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A microeletrônica a serviço da sociedade

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Tratamento de saúde na era digital

 

Por André Meirelles
O professor recebe o Prêmio Landell de Moura, entregue pelo presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica, Eric Fabris

O professor recebe o Prêmio Landell de Moura, entregue pelo presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica, Eric Fabris

Premiado pela Sociedade Brasileira de Microeletrônica, professor da Poli Wilhelmus Van Noije prova como a tecnologia está ao lado da vida

 

Em um sotaque típico de estrangeiro, o professor Wilhelmus Adrianus Maria Van Noije, do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos (PSI) da Escola Politécnica (Poli), explica em detalhes a história da eletrônica no Brasil e como ela se desenvolveu até os dias de hoje. Afinal, essa é sua área de atuação há quase 40 anos e onde concentrou seus estudos durante sua trajetória.

O mérito dessa dedicação se reflete nos prêmios recebidos. Este ano conquistou um de grande expressão para a comunidade acadêmica: o Prêmio Padre Roberto Landell de Moura, concedido pela Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro) aos profissionais que mais tenham contribuído para o desenvolvimento da microeletrônica no País. A premiação foi no mês de setembro em Aracaju, Sergipe. O grupo sugere os nomes que concorrerão ao prêmio e o próprio conselho da SBMicro faz a votação. “Eles analisam toda a participação da pessoa no estudo, portanto, não se prendem a apenas um ano”, explica.

O Prêmio Landell de Moura é dado aos pesquisadores que mais contribuíram para a microeletrônica no Brasil

Sua relação com a sociedade é antiga. Já ocupou o cargo de vice-presidente (setembro/2002 a agosto/2004), de presidente (setembro/2004 a agosto/2006) e participou da fundação da instituição no ano de 1985. O prêmio coroou todo o trabalho já produzido por Noije, que reconheceu seu esforço para o segmento: “Fiquei bastante feliz em recebê-lo, porque de certa forma é um reconhecimento. Posso até dizer que me empenhei bastante para que a microeletrônica existisse no País, pois venho acompanhando as discussões desde 1970”. Tal premiação foi somente mais uma para a sua coleção. Já conquistou menções honrosas pela qualificação das dissertações feitas tanto aqui no Brasil como na Bélgica.

 

Da Holanda para Holambra

 

Noije quando visitou o LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, em Genebra, na Suíça

Noije quando visitou o LHC, o maior acelerador de partículas do mundo, em Genebra, na Suíça

De origem holandesa, Noije saiu da Holanda com seis anos de idade, quando seus pais imigraram para o Brasil em 1957, por conta da conjuntura da Guerra Fria. O destino foi a colônia holandesa de Holambra, no interior de São Paulo. Como seu pai já era agricultor na Europa, a família acabou se instalando em um sítio para trabalhar no campo. “Até antes de entrar na Poli, eu trabalhei todo dia firmemente no sítio”, lembra. Sua rotina se equilibrava nos estudos e em ajudar o pai com as tarefas rurais, como cuidar dos porcos, galinhas e frangos.

“Como eu morava em um sítio afastado do centro de Holambra, andava oito quilômetros de bicicleta em estrada de terra para pegar um ônibus até cidade de Artur Nogueira, onde fazia o ginásio. Assim, eu fiz o ginásio: trabalhava de manhã no sítio e corria para chegar ao ônibus.” Logo em seguida, o professor passou no vestibular para estudar no conceituado colégio Culto à Ciência, em Campinas, onde estudaram personalidades como o ex-presidente Campos Salles e o pioneiro da aviação Santos Dumont.

O terceiro de uma família de oito irmãos, Noije brinca ao lembrar que ele é a ovelha negra da casa por ter seguido no curso de Engenharia, enquanto seus irmãos optaram por continuar na agricultura. Contudo, a certeza de ser engenheiro nunca foi absoluta: “Quando era criança, queria fazer Medicina e no primeiro ano do Culto à Ciência a gente tinha a opção de ir para biológicas, sociais ou exatas. E eu optei por biológicas”. Porém, o gosto pela matemática e física falou mais alto e acabou mudando para exatas, escolha que, segundo ele, não se arrepende de ter feito.

Noije (o primeiro na 1ª fila, da esquerda para a direita) na comemoração de graduação da turma de 1975 da Poli

Noije (o primeiro na 1ª fila, da esquerda para a direita) na comemoração de graduação da turma de 1975 da Poli

Entrou na Escola Politécnica em 1971 e, no final do segundo ano, optou por seguir para a Elétrica. E dentro dessa área, no quarto ano, escolheu uma nova especialização em Telecomunicações. Seu mestrado foi feito na mesma instituição e representou um grande passo para a microeletrônica brasileira, pois ele foi o primeiro pesquisador a criar uma memória semicondutora no Brasil: “Fiz meu mestrado sobre um circuito integrado, que foi uma memória semicondutora tipo RAM de 1KB. A ideia era entender como projetar essas memórias. No final, eu acabei fabricando, testando e fui o pioneiro de um projeto de fabricação de uma memória semicondutora no País”. O mestrado foi desenvolvido no Laboratório de Microeletrônica da Poli, que tinha na época a maior estrutura para estudos da área no Brasil.

Após isso, Noije fez seu doutorado na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, onde o concluiu em 1985. Seu tópico de pesquisa era o desenvolvimento de células básicas para estruturas de circuitos integrados semidedicados. De volta ao Brasil, foi contratado pela Poli como docente para ministrar disciplinas de eletrônica básica na graduação em 1987 e, desde então, lidera e coordena diversas pesquisas. Atualmente orienta cinco estudantes de doutorado, três de mestrado e já formou oito doutores e 24 mestres.

Encontro anual de colegas da turma de 1975 da Poli, em novembro de 2013

Encontro anual de colegas da turma de 1975 da Poli, em novembro de 2013

Uma das grandes iniciativas em que está envolvido é o LSITec (Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico), uma associação do Laboratório de Sistemas Integráveis formada por professores da Poli e que tem como objetivo promover a aplicação do conhecimento em tecnologia avançada para gerar produtos, serviços e sistemas eletrônicos. “Nós temos vários projetos que já desenvolvemos e com isso estamos contribuindo para o desenvolvimento nacional”, afirma o professor, que é o atual vice-presidente e foi um dos responsáveis pela implementação da associação.

 

Planos atuais

 

Em seu dia a dia, Noije tenta equilibrar ao máximo suas tarefas como docente com as atividades familiares de lazer. Gosta de ler nos momentos de descanso e procura praticar exercícios físicos nos finais de semana, como caminhadas. Pai de dois filhos, costuma viajar para o litoral com sua esposa que dá aula na Unicamp. Seus projetos atuais estão concentrados na área de pesquisa em bioengenharia, que vem tendo grande atenção mundialmente. Para o professor, a elétrica é um ramo da engenharia que pode contribuir muito para a qualidade de vida das pessoas.

Sua atual linha de pesquisa é na área de bioengenharia, com foco na detecção de câncer de mama e de colo uterino

Sua atual linha de pesquisa é na área de bioengenharia, com foco na detecção de câncer de mama e de colo uterino

Nos últimos anos, tem dedicado vários trabalhos de mestrandos e doutorandos na área de circuitos especiais para a detecção de câncer de mama e colo uterino. Uma dessas pesquisas, por exemplo, busca desenvolver um mamógrafo de baixo custo baseado em técnicas de geração de imagens médicas, usando micro-ondas para a detecção precoce do câncer de mama. Atualmente os exames são feitos por raio X, o que pode provocar outros tipos de cânceres, além de ser um processo dolorido para as mulheres.

O processo de diagnosticar por imagem aplica uma energia de potência muito baixa, o que faz com que a técnica não seja contraindicada. “Nossa ideia é que se desenvolva um equipamento muito mais barato e acessível e que até se possa ter um em cada posto de saúde. Com isso, rapidamente a pessoa que faz esse tipo de análise pode ver na tela se tem ou não o câncer e, se tiver indícios, fazer alguns exames extras. O importante é que essas mulheres possam fazer os exames rapidamente, pois quanto antes se faz a detecção precoce maior a possibilidade de cura”, explica.
Outro projeto liderado por ele atualmente no LSITec é o desenvolvimento de um aparelho auditivo. Os chips utilizados nos aparelhos do Brasil são importados e relativamente caros. E a ideia, que está em sua fase final, é projetar um circuito similar a esse chip que possa substituí-lo, economizando assim custos com a importação. Uma vez validado o protótipo, o grupo de pesquisa espera mandar fabricar um lote do circuito para que possa ser distribuído para as empresas que fazem a montagem. “Ele é programado digitalmente e vai permitir que a gente possa atender a 85% das possíveis anomalias auditivas. Esperamos que com isso a gente possa contribuir bastante na área.”

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