“A terceira margem do rio”, conto de João Guimarães Rosa, é objeto de análise deste trabalho, que se utiliza do referencial teórico da semiótica francesa que, desde os anos 1980, constrói uma semântica da dimensão passional dos discursos e passa a considerar a paixão “como efeito de sentido inscrito e codificado na linguagem”. Nosso texto focaliza os estados de alma do sujeito da história, que, projetado no presente da enunciação, ao rememorar o passado, já entrado em anos, toma consciência da
anulação de sua existência, que foi marcada pela ausência do pai. Focalizamos o percurso patêmico do “eu” narrador, como sujeito do enunciado, em cenas enunciativas do texto nas quais se manifestam variantes da paixão da cólera, tendo em vista o modo como Jacques Fontanille (2005) a descreve em Dictionnaire de passsions Littéraires. Nossa hipótese é que o eu não teve consciencia da raiva e da
revolta que sentiu em relação ao distanciamento do pai e, nesse sentido, observamos como essa revolta,
Este estudo analisa a relação existente entre o lugar sertão Palmas de Monte Alto (município baiano) e o sertão presente na obra Grande Sertão: veredas de João Guimarães Rosa. Tal problemática de
pesquisa surge com o “estranhamento” diante da leitura do livro que aborda o “sertão” com as
características naturais e humanas comuns ao município aqui estudado. Teve como objetivo geral
analisar a relação entre o sertão presente no livro Grande Sertão: veredas e o lugar Palmas de Monte
Alto-Ba. A partir disto, como objetivos específicos buscou-se demonstrar a potencialidade da literatura
na compreensão do espaço e investigar o lugar “Palmas de Monte Alto” como espaço sertanejo e se há
similaridades com o sertão presente na obra Grande Sertão: veredas. Trata-se de uma pesquisa
bibliográfica e análise documental com abordagem pautada na fenomenologia. Diante dos dados
coletados na pesquisa, constatou-se que Palmas de Monte Alto é sim um lugar sertão. Vale dizer que,
este resultado leva em consideração a subjetividade que envolve os conceitos de sertão e lugar já que ambos não possuem entendimentos unívocos entre os sujeitos sociais
Ao ler a correspondência de João Guimarães Rosa com seu tradutor francês, Jean-Jacques Villard, surpreendi-me ao descobrir que um de seus contos mais conhecidos, A terceira margem do rio, havia sido publicado na revista Planète, editada pelos pais do realismo fantástico Louis Pauwels e Jacques Bergier. A revista, criada na esteira da comoção provocada por O despertar dos mágicos, colocava-se, antes de tudo, contra o positivismo científico dominante na época e levava em conta os fenômenos paranormais, a alquimia, as capacidades inexploradas do cérebro humano. «Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger» era o lema da revista. Nesta comunicação, gostaríamos de, por um lado, contar a estória da publicação e da tradução desse conto e, por outro, pensar esse fenômeno como integrado ao modo como as obras de Guimarães Rosa foram recebidas na França dos anos 1960.
Os anos que se seguiram à Segunda guerra mundial são marcados, nos Estados Unidos e na Europa, por um grande interesse pela América Latina, que se traduzia pela busca de conhecimento de sua cultura, principalmente no que se referia à música e à literatura. O caso da Knopf Incorporation é significativo desse movimento no universo norte-americano. Na pessoa de seus diretores, Alfred e Blanche Knopf, a editora sempre buscou novos talentos na Ásia e na Europa. Mas foi apenas com o advento da Segunda guerra mundial e com a “Política da boa vizinhança” instaurada pelo governo Roosevelt, que eles se voltam para a América Latina e passam a publicar, entre outros, Jorge Amado, Gilberto Freyre e Guimarães Rosa. No universo francês, a Gallimard cria em 1951, sob a direção de Roger Caillois, a emblemática coleção “La Croix du Sud”. Especializada na literatura latino-americana, inaugura-se com Ficções de Jorge Luis Borges e publica entre outros, nos anos subsequentes, Julio Cortázar, Alejo Carpenti
A recepção de uma obra literária, como explica Jauss em sua teoria da recepção,
sempre se faz a partir das expectativas do público e dos críticos no âmbito de certa cultura. No
Brasil, as estórias de Guimarães Rosa dialogam, no momento de seu lançamento, com o
regionalismo então em voga e, também, com as inovações do modernismo. A novidade de sua
escrita e sua ligação com a terra será reconhecida também na França, onde ele será comparado
com o escritor provençal Jean Giono. Nesta comunicação, gostaríamos de comentar esse
paralelo estabelecido entre os dois autores, a fim de poder desenhar com mais nitidez o
horizonte literário que acolheu Guimarães Rosa na França dos anos 1960.
Moramos na linguagem. Muito mais que um instrumento transmissor de ideias – e logo, algo secundário em relação a algum ‘mundo real’ - composto de sinais, é por ela que temos acesso ao mundo e, inclusive, ao que chamamos subjetividade. Famigerado, conto de João Guimarães Rosa que narra a inquietação de um perigoso jagunço a respeito do epíteto que lhe foi dado, bem como do médico que é consultado a respeito do significado do apelido, é, neste sentido, uma oportunidade de compreendermos os diversos níveis de análise da linguagem, trabalhada sob dois níveis – ontologicamente distintos: o apofântico – do discurso, cujos níveis de análise correspondem ao semiótico, e seus subníveis, o sintático, o semântico e o pragmático, e ao nível racional-comunicativo – e o hermenêutico – relativo à práxis, ao contexto, ao mundo vivido. Noutras palavras, a linguagem trabalha não apenas no dito, mas também no não dito.
Este estudo tem como objetivo apontar similitudes entre alguns elementos encontrados no Canto IX da Odisseia de Homero e em “Meu tio o Iauaretê”, novela de João Guimarães Rosa, publicada em 1969, na
coletânea Estas estórias. Dentre os textos teóricos utilizados, destaca-se o artigo de Ana Luiza Martins Costa, no qual é feita uma minuciosa análise do “Caderno de leitura de Homero”, caderneta que contém observações de Guimarães Rosa sobre a narrativa épica, além de o registro de passagens da
Ilíada e da Odisseia. Rosa não teria apenas lido as duas epopeias, porém as estudara com afinco. Ao longo da narrativa da novela, é possível supor que o escritor faz uma releitura de Homero, tanto em relação à “hospitalidade” do anfitrião e à bebida oferecida pelo “visitante”, como, também, à sua
selvageria e ao temor difundido por seu aspecto grotesco. Ao pensamento “bom bonito”, repetido pelo índio-onça, conjectura-se relacionar o kalòs k’agathós grego. A pureza da cachaça apreciada por Antonho
“Tudo é e não é”. Analisar algumas imagens de Deus em Grande sertão: veredas foi o objetivo desta
comunicação. Isso foi feito numa tentativa de análise interdisciplicar. A partir do romance rosiano,
sob a luz hemenêutica da critica literária e da reflexão teológica, tentamos indicar que a literatura de Rosa apresenta Deus de modo ambíguo. Esse assertiva é possível, pois se percebeu na provisoriedade humana, advogada pelo escritor e expressa em Riobaldo, o núcleo de propagação desse modo de ver. Ao rememorar e ressignificar sua vida, Riobaldo abre espaço ao Mistério. Em cada travessia reflete sobre o mesmo sem enquadramentos teológicos e filosóficos definitivos. O “Deus que roda tudo” está misturado no mundo e só pode ser percebido pelo seu constante movimento entre o obscuro e o revelado. Com isso, o texto rosiano apresenta imagens de Deus que salvaguardam seu caráter duplo e ambíguo.
Esta proposta está alicerçada no Projeto de pesquisa “Poéticas da modernidade: um olhar para a diferença”, em desenvolvimento neste ano de 2016, na UEMG (Unidade de Carangola), sob a orientação de Lídia Maria Nazaré Alves e coordenação de Alexandre H. C. Bittencourt. O tema deste artigo envolve duas formas de representações miméticas: uma tradicional, imitativa, outra moderna, produtiva. Pela primeira, escreve-se o texto legível, buscando-se imediato entendimento do leitor; pela segunda, escreve-se o texto ilegível, buscando-se a reflexão do leitor que se dará pelo esforço da compreensão. Durante vários séculos, entendeu-se a literatura, a partir de uma leitura equivocada de Aristóteles, como representativa da realidade. Sua escrita segue uma sintaxe rotineira, cujo sentido pode ser encontrado no dicionário, um senão a tal tipologia de escrita é a automatização do pensamento, contribuindo para a formação do sujeito alienado. As modernidades entenderam que a literatura deveria servir-se
João Guimarães Rosa, um dos maiores autores brasileiros, não obteve o mesmo
reconhecimento de seu país de origem nos Estados Unidos. Como integrante de um sistema
periférico dentro do polissistema literário americano, Rosa em inglês foi homogeneizado e
simplificado para atender às necessidades de enquadre em um cânone tradutório e não atendeu
às expectativas de latinidade e da imagem de brasilidade que circulavam nos Estados Unidos.
Este trabalho analisa dois elementos que contribuíram para esse resultado: o contexto cultural e
o processo tradutório, o último a partir de cartas trocadas com a tradutora.