edição 9 | Janeiro-Junho de 2011
Editorial
Fronteiras midiáticas e diálogos narrativos
RuMoRes chega ao seu quinto ano com a publicação da edição de número 9. Sua abrangência conceitual e temática encontra na conexão entre os campos da arte e da comunicação uma frutífera possibilidade de debate sobre as dinâmicas próprias da linguagem. Na presente edição temos, compondo a rubrica Especial, a circunscrição dos debates em voga na área dos meios e processos audiovisuais, com textos selecionados para publicação a partir da I Jornada Discente do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP, realizada em novembro de 2010.

Dentre eles, pensando perspectivas de teorização sobre os meios temos os trabalhos de Sônia Barreto de Novaes Paschoal, estudando na cidade de Piracaia o exercício de mediação entre local e global através do audiovisual em “O ser e o tempo do audiovisual: diálogos entre território e cultura”. Do interior paulista vamos a Hollywood com Isabella Regina Oliveira Goulart analisando a inserção como latinos no sistema de estrelato hollywoodiano em “Estrelismo à brasileira: perspectivas de uma negociação simbólica, cultural e estética entre Hollywood e o Brasil”. E a problemática dos sujeitos filmados se estende no artigo “Juízo e o teatro da justiça: narrativa e performance” de Clara Leonel Ramos, estudando o documentário Juízo, que aborda a vida de jovens em situação de risco no Rio de Janeiro.

Especificamente sobre a mídia televisiva encontramos Claudia Erthal analisando a grade dominical das principais redes televisivas com “O domingo na TV aberta brasileira”. No detalhamento da representatividade da música temos “A submersão nas imagens sonoras: o som e suas dimensões reais e imaginárias”, de Damyler Ferreira Cunha estudando o ruído fora de campo como força expressiva cênica especialmente em obras de Lucrécia Martel e, pensando a formação da indústria cultural no Brasil através de um estudo de caso, “A gravadora Marcus Pereira e o mapa musical do Brasil”, de José Eduardo Gonçalves Magossi.

Alguns trabalhos, mais do que problematizar a questão dos meios, concentraram-se em objetos de análise ou narrativas que representam conflitos. Reinaldo Cardenuto investiga a genealogia do documentário ABC da Greve através de depoimentos do cineasta, com “ABC da Greve, de Leon Hirszman: a escrita da história em confronto”. Aproximando a literatura dos “romances de ditadores” ao audiovisual Maria Alzuguir Gutierrez analisa o filme Cabezas Cortadas, de Glauber Rocha, em “Cabezas Cortadas: filme de ditador e esperpento de Glauber”. E Sabina Anzuategui aborda as questões da masculinidade e da homossexualidade através dos personagens Kátia e Agenor, da telenovela O grito, de Jorge Andrade, exibida pela TV Globo entre 1975 e 1976, em “Homem sensível e mulher liberal: questões de sexualidade na telenovela O grito, de Jorge Andrade”.

RuMoRes traz em destaque o Dossiê, composto por três textos que refletem o pensar sobre os objetos e seus efeitos numa cultura massiva. Ricardo Ferreira Freitas trata da realização de megaeventos na cidade do Rio de Janeiro e suas representações na mídia na relação com a violência em “Folia, mediações e megaeventos: breve estudo sobre as representações do carnaval 2010 nos jornais cariocas”. Marildo José Nercolini cuida da crítica musical massiva nas décadas de 50 e 60 e seu legado em “Bossa Nova como régua e compasso – apontamentos sobre a crítica musical no Brasil”. E o artigo em co-autoria entre Rogério Ferraraz e Maria Ignês Carlos Magno retoma e coloca a prova o pensamento de Walter Benjamin tratando do telefilme de horror Pesadelo mortal em “O pesadelo mortal de John Carpenter projetado nas idéias de Walter Benjamin”.

O corpo da edição reúne artigos articulados em torno das marcas autorais. Denys Arcand é tematizado em “Desired objects of Denys Arcand”, em que Renira Gambarato contempla uma taxionomia específica para a análise de objetos fílmicos. As crônicas de Graciliano Ramos são visitadas em “O cinema em quatro momentos da produção cronística de Graciliano Ramos”, por Thiago Mio Salla, estendendo-se para debater o limiar entre cinema e literatura. E o cruzamento entre as obras de Milton Santos e do diretor Silvio Tender é estudado por Maria Celina Ibazeta, na concepção de forma e conteúdo de um documentário em “O modelo sociológico revisitado no documentário político Encontro com Milton Santos. O mundo global visto do lado de cá de Silvio Tendler”.

Saindo do âmbito autoral de forma a abordar os jogos de interdição e as questões da representação, temos os trabalhos de Cândida Cadavez, “The Portuguese identity through tourist representations during Estado Novo”, estudando as representações turísticas associadas à propaganda do referido regime de governo; e, pensando a dinâmica entre obscenidade e visibilidade, o artigo de Andrea Limberto “Obscenidade e jogos de interdição”. Um debate sobre a regulamentação das novas mídias, pensando seus direitos, limites e deveres, é feito em entrevista com Prof. Dr. Sérgio Mattos, realizada por Mayra Rodrigues Gomes, Ivan Paganotti e Nara Lya Cabral intitulada “Censura e indenizações, nova regulamentação para mídia”.

De uma perspectiva sobre a obscenidade vamos à presença do corpo, hoje, nos meios de comunicação. Temos o texto de Fernando Kinas, explorando a mimese para repensar a natureza da ficção teatral em “Notas sobre a mimese: para pensar o teatro contemporâneo”, e o ensaio de Wilton Garcia tratando de “O corpo entre o rádio e a comunicação oral: estudos contemporâneos”. A perspectiva autoral retorna em Edmundo Lobassi, explorando as fronteiras entre o cinema mudo e o falado em “O personagem Carlitos”, e com Alice Baroni, preocupada com o discurso do verdadeiro em relação à Guerra de Canudos, em “A Guerra de Canudos e a construção discursiva euclidiana”.

Passamos ao âmbito da narrativa e especialmente do diálogo entre estruturas narrativas. Karina Gomes pesquisa a atualização das narrativas de amor em “As aparências enganam: velhos amores, novas narrativas em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. O desafio entre o âmbito do verbal e do pictórico está contemplado por Liliane Barroso Delorenzi na intersecção de obras em “A voz do sujeito marginal nas obras Acidente de trabalho, de Eugênio Sigaud, e Construção, de Chico Buarque”. Rafael de Almeida Tavares Borges investiga as conexões entre o documental e a videoarte a partir do curta-metragem Da janela do meu quarto (2004), de Cao Guimarães, em “Da janela do meu quarto: diálogos (im)prováveis”. E Maria Cristina Mendes, por sua vez, estuda a revisitação dialógica ao estilo rococó na aproximação também com a pop art no filme “Maria Antonieta em Sofia Coppola e Marie-Antoinette: o rococó na visão contemporânea”.

Ainda, problematizando o mito de uma certa juventude resenhou-se Como a geração sexo, drogas e rock n´roll salvou Hollywood, por Cláudio Coração em “Tempos de imponderável revolução”. E, contribuindo para o pensamento da intersecção entre cidades e comunicação, resenhou-se O parque dos objetos mortos e outros ensaios de comunicação urbana, por Denise Tangerino e Diogo Andrade Bornhausen em “Os sentidos dos objetos mortos: medições na comunicação urbana”.

Boa leitura a todos!


Rosana de Lima Soares e Andrea Limberto

junho de 2011

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