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Na apresentação do presente dossiê sobre os 90 anos da Semana de Arte Moderna, Lisbeth Rebollo Gonçalves, organizadora e maestrina da seção, começa dizendo que a Semana é um “fato histórico” com valor de “mito” para os brasileiros. A meu ver, acertou na mosca. Basta observar, para efeito de datação didática, que o grupo de literatos da segunda década do século passado é denominado genericamente por uma quase “negação”: geração pré-modernista (e olha que aí estão autores do porte de Lima Barreto, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos). A Semana de 22 foi, sim, um divisor de águas; foi, sim, uma tomada de posição verdadeira em que, se apontava para a frente na arte brasileira, ao mesmo tempo insinuava uma melancolia do passado – ou não foi gestado ali, por exemplo, o “Manifesto Antropofágico”? As artes plásticas (pintura e escultura à frente), a poesia, a prosa de ficção, a música, o teatro (este de forma mais velada), a arquitetura. Tudo posto de ponta-cabeça em três dias que, diga-se a verdade, abalaram o Brasil. Depois da Semana, o Brasil não foi mais o mesmo. Arrisco mesmo a dizer que, depois da Semana, os artistas que a idealizaram e a realizaram não foram mais os mesmos. É também verdade, olhando-se de luneta da Europa para o Brasil, que a Semana colocou o país no século XX. Seus artífices, na verdade viajantes que bebiam da água das vanguardas europeias, num gesto ousado, atrevido, em 72 horas puseram abaixo – melhor dizendo, enfiaram goela abaixo de uma plateia provinciana (passe o termo) – o conceito de arte, ou melhor, de grande arte. Pode-se dizer que os artistas que a patrocinaram eram aristocratas. Com toda a razão. Só não se pode dizer que eles estavam “errados” (passe a palavra tosca). Assim, o convite ao leitor, aqui, é que mergulhe numa incrível viagem dentro deste nosso imenso Brasil – o nome da viagem é Semana de Arte de 1922. Vista de hoje, já noventa anos passados, ela permanece incrível e continuamos a nos indagar: como ela foi possível? E mais: quem foram esses artistas afortunados que fizeram o Brasil saltar de patamar, tanto no plano da arte, como no plano próprio e revolucionário das ideias?
FRANCISCO COSTA
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