A escritura de Grande sertão: veredas, ao reconstituir sua linhagem, fundamenta-se na hybris, na desmedida instauradora do trágico, elemento constitutivo do drama desde os primórdios da sua história no Ocidente. A hybris faz explodir o substrato linguístico da escritura, espalha-se na constelação de signos, onde se observa um excesso de significantes e de significados, transbordamento que instala a transgressão - força dionisíaca geradora do trágico - no próprio corpo da linguagem. Para esta reflexão procura-se recortar diversos fios entrelaçados para reconstituírem biograficamente a constelação dos signos de Grande sertão: veredas. Em um primeiro movimento, esboça-se o parentesco entre a escritura de Grande sertão e a de Ulysses e Finnegan's Wake, de James Joyce, pois, do ponto de vista estritamente linguístico, elas se irmanam por terem deflagrado a hybris, a transgressão que atinge diretamente o corpo físico da linguagem, por meio do estilhaçamento e fragmentação dos significantes e significados. Nesse sentido, tanto Rosa como Joyce submetem a língua a uma agônica dramatização fundamentada nesse elemento dionisíaco e trágico. Em um segundo andamento, procura-se compreender como esse elemento transgressor no plano dos valores estéticos e linguísticos repercute nos valores históricos, sociais, religiosos e éticos.
Estudo da correspondência de João Guimarães Rosa com os tradutores Edoardo Bizzarri, Curt Meyer-Clason e Harriet de Onís. Observase a importância da correspondência para o trabalho da tradução, no sentido de resolver determinados impasses suscitados pela originalidade do material lingüístico a ser traduzido, e para a compreensão do processo criador. Explicita-se como, para Guimarães Rosa, o diálogo epistolar ? o pacto de colaboração ? que se estabelece entre ele e os tradutores é uma oportunidade para a reflexão a posteriori de seu processo, é o momento propício para assumir os erros e para revelar sua ânsia de perfectibilidade.
Estuda-se a biografia como caracteristica da escritura literaria. Nesta acepcao, biografia nao e um genero literario ou historiografico, mas traco indissociavel da escritura, onde o sujeito se dramatiza. Ao examinar esse processo de dramatizacao, verifica-se a relacao entre viver e narrar, procurando-se compreender como, na escritura, o sujeito empreende uma travessia signica, inscrevendo-se no texto a partir dos valores historicos, sociais, eticos que enforma na constelacao dos signos literarios. No movimento que registra a historia do sujeito - a historia vivida e a possivel de viver - assinala-se que a escritura nao biografa apenas seu produtor, mas o ser na sua aventura existencial. Nesse ato, observa-se como a escritura constroi sua genealogia, explicitando seu sistema de raizes. O estabelecimento dessas questoes teoricas considera o projeto escritural de joao guimaraes rosa, elegendo grande sertao: veredas como objeto de abordagem.