O presente trabalho busca evidenciar aspectos do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, como uma obra que está além do regionalismo, buscando ressaltar as características que apontam para um romance de formação social, ou seja, para algo além do olhar regionalista apontado por alguns críticos, mas sim como representação do mundo e não apenas do sertão. Logo, o que se quer evidenciar é a maneira como a realidade perpassa o romance, retratando a sociedade contemporânea, remontando a partir de um grupo de jagunços do sertão mineiro e construindo assim retratos do Brasil. Para isto, serão considerados os estudos de Willi Bolle – Grandessertão.br – Um romance de formação do Brasil – e a teoria do romance de formação social. Dessa maneira, os textos críticos aparecerão de forma a apontar esse aspecto da obra, como um romance social, considerando que o que se deseja é não restringir a obra de João Guimarães Rosa a um único espaço ou região.
O presente trabalho busca evidenciar aspectos do romance Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, como uma obra que está além do regionalismo, buscando ressaltar as características que apontam para um romance de formação social, ou seja, para algo além do olhar regionalista apontado por alguns críticos, mas sim como representação do mundo e não apenas do sertão. Logo, o que se quer evidenciar é a maneira como a realidade perpassa o romance, retratando a sociedade contemporânea, remontando a partir de um grupo de jagunços do sertão mineiro e construindo assim retratos do Brasil. Para isto, serão considerados os estudos de Willi Bolle – Grandessertão.br – Um romance de formação do Brasil – e a teoria do romance de formação social. Dessa maneira, os textos críticos aparecerão de forma a apontar esse aspecto da obra, como um romance social, considerando que o que se deseja é não restringir a obra de João Guimarães Rosa a um único espaço ou região.
Este ensaio pretende examinar o relato mnêmico do primeiro encontro entre Riobaldo e Diadorim, e suas repercussões na mentalidade e no comportamento desses personagens, sobretudo, perante a noção de masculinidade que é formada às sombras deste episódio. Para tal, há de se recorrer a bases teóricas elaboradas para abordar a dicotomia de gênero e sua co-construção na atividade social. À vista disso, pressupõe-se que a relação estabelecida entre os personagens deste episódio ilustra o conceito de homossociabilidade: ainda que esta não tenha sido a primeira experiência pública e/ou monossexual de Riobaldo, é uma das memórias mais antigas de sua infância relembradas na obra. Nesta, sobressaem-se normas e limites reiterados socialmente, a mimese infantil e importantes noções que dão base à persona jagunça do personagem-narrador.
Este trabalho propõe uma análise do romance Grande Sertão: Veredas (2019), de João Guimarães Rosa, tendo como fio condutor o universo da pobreza. Os objetivos principais foram refletir brevemente sobre a narrativa labiríntica e, ao mesmo tempo, paradoxal, produzida através das memórias do narrador; verificar a composição do personagem Riobaldo, que perpassa por camadas sociais distintas; e, dentre as imagens de pobreza na obra, analisar a figura do agregado, personificação do homem pobre livre, a partir do que foi desenvolvido em um estudo fundamentado sobretudo na perspectiva do teórico Roberto Schwarz (2000). Somado a esses, outro ponto fundamental abordado é a questão do alimento, referência em muitos momentos da vida de Riobaldo, além de um importante indicador social. Neste estudo, constata-se um contexto de desigualdades sociais no sertão mineiro, marcado tanto na representação do cenário da carência quanto no sistema utilizado para a manutenção das elites rurais.
Este artigo aborda como é atualizado, no Grande sertão: veredas, um motivo fundamental para a tragédia Rei Lear: a escolha amorosa envolvendo três mulheres relacionadas ao ouro, à prata e ao chumbo. A simbologia subjacente aos metais é determinante para a caracterização das personagens femininas tanto do romance quanto da tragédia, analisadas, aqui, em perspectiva comparativa. Em Rei Lear, os metais preciosos, o ouro e a prata, estão associados a Goneril e Reagan, as filhas más que herdam o reino, enquanto Cordélia, a filha bondosa e preferida do rei, é representada pelo chumbo e acaba deserdada. Em Grande sertão: veredas, o ouro e a prata figuram na caracterização de Nhorinhá, a prostituta por quem Riobaldo se apaixona, e Otacília, sua esposa, enquanto Diadorim, o verdadeiro amor, está relacionado ao chumbo e permanece sublimado. Assim, os metais preciosos simbolizam, em ambas as obras, o equívoco amoroso, enquanto o chumbo guarda a mulher certa – Cordélia na tragédia, e Diadorim no romance. Diadorim e Cordélia possuem, ainda, outras analogias: ambas são filhas de grandes líderes, dedicam fidelidade irrestrita ao pai, possuem ligação com o arquétipo da donzela-guerreira e suas mortes representam momentos de anagnórisis para Riobaldo e Lear.
Trata-se aqui de uma aproximação entre João Guimarães Rosa (1908-1967), escritor brasileiro, e Édouard Glissant (1928-2011), filósofo, romancista, poeta e crítico martinicano. Os textos escolhidos para tal aproximação foram o Grande sertão: veredas (1956) e a produção ensaística de Glissant de modo geral. Pretendi identificar e analisar ressonâncias entre a escrita de ambos. Consideraram-se primeiramente as extrapolações de seus gêneros originais, ficção e ensaio, e como muitas vezes procediam paralelamente no trabalho da linguagem e sua implicação política, isto é, a relação entre ética e estética. Longe de formalismos, os autores entendem a expressão como intimamente ligada ao seu conteúdo e assim assumem a opacidade da linguagem, potencializando seu aspecto poético e retirando-a de práticas automatizadas ou instrumentais. Investigou-se principalmente: (1) a partir de Deleuze e Guattari, a concepção rizomática do texto e suas linhas de fuga; (2) a situação narrativa em Grande sertão: veredas; e (3) a partir da noção de opacidade de Glissant, sua realização como procedimento estético na contaminação do tratamento do espaço ficcionalizado.
O objetivo deste trabalho é apresentar um estudo do léxico de Guimarães Rosa, na obra Grande Sertão: Veredas e de sua tradução italiana, feita por Edoardo Bizzarri (1970). Foram selecionadas palavras da obra, que constam como não dicionarizadas no livro de Nilce SantAnna Martins (2001), O Léxico de Guimarães Rosa, para uma análise comparativa à tradução italiana. Mostramos nesta análise comparativa aproximações e distanciamentos entre original e tradução, marcando onde a proximidade com o português funcionou ou não e quando o sentido da tradução, seguindo as tendências deformadoras, de Antoine Berman (2007), em A tradução e a Letra ou o albergue do longínquo, fez com que o texto original sofresse alguma alteração na tradução. Como objetivo final a proposta é a produção de um dicionário bilíngue dos neologismos de Rosa, português/ italiano/ português.
Centro de Humanidades, Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia
Este trabalho realiza um estudo sobre a especificidade da relação entre pai e filha para interrogar se a função paterna teria alguma influência sobre o advento da feminilidade para uma filha. Desta maneira, seu objetivo principal consiste em identificar, a partir da análise do romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, os caminhos que viabilizem um novo dizer no que concerne à relação entre a função paterna e a feminilidade e que esteja alicerçado nas elaborações de Sigmund Freud e Jacques Lacan. Ao recorrer tanto ao romance de Guimarães Rosa quanto às elaborações psicanalíticas de Freud e Lacan, a presente investigação constata a abertura epistêmica promovida por estes textos em torno das questões sobre o pai bem como sobre a feminilidade e se insere na continuidade das reflexões sobre o tema. Para tanto, apóia-se nas formas inéditas de dizer viabilizadas pela criação literária, nos avanços teóricos promovidos pela obra freudiana e nas ampliações destas mesmas aquisições teóricas proporcionadas pelas elaborações lacanianas. Especificamente no que diz respeito a estas últimas, o trabalho conta com o alargamento das reflexões sobre a função paterna na contribuição teórica de Lacan ao introduzir o conceito de Nome-do-Pai. Daí o título desta investigação - “Os Nomes-do-Pai no Grande Sertão: Veredas para a feminilidade?” – ser interrogativo, portanto, não-conclusivo, uma vez que não poderia pretender a insensatez de um fechamento das questões aqui abordadas, tampouco da obra literária. Isto, evidentemente, não impede que algo mais seja dito. Portanto, a hipótese levantada neste trabalho consiste em verificar se, no Grande Sertão: Veredas, a relação mantida entre o personagem Diadorim e seu pai, Joca Ramiro, impediu ou viabilizou o acesso daquele à feminilidade. Ao final, o que se conclui é que esta relação favoreceu um acesso muito peculiar de Diadorim ao infinito em que a feminilidade se constitui. Por conseguinte, as veredas da investigação se mantêm em aberto suscitando novas descobertas.
A proposta deste trabalho é discutir alguns aspectos e questões da Teoria da Literatura tendo como corpus literário o romance Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa. Dentro da proposta a que nos dedicamos, discutimos, temas ligados à representação, ou mímesis, conceitos que os filósofos Platão e Aristóteles introduziram nos estudos que hoje chamamos literários e que são, por mérito, temas relevantes das adjacências literárias. A representação que em Platão era subversiva, que em Aristóteles era necessária, e que nos estudos é evidente, leva-nos a refletir acerca do constructo literário. A mímesis foi associada, no primeiro capítulo, aos mecanismos diegético da Memória, antia e venerada Deusa, passando pelas questões evidentes dos dois filósofos, a imitação e a representação, para chegar ao mecanismo diegético do narrador e, por não, único personagem do romance rosiano, que, ano final, nos leva a conclusões de que o que ele faz é apresentar-se - e não imitar ou representar - fazendo-o, antes de tudo, a si mesmo, e não ao interlocutor que parece acompanhá-lo durante toda a narrativa. Desta forma, ele nos leva a um outro aspecto inerente à mímesis, ou seja, à catarse que este narrador se fará promover.
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Teoria Literária e Literatura Comparada
Para Davi Arrigucci Jr., em O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa, a canção de Siruiz contém, cifrada em suas palavras enigmáticas, o destino de Riobaldo. O propósito deste estudo é, a partir da análise mitopoética dos versos dessa canção e dos que o próprio protagonista-narrador do Grande sertão: veredas compôs para complementá-la, tentar decifrar o destino individual do herói problemático Riobaldo e os plurais e dialéticos sentidos de sua travessia. Para tanto, embasados na fortuna crítica e no acervo de leituras, depoimentos e cartas de Rosa, buscamos analisar comparativamente o motivo da canção no romance, em algumas das demais obras do autor, e em clássicos como a Teogonia, de Hesíodo, a Vita Nuova e A Divina Comédia, de Dante Alighieri, Os anos de aprendizado de Wilhelm Meister e o Fausto, de Goethe, a obra inacabada Heinrich von Ofterdingen, de Novalis, além de levantar alusões à Bíblia, à tradição fáustica e à tradição romanesca medieval que, ao que tudo indica, também serviram de inspiração e intertexto para Rosa na gênese e nos desígnios da canção de Siruiz e de seus contextos de representação.
O trabalho problematiza questões de gênero e sexualidade em Grande Sertão: Veredas, argumentando em favor não apenas da possibilidade de leitura homoerótica da obra de Guimarães Rosa, mas também da interpretação de Diadorim enquanto personagem que confunde essas categorias (gênero e sexualidade) a partir de uma performance trans e de uma afetividade homosseuxal. Argumenta-se que o corpo nu de Diadorim não pode ser lido enquanto confissão de sua verdadeira identidade de gênero, haja vista que nesse momento da narrativa o corpo está morto e a personagem já não pode disputar com o narrador sobre a interpretação de sua identidade.
O Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, se passa na crise apocalíptica jagunça, numa temporalidade cíclica viquiana (1999): divina, heroica e racional, percorrendo as sete etapas correspondentes à abertura de cada selo. O primeiro é o do Anticristo, Hermógenes; o segundo trata da guerra, como a de Zé Bebelo contra os chefes sertanejos e a de Riobaldo e Diadorim contra os Judas, Hermógenes e Ricardão; o terceiro é o da escassez, sendo a fome e a sede comuns no Sertão; o quarto libera a peste, que aparece sobretudo nas veredas do Sucruiú; e assim por diante. Utilizando os conceitos de paródia e estilização, definidos por Bakhtin (2005 e 2010) e Tynianov (1969), é possível rastrear os traços bíblicos deste romance rosiano.
No tempo móvel do contar, os protagonistas de “Grande sertão: veredas”, “Panamérica” e “Corra Lola, corra” desenham suas histórias em viagens virtuais que rompem com a linearidade do tempo do Cronos, no qual passado, presente e futuro se apresentam como momentos distintos e fatalmente encadeados. Ao fraturar a sequência cronológica, os protagonistas jogam com as múltiplas possibilidades de um tempo inapreensível, cujas reversões e cruzamentos inesperados fazem de suas travessias uma experiência errante do devir. Assim, o diálogo proposto entre obras tão distintas, como o filme de Tom Tykwer e os romances de João Guimarães Rosa e José Agrippino de Paula, tem como viés de leitura a tensão entre o ordenamento do tempo do Cronos e o jogo inacabado do tempo do devir.
Este estudo se propõe a analisar a caracterização de Riobaldo e
Diadorim, personagens de Grande Sertão: Veredas e seus percursos dentro da
narrativa, buscando identificar traços que possam aproximá-los ou afastá-los
da construção de heróis trágicos no drama clássico. A pesquisa foi realizada
a partir da definição de herói trágico de Aristóteles apresentada em A Poética,
além das considerações de Georg Lukács sobre a formação do romance, e
dos estudos de Pasta Junior acerca da narrativa de Guimarães Rosa.
Inicialmente o estudo foca em realizar uma reflexão sobre as formas
literárias e como estas estão relacionadas com os contextos sociais nos
quais foram produzidas, estabelecendo assim as diferenças imanentes do
drama e do romance; então, se volta para a análise da estrutura de Grande
Sertão: Veredas e suas possíveis semelhanças com a tragédia clássica. Esse
percurso desagua na análise da caracterização dos personagens: Diadorim,
constituído pela ambiguidade, serve de mito complexo para o romance, e é
movido por um desejo de vingança que lhe predestina à morte. Riobaldo,
como narrador e protagonista, estrutura o romance de forma a sublimar
violências do cotidiano, apresentando fatos em chave grandiosa, e cria a
revelação que dá ao leitor a sensação de efeito trágico.