Que importância tem hoje sabermos o que se passou no século XIX até a Proclamação da República? A pergunta é retórica, evidentemente, e seria afastada com um piparote por todos os historiadores e amantes da cultura deste país. Mas o fato é que para entendermos o presente – e o presente é o século XXI – é necessário perceber o que aconteceu naquele tempo em que o país se consolidava como nação e começava a querer abrir os olhos para o seu próprio futuro. Assim, olhar para o Oitocentos é uma tarefa que pode trazer muitas indagações. Havia a questão escabrosa da escravidão, que só foi resolvida, para o bem ou para o mal (nos moldes em que foi feita), no ocaso do Império. Havia a própria questão interessante de não contarmos com um rei, mas com um imperador (imperadores foram Augusto, César, Napoleão, mas no nosso caso, malgrado a imponência da palavra, o foram também Pedro I e Pedro II). Havia a questão das revoltas – Minas, Bahia e Pernambuco.
Que Brasil era aquele que emergia da Colônia e começava a se desenhar no mapa e no coração dos patriotas (e dos não-patriotas)? Como se erigiu e ruiu, em menos de um século, o Império? Essas questões são fundamentais, pois trazem em si o esboço de tudo aquilo que viria mais tarde e atenderia pelo nome de República – que permanece viva até hoje. O que era a vida do brasileiro no século XIX? Mais: quem era o "brasileiro" (entre aspas mesmo, uma vez que o termo foi tão discutido semântica e socialmente falando)?
Para responder a estas e outras não menos importantes questões da vida brasileira no seu caminho rumo aos dias atuais, a Revista USP traz um dossiê com nove textos que debatem – com o olhar de hoje – o que foi aquele período histórico que, a exemplo da Colônia, pode parecer quase pré-histórico (visto de um ângulo modulado pela Internet e pela globalização). "Brasil Império" é a continuação do nosso número anterior, o "Brasil Colônia", que abriu uma fascinante discussão sobre o país e terá seu epílogo no próximo número ("Brasil República"). É inegável a qualidade do material disponível ao leitor nas muitas páginas que se seguem nessa seção. É inegável a qualidade dos articulistas que assinam cada um dos textos. Esperamos, nós da redação, que o dossiê traga tanto interesse ao leitor bem intencionado, como o trouxe para nós, que o trabalhamos e nos empenhamos para que ele sirva de guia seguro dentro de um período histórico fascinante para todos nós que pensamos cotidianamente o nosso país.

FRANCISCO COSTA

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