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Dia 29 de novembro, às 20h, o TUSP recebe a leitura de A Última Entrevista, peça de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), publicada pela primeira vez em 2016 no livro A (In)visibilidade de um Legado, estudo da pesquisadora Michele Asmar Fanini. A leitura contará com a presença de Claudio Lopes de Almeida, neto da escritora a e legatário de seu arquivo pessoal.

Uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras, a carioca Júlia Lopes de Almeida foi uma prolífica escritora, cronista, teatróloga e abolicionista no entresséculos. A peça A Última Entrevista, inédita, aborda um dos temas caros à autora: a assimetria nas relações entre os gêneros.

Um tenso diálogo se trava entre Carolina, jovem sonhadora que trabalha como costureira, e seu suposto pretendente, Raimundo, de origem abastada. Este chega ao encontro embriagado e suas falas preconceituosas reforçam a estigmatização feminina. O enredo ilumina a violência de gênero em suas manifestações mais simbólicas e naturalizadas e retrata nossa sociedade à luz do duplo padrão de moralidade sobre o qual se estruturam as dicotômicas relações entre os gêneros. A peça aborda ainda outros temas relevantes, como o preconceito de classe.

Carioca e filha de lisboetas, Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) adquiriu notabilidade como prosadora, a ponto de ser considerada a escritora mais publicada da Primeira República. Escreveu onze romances, dois dos quais publicados postumamente; colaborou por mais de três décadas na imprensa, além de ter protagonizado o que poderíamos denominar de o primeiro “vazio institucional” feminino da Academia Brasileira de Letras: seu nome foi sugerido por Lúcio de Mendonça, um dos idealizadores da instituição, para figurar entre os membros fundadores mas, por ser mulher, não ingressou. Seu gênero atuou como barreira simbólica intransponível. Nas décadas iniciais do séc. XX, Júlia Lopes de Almeida transformou o terraço de sua residência em Santa Teresa no prestigiado Salão Verde, importante ponto de encontro da intelectualidade carioca. Sua obra tematiza a sociedade do entresséculos em que viveu: seus hábitos e valores, excentricidades e trivialidades, vícios e virtudes. Sob diferentes prismas, seu repertório lida com relações de gênero, escravidão, conflitos intergeracionais, arrivismo e estratificação social, preconceito de classe e especulação financeira.

No livro A (In)visibilidade de um Legado (Intermeios/FAPESP), a pesquisadora Michele Asmar Fanini traz a público um repertório de textos dramatúrgicos inéditos escritos por Júlia Lopes de Almeida. Em seu conjunto, os textos oferecem uma pintura multicolor das práticas e costumes urbanos característicos da sociedade brasileira na transição do séc. XIX para o XX, em que se destacam temas como a escravidão, a educação e profissionalização da mulher, a assimetria das relações de gênero, a estratificação social e o preconceito de classe, as conveniências sociais, dentre outros. O livro ressalta a versatilidade de Júlia e busca contribuir não apenas para o redimensionamento de seu legado, mas para os estudos dedicados à memória das artes dramáticas ao longo da chamada “belle époque tropical”, na qual dramaturgas foram sub-representadas, quando não eclipsadas.

Michele Asmar Fanini é graduada em ciências sociais pela FFLCH-USP, mestre e doutora em sociologia pela mesma instituição. Realizou estágio pós-doutoral no Instituto de Estudos Brasileiros da USP, com pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), da qual resulta o livro A (In)visibilidade de um Legado.

29.11, 20h | Leitura: A Última Entrevista, de Júlia Lopes de Almeida | gratuito
Programação:
I. Apresentação: a pesquisadora Michele Asmar Fanini fala da autora, sua importância em nossa literatura e seu teatro inédito.
II. Claudio Lopes de Almeida, neto e herdeiro simbólico da autora, fala sobre sua atuação como legatário da escritora, dedicando-se à documentação do acervo até 2010, quando doou o arquivo  da avó à Academia Brasileira de Letras.
III. Leitura: A Última Entrevista.