ISSN 2359-5191

19/09/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 110 - Saúde - Faculdade de Saúde Pública
Brasil tem refeições melhores do que o Reino Unido, mas ainda deficientes em termos nutricionais
Além de manter o hábito de preparar as refeições, brasileiros se preocupam mais com o tempo reservado à alimentação.
Imagem: Reprodução

Os hábitos alimentares são reflexo das condições socio-culturais de um país. Portanto, o grau de desenvolvimento industrial de uma sociedade impacta diretamente na qualidade da refeição, sendo que nem sempre essas variáveis se relacionam de maneira diretamente proporcional. A tese de doutorado de Bartira Gorgullo sobre a alimentação no Reino Unido e no Brasil diz muito sobre como às vezes, quanto mais desenvolvido o país, piores são os hábitos alimentares de sua população.

Metodologia de análise

Como recorte para o seu estudo, Bartira considerou a principal refeição de cada um dos países. “A gente considerou a definição de que a principal refeição é aquela que trás maior contribuição de energia e nutrientes. Já era esperado que fosse diferente (a principal refeição dos países comparados). Existem diversos artigos falando dessa diferença, que está muito ligada à cultura". Almoço e jantar são as principais refeições do Brasil e do Reino Unido, respectivamente.
Em nosso país, a população ainda mantém o hábito de parar para comer. A hora do almoço é planejada, assim como a hora do jantar. No Reino Unido e em outros países com um processo de desenvolvimento industrial mais avançado, como os Estados Unidos, o almoço frequentemente é feito na frente do computador ou entre um compromisso e outro, sem tempo determinado. Essa diferença de comportamento foi essencial para a diferenciação das refeições.

Desenvolvimento industrial e alimentação

Além do impacto cultural, questões econômicas influenciam muito na maneira como uma população se alimenta. Bartira observou que o Brasil vive uma transição de desenvolvimento econômico já concretizada no Reino Unido há muito tempo - “Em países menos desenvolvidos ou em populações mais vulneráveis, o aumento da renda tende a levar a melhora da qualidade, pensando que a população que antes não tinha acesso ao alimento passa a ter. Em países com desenvolvimento industrial, principalmente da indústria de alimentos, com um aumento da renda você passa a ter acesso a todo tipo de alimento". Inclusive alimentos prejudiciais à saúde, como refeições prontas e fast-foods.
O Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014, segundo relatório da Organização Mundial da Saúde. Através de programas que incentivaram uma melhor distribuição de renda e do aumento da oferta de alimentos, a população brasileira vive um novo momento em termos nutricionais. Mas, apesar de ter uma realidade socioeconômica muito pior do que o Reino Unido, ambos os países estão entre aqueles nos quais o segmento dos fast-foods mais fatura. Isso se reflete nos níveis de obesidade dos países comparados. O Reino Unido tem 70% da população considerada obesa, enquanto o Brasil já alcança os 50%. Como ainda estamos em fase de transição, Bartira observa que “considerando essa diferença de desenvolvimento e de prevalência de obesidade” devemos aprender o que não começar a fazer para construir uma realidade diferente.

Principais deficiências alimentares

O título da tese de doutorado de Bartira trazia o questionamento de que lições o Reino Unido teria a ensinar para o Brasil em termos de alimentação. No final da pesquisa, a Doutora chegou à conclusão que ambos os países tem o que aprender - “Se a gente pensar em qualidade, acho que o Brasil ensina. Mas no Reino Unido também tem algumas vantagens.”
O Brasil tem uma relação maior com a comensalidade, preocupando-se mais com o momento da alimentação. Isso já é um hábito perdido no Reino Unido, mas que ainda pode ser mantido pelos brasileiros como forma de manter também suas raízes culturais. O arroz e feijão estão perdendo espaço no prato brasileiro, dando lugar ao fast-food, hábito já consolidado no Reino Unido.
Ambos os países tem um consumo reduzido de frutas, verduras e legumes. E nesse ponto, os europeus é que dão aula. “Embora lá tenha sido melhor (o consumo de frutas), ainda foi muito baixo” - o resultado chama a atenção quando levamos em consideração que a disponibilidade de frutas, verduras e legumes no Brasil é muito maior do que no Reino Unido.
Por último, Bartira observou em entrevista que o consumo de carne dos dois países é muito alto, levando a uma ingestão de proteína maior do que a recomendada.

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