O presente artigo analisa algumas das narrativas intercaladas e independentes presentes na obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, buscando refletir sobre suas matrizes orais sertanejas com fundo épico e mítico em uma tentativa de (re)interpretação da definição apresentada pelo autor sobre os termos História e Estória, proposta no prefácio de sua obra Tutaméia, tendo como referencial teórico os estudos de Walnice Nogueira Galvão, Alexandre Veloso de Abreu e Arrigucci Jr., dentre outros. É evidenciado que as narrativas curtas ou estórias, além de reduplicarem alguns dos temas centrais de Grande Sertão: Veredas, demonstram a preocupação de Guimarães Rosa em representar a oralidade e a identidade do povo sertanejo com suas aventuras, dramas e tragédias, permitindo, assim, acreditar que o autor recriou, a partir do vivido e ouvido, muitas destas “estórias”, tornando mais tênue as fronteiras entre real e ficção, e, por conseguinte, entre oralidade e escrita.
O trabalho apresenta os primeiros resultados da pesquisa de doutorado em andamento na PUC Minas que busca investigar parte dos arquétipos, mitos e metáforas da Bíblia que podem ser encontrados em Grande sertão: veredas. Segundo Northrop Frye (2004), a Bíblia, com sua imensa quantidade de mitos, arquétipos e metáforas, se constituiu um "universo mitológico" que serviu de inspiração para toda a literatura ocidental, no qual consciente ou inconscientemente escritores têm buscado e reproduzido em suas composições literárias. Para Jung (2000), os arquétipos se definem como expressões do inconsciente coletivo da humanidade que repetem e representam experiências de tempo imemoriais. Essas formas podem ser encontradas nos mitos da cultura coletiva e são buscados e reatualizados, segundo Mirceia Eliade (1972) e também Nietzsche (2012), em seu conceito do “Eterno retorno”. Considerando essas características fundamentais propomos a releitura de dois episódios emblemáticos de Grande sertão: veredas: a travessia do rio com o menino na canoa, e a travessia do Liso do Sussuarão, buscando referências no arquétipo bíblico da travessia do povo hebreu pelo deserto para se alcançar a terra prometida, o qual metonimicamente poderia representar a travessia de toda a humanidade pelo deserto da provação para se alcançar o paraíso e seu criador. Esperou-se assim, enriquecer e lançar novas veredas interpretativas e reflexões, sobre o sertão que habita dentro de cada um de nós e a grande travessia da vida, tal como apresenta Guimarães Rosa.
Em sua transposição semiótica para a televisão, a obra Grande Sertão Veredas, transformada em minissérie pela Rede Globo de televisão, trouxe consigo a difícil missão, para seus roteiristas e adaptadores, de “recriar” a complexa imagem do personagem Diadorim, mulher disfarçada de jagunço, na atriz Bruna Lombardi. Esta, por sua vez, teve também que desempenhar uma dos mais difíceis papéis de sua carreira: um personagem andrógino, nem masculino nem feminino. Abordando esse aspecto como relevante para discutir a transposição de obras literárias para a televisão, ou ainda melhor, sobre a “teoria da adaptação”, o presente trabalho teve como objetivo discutir sobre a fidelidade ou não a obras literárias originais, como critério de julgamento sobre seu valor artístico, tendo com amparo teórico principalmente Hutcheceon (2013), Johnson (1982), Balogh (2004) e Morais (2000, 2003).
Essa tese faz uma releitura da obra Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, através de um técnica literária presente na Bíblia: o modelo tipológica ou “figural”, na qual o Antigo e o Novo Testamento se espelham, complementam-se e explicam-se através de arquétipo, mitos e metáforas, o que constitui por sua vez, a mímesis bíblica. O objetivo é fornecer uma interpretação sobre os recuos e avanços presentes na narrativa do romance. A metodologia utilizada foi aplicar o modelo bíblico de formato de “U”, do teórico canadense Nortrhop Frye, o qual reproduz a história de queda e ascensão da humanidade na Bíblia, e também sua classificação em imagens apocalípticas e demoníacas. Selecionados alguns episódios localizados nas duas partes de Grande Sertão: Veredas, tal como um espelho e similarmente ao modelo bíblico, evidenciamos que sua narrativa realmente possui “antecipações” e “confirmações” na primeira parte, e que se complementam na segunda, mas são afastadas na memória do protagonista devido ao sentimento de culpa, remorso e perda, representados através da alegoria Cantos de Israel, que representa um desejo de reconquistar um “paraíso perdido”. Os resultados demonstraram que o espelhamento no Grande Sertão: Veredas não apresentou-se de forma tão perfeita e encadeada como se esperava, entretanto a questão do “meio” na obra de Guimarães Rosa revelou-se mais uma vez fulcral na interpretação dos textos do autor, assim como a revitalização do conceito de mímesis.
Esta dissertação faz um estudo comparativo das micronarrativas presentes nas obras Os Sertões, de Euclides da Cunha e Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. O estudo tem como norteadores os seguintes questionamentos básicos: qual a finalidade dessas narrativas curtas e aparentemente independentes nas obras em questão? De que recursos se valem os autores para que elas se relacionem e se encaixem harmonicamente com o eixo-central das narrativas? São basilares para esta pesquisa o conceito de encaixe narrativo baseado nas reflexões teóricas de Lucien Dallenbch sobre o termo myse en abyme e o exemplo clássico da obra Ilíada através dos chamados encaixes homéricos que são os primeiros exemplos de encaixes narrativos de que se tem notícia. Aplicando esse conceito às duas obras, primeiramente de forma separada, depois comparativa, o propósito é evidenciar essas micronarrativas como estratégias de narrar que ligam a multioralidade do povo sertanejo com a textualidade erudita dos escritores. O conceito de encaixe narrativo, além de evidenciar as marcas da oralidade nas duas obras, faz que as lendas, os mitos e crendices populares sejam identificados em um nível narrativo diferenciado. Esse separar sem desvincular-se demonstra o universo lendário que povoa os sertões no imaginário e nas narrativas orais dos sertanejos em sua similaridade com uma epopeia. Objetivou-se assim, sobretudo, valorizar elementos do universo da oralidade presentes na composição dos romances em questão.