Aconteceu na FZEA: Diálogos Biossistemáticos

Texto por: Lisiane Brichi e Matheus H. Paes.

Aconteceu na FZEA no último dia 26/08 mais uma edição dos Diálogos Biossistemáticos, contando com a presença dos professores convidados Murilo M. Baesso e Rubens A. Tabile para discussão do tema “Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento”.

Abertura dos diálogos. Foto: Thaís Maurin (Biossistec Jr.)

O evento teve início com rápidas apresentações pessoais de ambos os professores, seguidas de uma introdução ao tema do encontro. Em um breve histórico apresentado foi exposto que o sensoriamento remoto surgiu para fins militares, assim como grande parte das tecnologias às quais temos acesso hoje, principalmente com o caso mais popular – a crise dos mísseis em Cuba (1962), no período da guerra fria. Com o acesso a essa tecnologia pela sociedade seu uso teve uma grande expansão, sendo a mesma aplicável para monitoramento de desmatamentos em tempo real, rotas de fenômenos climáticos extremos – o que possibilita a remoção de pessoas de áreas de risco em tempo hábil – estratégias de ocupação de determinado local, localização de pessoas e veículos, dentre outros.

Na agricultura, seus usos mais frequêntes tem sido associados à Agricultura de Precisão (AP), de modo a indicar áreas com deficiências nutricionais, doenças e pragas, estresse hídrico e distinção de características do solo (pela reflectância das plantas ou vegetação de cobertura), além de se conseguir fazer levantamentos topográficos.

Contamos hoje com certa facilidade para executar o sensoriamento remoto. Algumas empresas enxergaram essa tendência no mercado e oferecem serviços de monitoramento/imagens aéreas. Mesmo através do Google é possível dar uma espiada em como está a propriedade ou adquirir imagens de alta resolução por satélite.

As dificuldades existentes

Para o professor Rubens A. Tabile, apesar de todo o avanço tecnológico, novos paradigmas no campo e de crédito rural com taxas convidativas para aquisição de sistemas sofisticados, a maior dificuldade ainda consiste em gerir todo o volume de dados gerados pelos sistemas e analisá-los corretamente em sua variabilidade, pois grande parte dos produtores não domina a tecnologia que o mercado oferece e ainda carecemos de especialistas para suporte nas propriedades rurais. Assim sendo, problemas a mais são gerados ao produtor, pois perde-se tempo tentando compreender o funcionamento do sistema e até o dinheiro investido – caso não se tenha sucesso na empreitada.

Muito se fala à respeito do conservadorismo dos pequenos e médios produtores rurais na adoção de novas técnicas e ferramentas. Um equívoco, pois estes no papel de empreendedores da terra assumem riscos moderados, procuram se informar sobre as tendências e experimentam tecnologias. Entretanto, por vezes este é um grande conhecedor de sua propriedade e da natureza, sabendo onde existe variabilidade da produção em sua área, do comportamento de seus animais apenas pelos barulhos emitidos, da infestação de pragas por talhão, sem que para isso seja necessário o uso de sensores ou de imagens para lhe dar essa informação, conforme destacou o professor Fabrício Rossi em sua fala.

"Convivemos com a cultura de supor que um recurso novo ou a mais poderá ser a solução para um problema", afirma o professor Rubens Nunes. Foto: Thaís Maurin (Biossistec Jr.)
“Convivemos com a cultura de supor que um recurso novo ou a mais poderá ser a solução para um problema”, afirma o professor Rubens Nunes. Foto: Thaís Maurin (Biossistec Jr.)

Para o professor Rubens Nunes (doutor em Economia), também presente nos Diálogos, deve-se, sobretudo entender qual o negócio – em outras palavras, onde interferir no processo. Se o produtor, com suas técnicas e conhecimentos, persiste na atividade há tanto tempo, é porque entende que os processos e a oferta de uma nova tecnologia (por vezes que faça algo que não podemos, substitua ou facilitem o trabalho humano) podem ser a solução para um problema marginal apenas, não sendo observados ganhos ou mudanças efetivas. Entretanto, o que ainda não percebemos é que o “agricultor tem aversão aos riscos, e por esta razão é necessário ter a dominância plena da tecnologia vendida”, com as palavras do professor.

Explorando novos caminhos

Na abertura de sua fala o professor Celso E. L. Oliveira exemplificou o caso da caneta da NASA, história a qual supõe que a agência espacial americana investiu milhões de dólares para desenvolver uma caneta que funcionasse no ambiente de gravidade zero. Simplificando a operação, os astronaltas Russos escreviam à lápis. O professor levantou também a seguinte questão: o Brasil precisa hoje de lápis ou de caneta?

Uma vez que os pequenos e médios produtores possuem conhecimento de sua propriedade, não seria mais interessante ensiná-los o porquê da variabilidade espacial em sua propriedade, ensinando-os a fazer manualmente os mapas de produtividade para gerar informações mais simples de se entender? Será que a transição direta entre as anotações de lápis e papél, com os conhecimentos empíricos adquiridos ao longo de anos de observação, para sistemas de aquisição de dados sofisticados é o caminho? Poderia haver ações de preparo visando o uso de novos sistemas?

Um exemplo muito interessante para o exposto é o da ação conjunta no monitoramento e combate ao psilídeo (praga que ataca o citrus) no Estado de São Paulo. Através da contagem do número deste inseto em armadilhas instaladas nas propriedades, define-se a necessidade de pulverização de pesticidas ou não, pela taxa de invasão do inseto. Em se fazendo necessário o controle, os produtores da região são avisados através de um sistema simples, em um site da internet. O monitoramento e coordenação das atividades ficam sob a responsabilidade de um único agente, a Fundecitrus.

"Drones são a bola da vez", afirma o professor Rubens A. Tabile. Foto: Thaís Maurin (Biossistec Jr.).
“Drones são a bola da vez”, afirma o professor Rubens Tabile. Foto: Thaís Maurin (Biossistec Jr.).

É certo que as tecnologias mudam com o tempo. Acredita-se que a atual onda de difusão de Vants, Drones e Quadcópteros (termos diferentes para dizer uma mesma coisa) seja apenas moda e que daqui alguns anos esta seja substituída outros meios, mais práticos e robustos. Os preços desses equipamentos oferecidos no mercado devem cair e a variedade de aplicações aumentará. Porém, de certo o que não muda nem se barateia é a inteligência aplicada à construção dessas tecnologias. Como o próprio professor Murilo M. Baesso disse, “Tecnologia agrícola existe para todos, mas nem sempre é adequada”.

 E você leitor, para onde acha que vai o georreferenciamento na agricultura? Queremos sua opinião!

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