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Pais, vamos falar sobre autismo

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O fim das sacolas plásticas

 

Isabela Morais

Saúde

 

 Psiquiatra revela características, tratamentos e instruções para identificar transtorno psiconeurológico em crianças

 

Com uma alta incidência, os transtornos do espectro autista atingem um em cada 110 indivíduos em todo o mundo, segundo dados do CDC (Center for Disease Control) dos Estados Unidos. Aplicada à população nacional, essa estatística revela que só no Brasil existem cerca de 1,8 milhão de pessoas com autismo, embora não haja números epidemiológicos oficiais sobre o distúrbio no País.

De acordo com o médico psiquiatra Estevão Vadasz, do Instituto de Psiquiatria (IPq), o autismo é um transtorno do desenvolvimento psiconeurológico que impede o cérebro de processar e conduzir informações de modo adequado. “Por isso, ele é uma patologia da conectividade, ou seja, da conversação entre os neurônios”, explica.

As primeiras manifestações, que podem ser observadas entre o primeiro ou o segundo ano de vida, afetam basicamente três grandes áreas do desenvolvimento: a comunicação e a linguagem; a socialização ou sociabilidade; e os interesses e comportamentos. Portanto, caso a criança apresente dificuldades para se comunicar e dominar os jogos simbólicos da língua, falta de habilidade para interagir socialmente, interesses restritos e comportamentos repetitivos, os pais devem procurar imediatamente um médico psiquiatra. “Essa é a tríade que dá o diagnóstico clínico. Quanto mais cedo se descobre, melhor o tratamento. Quanto mais tarde, pior”, esclarece Vadasz.

O médico explica que os transtornos do espectro autista podem apresentar diversos graus de intensidade

Como a causa específica do desarranjo ainda é desconhecida, inexistem métodos biológicos que possam detectá-lo. Especialistas acreditam que ele surge de uma combinação de fatores genéticos e ambientais, como a exposição a vírus, toxinas, poluição, infecções virais e até mesmo traumas durante a gestação. O psiquiatra explica: “O distúrbio é uma agressão ao cérebro causada por centenas de motivos que geram danos muito peculiares. Por isso, não há remédio específico”.

A medicina, porém, caminha para reverter esse cenário. A boa notícia, divulgada recentemente em artigo da revista médica Science Translational Medicine, revelou que um tratamento experimental reduziu dois dos três grandes sintomas do autismo em ratos de laboratório – o comportamento repetitivo e a falta de socialização. O componente básico do remédio, a molécula GRN-529, agora vem sendo utilizada com bons resultados em humanos com Síndrome do X Frágil (um dos subtipos do transtorno). Para o médico, “mesmo que a ciência avance combatendo subtipos, se conseguirmos um bom número de medicamentos, podemos alcançar um bom tratamento biológico”.

O espectro autista

 

As manifestações do desarranjo acontecem em diversos graus, pois cada indivíduo apresenta sintomas que diferem em intensidade, variando de leve a grave. Todas essas expressões são enquadradas no chamado Espectro Autista. Vadasz explica que o espectro nada mais é do que uma linha reta, na qual em uma das extremidades há os casos de baixo funcionamento (graves) e na outra a síndrome de Asperger (tipo de autismo considerado leve).

“Os casos mais graves são os mais conhecidos. Acontecem naquelas situações em que a pessoa se encolhe ou balança o tronco e as mãos repetidamente”, explica. Entre os dois pontos dessa linha, há centenas de intensidades que passam também pelo médio e moderado funcionamentos. Segundo o psiquiatra, cerca de 70% dos autistas possuem algum retardo mental associado – geralmente aqueles de baixo funcionamento, que também revelam ter em maior número outros tipos de comorbidades (associação de doenças). “A epilepsia, por exemplo, é comumente presente nessas situações”, revela.

Já os indivíduos com síndrome de Asperger não apresentam grandes atrasos no desenvolvimento da fala, mas têm prejuízos na interação social e apresentam interesses e comportamentos limitados. Apesar de isolados, não ficam inibidos na presença de terceiros, mas podem abordá-los de maneira inapropriada ou excêntrica. Geralmente, não compreendem contextos afetivos e agem de forma formalista e sem espontaneidade. Seus repertórios de assuntos são limitados, mas são capazes de juntar uma quantidade incrível de informações sobre um único tema. “Em alguns casos de indivíduos com síndrome de Asperger é possível observar o que chamamos de savantismo, isto é, o desenvolvimento de habilidades extraordinárias em uma determinada área, como música, matemática, etc.”, conta o psiquiatra.

Tratamento

 

O tratamento das diversas expressões do espectro autista é feito com uma série de intervenções terapêuticas, psicológicas e pedagógicas divididas nos tipos TEACCH, ABA e PECS, que intervém nas três principais áreas comprometidas: comunicação, sociabilidade e comportamento.

As intervenções do método TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Communication Handicapped Children) têm como objetivo facilitar a aprendizagem do autista com apoio da psicolinguística. O tratamento parte da afirmação de que a linguagem é resultado da transformação em símbolos da informação captada pelos sentidos. Por isso, na terapia são utilizados estímulos visuais e sensórios, como fotos, figuras e cartões que visam a proporcionar melhor comunicação.

O ABA (Applied Behavior Analysis) consiste no ensino de habilidades necessárias para que o indivíduo possa adquirir a melhor qualidade de vida possível e na correção de comportamentos. O método envolve principalmente os comportamentos sociais, como contato visual, comunicação funcional, escrita, matemática e até mesmo atividades de higiene pessoal. Ajuda a diminuir agressões, autolesões e fugas.

Já o PECS (Picture Exchange Communication System) funciona como um pacote de treinamento que ensina a crianças e adultos com o desarranjo os princípios da comunicação. O método, bem simples, faz com que o indivíduo troque uma imagem por algo que deseja, podendo assim se expressar melhor. “Um tratamento bom envolve 20 horas nessas três áreas, que devem ser distribuídas de acordo com a necessidade do paciente. E, é claro, há outras atividades complementares diversas”, indica o médico.

 

Tão diversos quanto todos

 

De acordo com Ana Beatriz Valério Coutinho, formada pelo Instituto de Psicologia (IP) e especialista em Psicologia da Infância, as brincadeiras restritivas e repetitivas e a ausência de um imaginário de “faz-de-conta” costumam dificultar o processo de escolarização. Mas por ser diverso, o autismo não pode ser encarado a partir de um único caminho predeterminado. “Cada criança apresenta aspectos ímpares em sua constituição psíquica. É importante considerar essa singularidade da condição de cada uma na proposição de um projeto terapêutico e educacional”, esclarece.

No ambiente escolar, a psicóloga – que prepara seu doutorado pela Faculdade de Educação (FE) – aponta a necessidade de cobrar dos educadores uma abertura para a construção de diferentes trajetos de aprendizagem. Por isso, é essencial que professores “tenham uma rede de interlocução e de troca de experiências que possa ampará-los nas dificuldades e descobertas de sua prática educativa”, recomenda.

E se os variados tipos de preconceito sempre fizeram parte do universo escolar, a escola não deve ignorá-los, mas sim, utilizá-los como material de trabalho. De acordo com Ana Beatriz, é claro que a exclusão da diferença existe e faz parte da forma como os seres humanos se relacionam, mas medidas proibitivas não são os melhores métodos de eliminar esse comportamento. Ela sugere que “é mais interessante fortalecer as outras formas de relação entre as crianças para sensibilizá-las sobre o sofrimento do outro”. Afinal, por que excluir e satirizar aqueles que são tão diversos como todos nós?

 

Serviço

 

O IPq, centro de referência nacional no tratamento do autismo, atende mais de 600 pacientes na área. Os tratamentos envolvem atividades lúdicas, divididas em dois grupos: adolescentes e adultos com a síndrome de Asperger são atendidos pelo programa Estação Espacial, que trabalha habilidades sociais de comunicação e convivência. Já as crianças autistas recebem um tratamento alternativo, com sessões assistidas por cães. Se você deseja agendar uma consulta com a equipe do instituto entre em contato pelo telefone (11) 2661-6440, das 8h às 18h, de segunda a sexta. O endereço do IPq é rua Dr. Ovídio Pires de Campos, 785, Cerqueira César, São Paulo, próximo ao metrô Clínicas.

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