta, mas é você que tem que crescer e acompanhar essa evolução. No fim das contas, você aprende a dar conta de tudo. Se você mantiver sua atitude de calouro até o fim da faculdade, então daí sim, cada ano vai parecer que será o seu último e você vai ficando para  trás, para trás. Sem citar nomes, mas nosso curso tem suas pérolas assim. Não seja mais um! Dedique-se. Faça perguntas durante a aula. Na pior das hipóteses seu professor não irá responder, mesmo que seja esse o trabalho dele, mas não vai te tirar um braço e você não vai perder a língua. Fale com seus veteranos, eles vão te zoar no começo, mas com certeza vão te estender a mão te ajudar com o coração aberto. Não viva sozinho na faculdade, peça ajuda e ofereça ajuda sempre que puder. E, acima de tudo, lembre-se que antes de ser um engenheiro de BIOSSISTEMAS, você é ENGENHEIRO, então é super importante você saber termodinâmica, resistência dos materiais, cálculo numérico, derivar e integrar, resolver equações diferenciais, modelar sistemas, física quântica e estrutura da matéria, porque essas e outras disciplinas você leva para vida. Se com 30 anos você resolver ser um engenheiro de (coloque uma especialização aqui), você pode! Antes de mais nada, você é um ENGENHEIRO da Universidade de São Paulo, faça por merecer, por favor.

Por favor, caso deseje falar sobre algo que não foi perguntado, esse é o momento:

Acho que eu pude mostrar um pouco mais sobre mim e sobre o empreendedorismo dentro do nosso curso. Apesar de eu ter seguido um caminho não muito tradicional, tem muita coisa na área “agro” que ainda precisa de solução e seria uma boa o pessoal que tem um perfil empreendedor se levantar, se destacar e ir atrás disso. Eu fico à disposição para qualquer pessoa e qualquer dúvida, é só me procurar. Obrigado novamente pela oportunidade e parabéns pelo excelente trabalho de vocês.

 

Assim terminamos mais uma entrevista com esse aluno de destaque: Thiago Menezes. Muito obrigado Thiago por conceder essa entrevista ao Portal Biossistemas e parabéns pela sua trajetória vitoriosa, desejamos sucesso a você e sua (futura) empresa!

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