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De 22 de novembro a 15 de dezembro de 2024, o Núcleo TUSP da capital apresenta seu mais novo experimento de montagem a partir de As Bacantes de Eurípides, na Sala Experimental em que o processo foi desenvolvido. A temporada é gratuita, com sessões às sextas e sábados, 19h, e aos domingos, às 17h.

O deus Dióniso é filho de Zeus e da mortal Sêmele. Quando a deusa Hera, esposa de Zeus, fica sabendo da traição do marido, disfarça-se em forma humana e conquista a confiança de Sêmele, que conta a ela sobre seu amante divino. Hera então a convence de que se ele é mesmo um deus, deveria mostrar-se a Sêmele em sua forma divina. Zeus, que havia prometido jamais negar pedido algum a Sêmele, faz a vontade dela. Entretanto, como os mortais não sobrevivem ao contato direto com a forma original de um deus, Sêmele é fulminada pelo poder de sua manifestação divina. Para proteger Dióniso da fúria de Hera, Zeus o esconde em sua coxa, até que sua gestação se complete e ele possa realmente vir à luz.

O prólogo nos mostra Dióniso, disfarçado em mortal, recém chegado em Tebas. Pelo deus, ficamos sabendo que Sêmele, sua mãe, foi difamada pelas irmãs Ágave, Ino e Autonoe, que a acusaram de ter se deitado com um mortal e não com Zeus, e que, portanto, Dióniso não teria origem divina. O deus do vinho e do êxtase faz com que as mulheres tebanas, incluindo suas três tias, abandonem suas casas, “picadas pelo frenesi da sua loucura”, e corram para as montanhas. Penteu, filho de Ágave e atual rei de Tebas, declara guerra às bacantes, capturando Díoniso, que pensa ser um sacerdote do culto báquico, não o próprio deus. Inicia-se, então, a vingança de Dióniso.

Na tragédia de Eurípides, o deus Dióniso também é chamado de Baco e Brômio. O coro que se vê em cena é formado pelas bacantes que acompanham o deus (percebido por elas como sacerdote do culto) da Ásia até Tebas. As mulheres de Tebas, incluindo Ágave, Ino e Autonoe, formam o grupo de bacantes que sabemos estar concentrado no monte Citéron.

Sobre o processo de As Bacantes, 1oº e mais recente experimento de montagem teatral do Núcleo, desde o início a intenção foi abrir o processo de seleção de participantes para o Núcleo já com a definição de que o trabalho seria sobre o texto de Eurípedes, ideia que nasceu pelo interesse em pesquisar a linguagem da tragédia demonstrado por participantes do Núcleo em edições anteriores.

O trabalho do diretor grego Theodoros Terzopoulos foi referência para o entendimento da tragédia como linguagem física, de “violência concentrada”, pois tanto a direção quanto a preparadora corporal tiveram contato direto com Terzopoulos e sua companhia, o Teatro Attis, em momentos diferentes. E não por acaso, o método de Terzopoulos originou-se em sua primeira montagem de As Bacantes, em 1985, que partiu da questão: “o que é o transe dionisíaco?”

O processo nasceu então focado na referência do método de Terzopoulos, mas vale dizer, não com a proposta não de emulá-lo, e sim de dialogar com ele, levando em conta, principalmente, as pessoas, os corpos e a realidade do aqui e agora do Núcleo.

Algumas questões nortearam este processo: como trabalhar a partir de uma linguagem centrada no aspecto físico, diversa da tradição psicológica do realismo? Como priorizar o texto da cena, potencializando assim os equivalentes físicos e imagéticos criados a partir da dramaturgia de Eurípides, e não uma suposta fidelidade literária a ela? Ao nos debruçarmos sobre essas questões, o material cênico que fomos levantando ao longo dos treinamentos, leituras e ensaios traçou um caminho para resolvê-las na prática. Por sim, fica a lembrança de que a palavra “teatro” vem do grego  “theátron”, que era o espaço destinado à plateia, não aos atores. “Theátron” era o “lugar de onde se vê”. A dramaturgia, a encenação, os corpos, luzes e sons nada mais fazem que cumprir seu papel de fazer o teatro acontecer no seu lugar de origem, por excelência: na cabeça do espectador.

O resultado se completa agora, na relação sua com o público.

Elenco: Ana Carolina Salomão, Beatriz Nauali, Caio Leroy, Denise Magalhães, Ela de Meira, Fabi Carvalho, Gabriella Aly, Iaiá Toledo, Laura Hanek, Loic Damiani, Malu Paixão, Marcello Ramos, Mau Ribeiro, Natália Martins, Maria Eduarda Pecego e Simone Heitor / Direção, adaptação, pesquisa musical e desenho de luz: René Piazentin /  Assistência de direção: Aline Baba e Carolina Loureiro / Figurinos: Aline Baba / Preparação de elenco: Ana Carolina Salomão / Registro do processo: Carolina Loureiro / Preparação musical e tratamento sonoro do espetáculo: Gabriella Aly, Mau Ribeiro e Caio Leroy

AS BACANTES | Núcleo TUSP da capital
22 nov. a 15 dez. de 2024 | sexta e sábados, 19h; domingos, 17h
Sala Experimental | 40 lugares | Gratuito, ingressos 1h antes da sessão

Acesse o programa digital aqui.