Cinema

Cinema ao vivo

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Living Stereo, de Brian Mackern, filmes de arquivo e combinações de sons

 

 

Após passar pelo Rio de Janeiro, a 4ª edição da Mostra Live Cinema chega à capital paulista, trazendo artistas do Brasil, Uruguai e Argentina, que realizam performances em tempo real

 

Por Jéssica Camargo Stuque

 

“Tava queimando na estrada/Ao sol do meio-dia/E, de repente, o rádio tocou/Cena de cinema/Vi meu amor numa lambreta/Com a sua capa preta/Passou por mim, a menos de cem/E saiu de cena.” A típica cena de cinema, cantada nos versos de Lobão, ganha novo significado sob o prisma do “live cinema”. Também conhecido como “cinema ao vivo”, essa nova produção audiovisual – que se iniciou a partir dos anos 2000, em um contexto de convergências de tecnologias, meios e artes – contempla a execução simultânea de imagens e sons por artistas visuais, sonoros ou performáticos que apresentam suas obras ao vivo diante do público. Essa é a proposta da 4ª edição da Mostra Live Cinema, que, após passar pelo Rio de Janeiro, chega a São Paulo nesta quinta, no Sesc Pompeia, com apoio da Oi Futuro e do Goethe-Institut.

Pela primeira vez no Brasil, o uruguaio Brian Mackern exibe Living Stereo, performance que investiga o potencial de novas formas de estruturar sons e imagens. Para isso, o artista visual desenvolveu interfaces que permitem a criação de composições audiovisuais através de sequências apropriadas de filmes de arquivo, incluindo obras de cineastas como Tartovsky e Hitchcock, junto a diferentes combinações de sons. Além dessa, traz também sua Antologia Soundtoys, uma compilação de interfaces desenvolvidas ao longo de seus 12 anos de carreira. Em três telas serão exibidos soundtoys (brinquedos sonoros) criados por ele. As obras já foram apresentadas em vários locais ao redor do mundo, como Transmediale (Alemanha), Centro de Arte Nabi (Coreia), Museu Tamayo (México), entre outros.

Os alemães Kurt Laurenz e Lillevan são outros dois artistas que participam da mostra, trazidos pelo Goethe-Institut. Laurenz é fotógrafo e escultor de luz, e dedica sua obra a experiências visuais e à estética abstrata, não se referindo a nada especificamente. A obra que apresenta é Visual Piano, na qual consegue “tocar as luzes” através de um instrumento desenvolvido por ele mesmo, com a ajuda dos projetistas de software Roland Blach e Philip Rahlenbeck: o piano visual. Através de um teclado midi, é possível gerar padrões gráficos variáveis, e a plateia e a arquitetura do local se tornam os suportes para a projeção.

Ponto, um videogame vencedor, na qual o público pode jogar com o artista brasileiro Henrique Roscoe

Juntam-se a Laurenz dois músicos brasileiros, Miguel Barela e Thomas Rohrer, em um duo de improvisação livre: Barela processa e mixa ao vivo a rabeca e o sax de Rohrer, adicionando desvios eletrônicos em seus timbres. Já Lillevan trabalha com uma proposta bastante diferente, utilizando-se de animação, vídeo e novas mídias. Sua obra, Fixation Fields, explora a relação entre luz, ritmos, psicologia e óptica. Com a ajuda de um software personalizado, é possível gerar sons através da análise de sequências de imagens. A performance se transforma em uma experiência cinematográfica densa, em que sons e imagens são manipulados ali mesmo pelo artista.

Ainda entre os artistas estão os brasileiros Giuliano Obici e Alexandre Fenerich, com Metamerix. Trabalhando com a música experimental e explorando os diversos processos de criação sonoro-visual, a dupla criou um ensaio da arqueologia de um instante quase presente. A performance é dividida em duas partes. A primeira consiste em improvisar com objetos cotidianos que produzem sons, gravando tanto o som quanto a imagem da improvisação. Após isso, o material gravado é automaticamente remixado pelo software criado pelos artistas. Na segunda etapa, os performers exibem a cena e o filme remixado ao vivo para o público. Ainda do Brasil, Henrique Roscoe faz uma performance com sons e imagens sincronizadas, tocados com o uso de um console, controlados por dois joysticks. Ponto, um videogame vencedor é aberta ao público, que pode jogar com o artista e, inclusive, fazer parte da apresentação.

Origem

A primeira vez que o termo “live cinema” foi utilizado foi há mais de um século, para classificar uma sessão de cinema silencioso com execução de música ao vivo. O significado de cinema ao vivo que se conhece hoje se originou a partir da figura do VJ (DJ de imagens), nos anos 2000. A partir daí, com o auxílio das novas tecnologias que foram sendo criadas, outras formas de se experimentar o audiovisual foram desenvolvidas. Hoje, o cinema ao vivo agrega artistas do mundo inteiro, como o canadense Herman Kolgen, os japoneses Ryoji Ikeda e Daito Manabe e os brasileiros que participam da mostra. A ideia de realizar a mostra partiu de Luiz Duva e de Macia Derraik, que se dedicaram a inaugurar um formato de evento inovador no Brasil, com performances audiovisuais em tempo real. De acordo com Luiz Duva, o live cinema é uma arte que está se consolidando cada vez mais no Brasil, e já conta com artistas que se dedicam exclusivamente a pesquisas com áudio e vídeo. Sobre a mostra, ressalta que “tem o caráter de trazer pessoas de fora do País e fazer intercâmbio entre artistas”.

Outro aspecto importante destacado por Duva é “a possibilidade de o artista poder direcionar o trabalho dele em função das reações do público”. Segundo ele, há dois tipos de interatividade: a passiva, na qual apenas o artista interage com a plateia, e a de mão-dupla, na qual artista e público interagem. Além disso, a mostra serve como uma “vitrine do que está sendo produzido”.  E segundo as novas tendências e projetos que estão sendo produzidos, “a mostra não está mais cabendo no teatro”. Há uma tendência, por parte dos artistas, de “sair do palco de arena”.

A 4ª Mostra Live Cinema acontece na quinta e na sexta, a partir das 21h, no Sesc Pompeia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Entrada franca. Mais informações pelo site www.livecinema.com.br.

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