edição 7 | Janeiro-Junho de 2010
Editorial
Interstícios textuais: entre autoria e colaboração
Em seu quarto ano, RuMoRes chega à sétima edição confirmando sua vocação para a diversidade conceitual, a abrangência temática e a representatividade regional. Reunindo autores de diversas universidades brasileiras, com diferentes formações, a revista reafirma seu compromisso com a divulgação de pesquisas voltadas à cultura midiática atual em suas relações com os discursos e as narrativas nela presentes.

Nesta edição, destacamos as singularidades, buscadas desde o início, de uma revista online: hipertextualidade, interatividade e mobilidade. Tais características podem ser percebidas não apenas na concepção do site e nos modos possíveis de navegação, mas também nos textos publicados: a cada vez, mais recursos digitais são utilizados, como imagens, tabelas, links e infográficos. Nesse momento, gostaríamos de ressaltar essas especificidades e convidar os autores a contribuírem, cada vez mais, com textos que efetivamente possam utilizar os recursos que apenas uma revista digital possui – inclusive com inserção de arquivos em áudio e vídeo. A possibilidade colaborativa também se manifesta no aumento de textos escritos em parceria, perspectiva ainda incipiente no campo da comunicação e que, certamente, deverá passar por transformações.

De um conjunto de quinze artigos escritos por doutores, doutorandos, mestres e mestrandos, três integram o dossiê temático trazendo diferentes abordagens para pensarmos o jornalismo contemporâneo em suas articulações com as mídias digitais. Os textos de Pedro Celso Campo, Bruno Sodré & Solano Nascimento, e Rafael Foletto & Efendy Maldonado tratam, respectivamente, de jornalismo ambiental e empoderamento voltado a um grupo específico composto por adultos na terceira idade; do jornalismo público a partir de um contra-exemplo, o Jornal do Senado; e da mídia impressa brasileira na construção de representações do presidente Fernando Lugo por meio de entrevista realizada com o pesquisador Juan Díaz Bordenave.

As mídias audiovisuais são predominantes nesta edição e nos seis artigos de Alfredo Luiz Suppia & Cícero Inácio da Silva, Gustavo Souza, Marine Souto Alves & Cláudio do Carmo Gonçalves, Teresa Noll Trindade, Felipe Guerra e Eduardo Pires Christofoli. Nessa temática, temos reflexões sobre as propostas e possibilidades acerca de um cinema em grid no Brasil; a presença dos setores sociais vinculados diretamente ao contexto de marginalidade e violência urbana na produção de documentários brasileiros pós-1993; a leitura do documentário Edifício Master, de Eduardo Coutinho, a partir do conceito de representação desempenhada por nós mesmos na interação com o outro; a formação de um público especializado para os documentários brasileiros recentes; a análise do filme italiano Canibal Holocausto, dirigido por Ruggero Deodato, comparando a linguagem utilizada pela obra com as teorias cinematográficas de Sergei Eisenstein e André Bazin; e a tematização sobre como o cinema digital, principalmente em seu processo de pós-produção, contribui para a criação de novos imaginários. Notamos a presença marcante de debates sobre o gênero documental, presente em três artigos, e análises sobre a produção cinematográfica contemporânea.

No campo das mídias digitais, três artigos estabelecem diálogos com os demais textos, especialmente aqueles voltados ao audiovisual: Patrícia M. Pésigo & Maria Ivete Trevisan Fossá apontam as transformações provocadas pelas tecnologias da informação e da comunicação no contexto corporativo; Bruno Costa trata das zonas fronteiriças nas imbricações derivadas da nova relação de visibilidade nas videografias de si; e Agnus Valente apresenta contribuições teóricas para os estudos dos Métodos Heurísticos da Criação: a formulação dos conceitos de “hibridação intersensorial”, “hibridação intertextual-semiótica” e “hibridação interformativa”.

Encerrando esta edição, os artigos de Carolina Leal Pires, Silvana Polchlopek e Juliana de Assis Furtado tematizam, sob diferentes aspectos, os estudos de discurso e as teorias da narrativa. O primeiro texto busca identificar possíveis influências do pensamento de Mikhail Bakhtin na semiolingüística de Patrick Charaudeau; o segundo apresenta reflexões em torno de escolhas lexicais empregadas como estratégias de construção de sentido em textos jornalísticos na cobertura dos eventos ocorridos em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos; e o terceiro analisa campanhas publicitárias atuais por meio de suas estratégias persuasivas e retóricas.

Duas resenhas – uma sobre a obra A Bíblia e suas traduções, organizada por Carlos Gohn e Lyslei Nascimento, e outra sobre o livro Ctrl+Art+Del: distúrbios em arte e tecnologia, de Fábio Oliveira Nunes – foram escritas por Luiza Helena Gonçalves Caíres e Rafael Duarte Oliveira Venâncio, contribuindo, por meio de uma leitura crítica, para os debates ensaiados na revista.

Nos ruídos que circulam pelos intervalos desses textos, convidamos autores e público não apenas à leitura silenciosa dessas palavras, mas à efetiva participação por meio de comentários e outros olhares para as idéias que buscamos lançar a cada vez que novos RuMoRes são colocados em movimento.


Rosana de Lima Soares

junho de 2010

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