Cidade sustentável: Futuro ou Presente?

Ilustração
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Vitor Nejar Badu Mahfud de Oliveira – Graduando em Engenharia de Biossistemas (12/11/2014)

A constituição de cidades na antiguidade tinha como objetivo centros de comércio e fortificações contra ataques militares. Nessa época, as aldeias se iniciaram às margens de rios, próximas à recursos naturais em abundância e onde havia clima e geografia favoráveis ao desenvolvimento. Com o rápido crescimento populacional e a saída do homem do campo, tais aldeias começaram a se transformar em vilarejos e então as chamadas “polis” nasceram.

Uma polis desenvolve-se através do esforço coletivo de sua população. A história de uma cidade, suas relações econômica, políticas e religiosas nascem, e ao transcender o tempo, moldam um povo com culturas que só a vida em sociedade proporciona.

“ As cidades somente podem continuar a prosperar resguardando os recursos naturais, que são os pilares centrais de suas economias e da sua qualidade de vida. Cidades mal administradas contribuem cada vez mais com as severas preocupações ambientais globais.” (VECCHIA, 2010)

Na revolução industrial, quando o homem passou a introduzir a indústria e a mecanização nas lavouras, houve um processo chamado êxodo rural, o qual ocorre a transferência do núcleo produtivo do campo para as cidades. Entretanto, a migração em massa do campo para os centros urbanos desencadeia inúmeros problemas sociais, visto que tal população também carece de empregos, transporte, comércio, os quais muitas cidades não estão preparadas para tamanha mudança. Essas pessoas, muitas vezes despreparadas, acabam formando periferias, aumentando a desigualdade social.

Alguns centros urbanos cresceram tanto nas últimas décadas que ultrapassaram 10 milhões de habitantes, passaram a ser chamados de megacidades, como São Paulo, Xangai, Cidade do México, Londres. Segundo a ONU, o número de megacidades passou de duas, em 1950 (Tóquio e Nova York), para 20 em 2005. Em 2015 serão 22, sendo que 17 delas ainda em desenvolvimento. A cidade moderna, torna-se núcleo da economia, informação e serviços.

Em 2015, estima-se que 400 milhões de pessoas estarão vivendo nessas megacidades. Entretanto, como no passado, consequências da urbanização acelerada aumentarão a demanda de energia, água, transportes, saneamento básico. O que nos faz refletir se há soluções para tal contexto.

O conceito do êxodo rural carrega consigo a busca de melhores condições de vida. Quando ocorre a migração, as pessoas vão às cidades com a expectativa de melhor trabalho remunerado, fuga de desastres naturais como geadas, secas e enchentes, busca por qualidade de ensino, segurança familiar, e infraestrutura dos serviços básicos. É de fato louvável, pois todo cidadão merece tais direitos básicos. Entretanto, o questionável é se a migração resolverá o problema, tendo em vista que pessoas de centros urbanos também buscam tal qualidade de vida, e muitas vezes não o encontram. Nesse contexto, o Estado deve adotar medidas com uma reforma agrária justa, a fim de frear o êxodo rural e evitar a supersaturação dos já degradados grandes centros urbanos.

Esse cenário traz a reflexão do conceito ecocity- cidades construídas com plano diretor voltado à sustentabilidade ambiental e autossuficiência. Onde a água é tratada e reutilizada de forma racional. Onde a energia é produzida de forma renovável, através de usinas fotovoltaicas ou eólicas. Onde todo o lixo produzido é reciclado e reutilizado. Onde qualquer outro obstáculo é solucionado de forma racional, pensando sempre em gerações futuras e na renovação de recursos.

Ilustração II
Ilustração II

Entretanto, ainda não existem cidades inteiramente sustentáveis no mundo. Projetos como Masdar, nos Emirados Árabes, está prevista para 2016 e orçamentada em 22 bilhões de dólares, prevê a produção zero de carbono e de lixo. A energia produzida será através de usinas solares e a água será dessalinizada. A temperatura média é de 50ºC, a refrigeração será feita com hidrogênio e todos os transportes serão elétricos.

A China detém o recorde das 16 cidades mais poluídas do mundo. Em virtude disso, também possui projetos complexos de cidades totalmente sustentáveis. Como Dogtan e Tianjin, os quais abrangem inovações como casas que regulam automaticamente consumo de energia, pomares e hortas comunitárias integradas ao meio urbano, sistemas coletores que separam o lixo reciclável.

Embora, para alguns autores, a definição de cidade sustentável não sairá do papel, uma vez que para tal, deverá existir complexos urbanos que não dependam, para nada, de fatores externos, o que inicia uma contradição. Já o termo sustentabilidade, que aborda questões sociais, ambientais, culturais e econômicas, está ligado à autossuficiência e engloba a produção, consumo e eliminação de recursos no mesmo complexo.

Cidades ecológicas possuem medidas políticas que obtém o progresso junto ao meio natural. Em todo desenvolvimento deve haver em mente a proteção de recursos naturais, para gerações futuras poderem desfrutar dos mesmos.

O termo “Sustentável” vem sendo usado erroneamente. Atualmente, tem entrado para o setor da Construção Civil e para o discurso dos gestores de cidades. Portanto, como os obstáculos ambientais têm origem no modo de vida das pessoas e suas cidades, deve-se atingir tal mudança em nível global.  O fato é que viver de modo sustentável envolve muito mais do que usar energia solar ou banir sacolas plásticas. Devemos envolver mudança de estilo de vida, conhecimento, avanço tecnológico, evolução espiritual, e é onde projetos racionais e complexos têm tentado virar realidade.

Engenharia de Biossistemas
Engenharia de Biossistemas

Tendo em vista todos esses conceitos, o Engenheiro de Biossistemas possui a sustentabilidade em sua matriz, devendo atuar nesses próximos anos em todas as cidades sustentáveis. Tal intervenção, se resume em buscar aprimorar hortas comunitárias integradas nesses centros urbanos, produção de mini e micro geração de energia, podendo ser solar, eólica ou outra matriz renovável, criando novas tecnologias que auxiliem a interação entre o meio natural e o meio urbano e garantindo um volume de produção que atenda à população e respeite os recursos naturais para futuras gerações.

 

 

 

 

Referências:

VECCHIA, R- O Meio Ambiente e as Energias Renováveis”, Editora Manole, 2010.

http://theurbanearth.wordpress.com/2013/06/13/cidades-sustentaveis-dongtan-um-projeto-para-a-china/

http://www.institutocidadesustentavel.com.br/

http://www.cidadessustentaveis.org.br/

http://sustainablecities.net/

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