Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária

Por: Leonardo Magalhães, graduando em Engenharia de Biossistemas e Bolsista no Programa Aprender com Cultura e Extensão da USP. Orientado pelo Prof. Dr. Fabrício Rossi

Entre os dias 18 e 20 de Novembro, na EMBRAPA Instrumentação em São Carlos (SP), ocorreu o SIAGRO (Simpósio Nacional de Instrumentação Agropecuária). A primeira edição do evento ocorreu em 1996, sendo realizado novamente em 1998. Após 16 anos, a EMBRAPA realiza novamente o evento tendo em vista o destaque internacional do Brasil nesse setor e a necessidade de avanço em diversas questões na área; como reunir pesquisadores e aumentar os investimentos em pesquisas, fomentar a divulgação de inovações e aumentar a disponibilidade de cursos e treinamentos, aumentar a rede de contatos e superar os desafios do Brasil no que tange à competitividade e sustentabilidade do setor.

Mas e os Engenheiros de Biossistemas, o que tem a ver com isso? Para nos apresentar uma visão geral do que foi discutido no evento e apresentar uma perspectiva da participação do Engenheiro de Biossistemas nesse setor, trazemos uma pequena entrevista com o Prof. Dr Rafael Vieira de Sousa (currículo Lattes), do Departamento de Engenharia de Biossistemas na FZEA/USP, sobre o que foi discutido no SIAGRO.

1)    Qual sua principal área de pesquisa? Dentro dessa área, quais foram os principais pontos discutidos e as principais novidades apresentadas no SIAGRO?

Prof. Dr Rafael Viera de Sousa: Eu realizo pesquisa em sistemas computacionais inteligentes para automação e robótica aplicados à máquinas e processos em agropecuária, e coordeno, junto com o Prof. Rubens Tabile, o Laboratório de Robótica e Automação para Engenharia de Biossistemas da FZEA-USP (clique aqui para saber mais sobre o Laboratório: RAEB).

O SIAGRO 2014 foi um grande evento onde foram apresentados e discutidos temas de pesquisa e tecnologias de fronteira, ambos aplicados à agropecuária para permitir o incremento da produtividade e viabilizar a sustentabilidade dos processos de produção animal e vegetal tropicais. Entre esses temas eu destaco: nanotecnologia, fenotipagem, fertilização por liberação controlada, fotônica (radiometria e espectrofotometria) aplicada a plantas e solos, robótica agrícola móvel, aplicação de VANTs (veículos aéreos não tripulados) e sistemas de gestão aplicados à agropecuária. Observei que os diversos trabalhos apresentados e as rodadas de discussão estiveram fortemente permeados pelo aspecto ambiental de preservação do meio-ambiente em equilíbrio com o aumento de produtividade. Outro aspecto que permeou significativamente os debates e que foi fomentado pelo chair do evento, o Dr. Silvio Crestana da Embrapa Instrumentação, é a necessidade urgente de que as empresas privadas e instituições públicas de pesquisa trabalhem em parceria para que o Brasil prossiga evoluindo positivamente de forma a manter ou ampliar a competitividade da produção agropecuária nacional nos mercados internacionais.

2)    De acordo com o panorama demonstrado no evento, qual o papel que o Engenheiro de Biossistemas pode assumir dentro da Agricultura de Precisão?

Prof. Dr Rafael Viera de Sousa: A Agricultura de Precisão, assim como as tecnologias relacionadas a sua prática, foram bastante discutidas no evento. Seguindo uma tendência mundial, a Agricultura de Precisão foi abordada no evento como uma forma de gestão com base no conhecimento da variabilidade espacial e temporal da lavoura, que conta atualmente com um arcabouço significativo de máquinas, implementos, sensores, controladores eletrônicos e softwares que podem ser utilizados para aferir a variabilidade, para fornecer suporte à tomada de decisão e para o manejo no sistema de produção. Como mencionado pelo Prof. Dr. José Paulo Molin da ESALQ-USP em sua apresentação no evento, em um futuro próximo o termo Agricultura de Precisão já não fará mais sentido para diferenciá-lo de outras práticas tradicionais, pois se vislumbra que essa prática se tornará algo bastante comum. Nesse contexto, o papel do Engenheiro de Biossistemas é fundamental, tendo em vista que atualmente esse engenheiro é o único profissional que durante a sua graduação adquire conhecimentos e desenvolve competências não só para entendimento dos aspectos agropecuários de produção vegetal e animal, mas também para desenvolvimento e aplicação de tecnologias de máquinas, sensores, sistemas eletrônicos e softwares de instrumentação, automação e controle. Esse profissional é e será cada vez mais importante tanto para a pesquisa e para o desenvolvimento de inovações, como para atividades de empresas do setor agropecuário que busquem através da tecnologia e do conhecimento o incremento de produtividade associado à sustentabilidade.

3) Dentro do que foi visto nas apresentações do evento, quais áreas o Prof. destacaria como promissoras para os próximos anos no âmbito da agricultura de precisão?

Prof. Dr Rafael Viera de Sousa:  A curto e médio prazo o sensoriamento local e remoto, a automação e a robotização de processos e máquinas e as tecnologias de comunicação e informação continuarão evoluindo e se tornarão elementos cotidianos das atividades agropecuárias. Já é realidade de mercado, inclusive no Brasil, a utilização de sensores embarcados em máquinas e implementos, assim como em VANTs, para medida de vigor de planta, para medidas de parâmetros físicos e químicos do solo (ex. condutividade elétrica e PH) e para mapeamento de plantas invasoras e de produção. Está sendo utilizado também sistemas mecatrônicos de aplicação a taxa variada para aplicação de insumos ou para semeadura, que operam em conjuntos trator-implemento com piloto automático. A quantidade de informação gerada ou consumida por tais sistemas demandou a criação de um padrão para comunicação eletrônica para máquinas e implementos agrícolas e florestais, denominado ISO11783 (ISOBUS) e tem suscitado a pesquisa e o desenvolvimento de sistemas de gestão agropecuária conhecidos por FMIS (Farm Management Information System). A aplicação de sistemas robóticos em ambientes controlados (estufas) já é uma realidade e a pesquisa em robótica móvel para ambientes agrícolas abertos tem evoluído bastante nos últimos cinco anos dando origem a protótipos em operação criados por empresa e instituições de pesquisa. Além disso, como destacou o Dr. Ricardo Inamasu da Embrapa Instrumentação durante sua apresentação no evento, o conceito de Internet das Coisas avança em diversos setores e, em um horizonte não distante, chegará à agropecuária provocando, provavelmente, quebras de paradigmas em suas práticas.

Para saber mais sobre o universo tecnológico discutido no evento sugiro que consultem: www.cnpdia.embrapa.br/siagro/Agriculturainteligente.html

Agradecemos ao Prof. Rafael pela colaboração.

Prof. Dr. Rafael Vieira de Sousa, do Departamento de Engenharia de Biossistemas FZEA/USP.

Alguns dos temas discutidos pelo Prof. Rafael nessa entrevista já foram abordados em textos do Portal Biossistemas, mostrando que quem lê o Portal esta sempre atualizado com as novidades do setor. Veja alguns dos textos com esses temas abaixo:

Internet das coisas

ISOBUS

Robótica: Clique Aqui e Aqui