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Num conto ardiloso, imprevisível, bem ao seu estilo, o escritor argentino Jorge Luis Borges nos apresenta um personagem de impressionante memória, Funes, capaz de reconstituir integralmente os acontecimentos de um determinado dia de um determinado ano. Ou seja, ele levava exatas vinte e quatro horas para “reviver” exatamente tudo o que se tinha passado naquela data. Deixando de lado o fato de que o conto se inscreve dentro do gênero literário criado pelo autor, o realismo fantástico – pelo que ele ficou mundialmente conhecido – e também o fato de que a prodigiosa memória de Funes é completamente despropositada, não é menos interessante o fato de que o portenho tenha como uma das âncoras de sua literatura, como um todo, justamente a “memória”.
Pois é exatamente disso que o presente dossiê trata – memória – e o faz de duas maneiras bastante complexas. Uma delas trafega pela via da fisiologia e seus desdobramentos fascinantes e meticulosos. Ou seja, como se dá o processo da memória dentro do nosso organismo físico e até que ponto seus estudos estão avançados. E, por outro lado, como se dá o mesmo processo no terreno das humanidades – história, sociologia e antropologia à frente. Com o aprofundamento do que se convencionou chamar de memória cultural, a questão fundamental, que diz também respeito aos estudos da fisiologia é: até que ponto esses estudos estão também avançados?
O leitor encontrará aqui, dessa forma, um conjunto de textos de grande gabarito para conduzi-lo pelos intrincados caminhos da memória humana – não, não trataremos aqui da memória informática, dos computadores. Os panoramas descortinados pelos estudos ora apresentados, longe de serem exaustivos – e nem seria isso possível dentro do contexto da Revista USP –, nem por isso deixam de se inscrever como essenciais para o entendimento do que seja “memória” em seus múltiplos aspectos. Ouso dizer que é uma leitura indispensável sobre esse caro tema ao gênero humano. Assim, nosso agradecimento especial a Luiz R. G. Britto, que coordenou parte do material aqui dado à luz e que é fundamental. Como sabe o leitor, a Revista USP prima por sempre trazer – e desenvolver – temas de vigorosa importância da atualidade. Isso vale igualmente para este número, em todos os sentidos.
FRANCISCO COSTA
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