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Ciência e cultura a serviço da sociedade

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A Universidade contribuindo para a cidade

 

Francisco EmoloEx-diretor do Museu de Zoologia é o novo presidente do Ibram

 

O Brasil possui mais de 3 mil museus espalhados pelos mais diversos municípios, sendo 29 deles de responsabilidade da União. Gerir uma política nacional de desenvolvimento e fomento de uma rede tão ampla não é tarefa fácil. Para assumir tal desafio, o ex-diretor do Museu de Zoologia, Carlos Roberto Ferreira Brandão, tomou posse em Brasília como presidente do Ibram, o Instituto Brasileiro de Museus, no dia 25 de fevereiro.

“Eu estava viajando ao exterior e fui contatado para saber se teria interesse que meu nome fosse considerado para ocupar o cargo. Disse que sim e, quando voltei, havia um convite formal para conversar com o ministro da Cultura.”

“Eu e o ministro Juca Ferreira tivemos uma conversa muito promissora na sede da Funarte, em São Paulo. Coloquei questões que eu gostaria de trazer que são pouco discutidas, como a das coleções biológicas, que são vistas como assunto externo aos museus.”

A biologia sempre pautou a vida de Carlos Brandão. Formou-se em Ciências Biológicas na Universidade de São Paulo em 1977 e, aos 19 anos, já fazia estágios em laboratórios científicos, como o Instituto Butantan. Em 1972, no começo de sua graduação, entrou no Museu de Zoologia, começando como estagiário não-remunerado. No início, trabalhava com répteis, mas logo a biologia molecular chamou sua atenção. Seu interesse foi tão grande que iniciou seu mestrado na Escola Paulista de Medicina.

Carlos Brandão tomando posse do Ibram, no dia 25 de dezembro. Ao seu lado, o ministro da Cultura, Juca Ferreira

Carlos Brandão tomando posse do Ibram, no dia 25 de dezembro. Ao seu lado, o ministro da Cultura, Juca Ferreira

Apesar de gostar da área molecular, logo descobriu sua verdadeira paixão, os animais sociais, ou seja, organismos que interagem fortemente com membros de sua própria espécie, a ponto de terem uma sociedade.  Ele abandonou seu mestrado na biologia molecular para se dedicar a esse novo campo de estudo das interações sociais, e voltou para o museu, agora para trabalhar com formigas.

“Por que só alguns grupos de animais são sociais? E por que eles têm um efeito ecológico maior comparados aos grupos solitários? Essa era minha ideia. Então eu comecei a estudar as formigas. Elas são um objeto de estudo muito interessante. Posso colocar uma colônia inteira embaixo da lupa, manipular taxas, colocar mais rainhas, mudar a demografia etc.”Apesar de seus estudos com os insetos, Brandão percebeu que não poderia parar por aí.

Fez mestrado pela USP, também em Ciências Biológicas, e terminou seu doutorado com foco em taxidermia, em 1980, pela mesma universidade. “Vi que tinha que me especializar na classificação, porque um museu basicamente trabalha com coleções. Logo percebi quem, com estudos nessa área, eu poderia ser contratado com mais facilidade”. Ele também publicou uma grande produção na área de comportamento, classificação e ecologia de formigas.
A atuação nos museus

 

Ninho de formigas, usado como estudo por seus orientandos

Ninho de formigas, usado como estudo por seus orientandos

Em 2001, Brandão assumiu a direção do Museu de Zoologia. Sua principal preocupação no mandato era expandir a difusão cultural. O professor conta que o museu sempre foi focado na produção científica e era muito reconhecido pelas agências de fomento, como CNPq e Fapesp, não sendo necessária tanta atenção.

A partir disso, o recente diretor deu ênfase na difusão da pesquisa que era realizada ali.  “Nós tínhamos há muitos anos uma exposição estática de animais empalhados. Já os laboratórios contavam com uma pesquisa dinâmica e atualizada. Quem entrava no museu achava que éramos um museu de taxidermia, que empalhava bichos que imitavam a natureza. Nós também conseguimos apoio da Reitoria pra reformar o prédio, pois estava em condições muito ruins. Isso causou uma grande revolução no museu, trazendo muito mais dinamismo para as exposições.”

Ele conta que a comunidade museológica passou a ver o Museu de Zoologia não só como órgão de pesquisa, mas também como um importante centro de difusão. Depois do seu mandato como diretor do Museu de Zoologia, em 2005, foi convidado para ser presidente do Icom (Conselho Internacional de Museus) no Brasil.

O órgão é uma ONG internacional de cunho diplomático, que trabalha todos os aspectos dos museus, com sede na Unesco, em Paris. Ele presidiu o comitê brasileiro por cinco anos. Como a sede do Conselho fica em Paris, Carlos Brandão viajava frequentemente para a França, onde ficava cerca de uma semana por mês. Porém, a maior parte de seu trabalho era feita no Brasil.

Brandão presidiu o Comitê Executivo do Conselho Internacional de Museus (Icom) entre 2006 e 2010, permanecendo como integrante até 2013

Brandão presidiu o Comitê Executivo do Conselho Internacional de Museus (Icom) entre 2006 e 2010, permanecendo como integrante até 2013

Uma de suas maiores realizações foi a Conferência Internacional do Icom no Rio de Janeiro, em 2013. Ele foi presidente do comitê organizador, e vieram quase 2.500 profissionais de todos os tipos de museus, sendo cerca de 700 só do Brasil.

 

Os caminhos da indicação

 

Brandão acredita que sua atuação no Icom e na direção do Museu de Zoologia foi fundamental para a indicação como presidente do Instituto Brasileiro de Museus. “Com essas duas experiências, participei de toda essa construção na área museológica que houve desde que o ministro Gilberto Gil tomou posse em 2001, quando houve a criação de uma política nacional de museus. Foram ouvidos profissionais brasileiros e o que eles esperavam de uma politica nacional.Essas sugestões foram sistematizadas, organizadas e geraram um documento em 2003, que lançava as bases da política nacional. Ela se baseia em preceitos éticos e aponta aonde queremos chegar, diferenciando-os de outras áreas da cultura.”

Ele também teve atuação no lançamento do Estatuto de Museus. O documento foi uma construção social, em que se ouviram os museólogos e os conselhos de outros órgãos, nos quais Brandão representava o Icom Brasil e participou do momento da entrega do projeto de lei à câmera nacional. O estatuto então regulamenta e legisla sobre os museus desde então.

 

Os desafios

 

Presidir o Ibram representa um grande desafio. “Nós temos mais de 3 mil museus no Brasil. E nem todos estão no mesmo nível de excelência e maturidade. Fazendo um mapeamento de suas localizações, sabe-se que menos da metade dos municípios brasileiros têm museus.” Porém, para o presidente, não se pode impor que um local construa um. “A comunidade tem que demandar memória. E isso já está acontecendo. É algo muito evidente no Rio, onde há coleções de comunidades e favelas em que não se trabalha com tesouros, coisas velhas e caras. Eles mostram com o que de mais importante agrega aquela comunidade.”

Brandão à esquerda, no lançamento da revista Estudos Avançados, em 1987

Brandão à esquerda, no lançamento da revista Estudos Avançados, em 1987

Uma das maiores dificuldades é a grande variedade de museus, pois cada um tem uma demanda e necessidade. “Os recursos são limitados, vamos ter que fazer escolhas. Não podemos apoiar todos na intensidade que eles merecem e gostariam de ter.”

Outro aspecto que Carlos Brandão quer dar destaque em sua gestão é no resgate de alguns programas que foram abandonados nos últimos anos, como as oficinas que o Ibram realizava. Nelas convidavam-se profissionais das áreas de museus, como por exemplo, oficinas em restauro, exposições e segurança. “Elas não vão formar pessoas, e sim atualizá-las.”

Apesar de assumir o cargo em Brasília, o professor continua sendo um pesquisador do Museu de Zoologia e trabalhando com formigas. Ele não pretende se afastar do laboratório, onde mantém seus alunos trabalhando em teses e dissertações. Em sua vida pessoal, Carlos Roberto Brandão é solteiro e não tem filhos, e possui um sítio em Piracaia, na beira da represa Cantareira. Nas horas vagas, diz que é um leitor aficionado e não consegue ficar sem um livro por perto. E um de seus hobbies é, obviamente, visitar os mais diversos tipos de museus.

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