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Um tempo para pensar sobre o tempo

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Carros e meio ambiente em São Paulo

 

Por Ana Luiza Tieghi

DivulgaçãoArtista paraibana referência no uso de materiais naturais expõe no MuBE

 

A passagem do tempo é um assunto que sempre interessou à humanidade. Esse ritmo misterioso e invisível que dita a velocidade da vida, e já foi estudado por físicos, matemáticos e filósofos, foi a inspiração utilizada pela artista plástica Marlene Almeida para sua exposição “Tempo para o Destino”.

Nascida em João Pessoa, a artista paraibana é exemplo da arte feita fora do eixo Rio-São Paulo que também merece reconhecimento e que encontrou no MuBE (Museu Brasileiro da Escultura) espaço para ser vista. “Nos últimos anos, de forma geral, tem havido mais intercâmbio cultural entre os diversos Estados brasileiros”, afirma Tereza de Arruda, curadora da exposição. “O MuBE é no contexto da arte contemporânea paulistana uma plataforma aberta à pluralidade regionalista de nosso país. Esta instituição está de portas abertas para expor não somente o conhecido, mas também o novo e singular”, complementa.

Em um país tão grande quanto o Brasil, a variedade artística é enorme, mas nem sempre existem espaços dispostos a exibir a arte feita fora da Região Sudeste. “O que é produzido fora do eixo Rio-São Paulo é em si bastante autêntico e surge distante das ditaduras de tendências, muito usuais nos grandes centros culturais”, afirma a curadora da exposição. Quem perde com a falta de acesso é o público, que fica privado de conhecer a cultura e a criatividade dos artistas de outras regiões brasileiras. “Acho muito importante o intercâmbio cultural. Definitivo para a consolidação da arte de um país tão extenso e com diferenças tão marcantes como o nosso”, diz Marlene.

 

Descobrindo a própria arte

 

Tubos de algodão preenchidos com areia, onde o tempo não se esvai

Tubos de algodão preenchidos com areia, onde o tempo não se esvai

O interesse de Marlene Almeida pelos materiais naturais surgiu da preocupação em encontrar formas de fazer sua arte que não agredissem o meio ambiente, ainda nos anos 70. Para isso, ela recorreu à pesquisa apoiada por instituições de ensino. “Com o apoio da Universidade Federal da Paraíba e do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – desenvolvi um projeto que teve como objetivos identificar pigmentos e aglutinantes próprios para a produção de materiais artísticos, mapear os sítios dos afloramentos e organizar um mostruário de cores”, conta a artista.

Seu trabalho inovador foi amplamente reconhecido no Brasil e no exterior. Marlene ministrou cursos, palestras e workshops em universidades e museus de vários Estados brasileiros, além de ser convidada por instituições culturais de países como Cuba e Alemanha para mostrar seu trabalho.

Mesmo estando longe dos grandes centros, a artista mostra que é possível alcançar o reconhecimento no mundo da arte e fazer suas obras serem vistas. “Para o artista não dá para dizer o que é centro e o que é margem, somos todos margem, ou somos todos centro, dependendo do ponto de vista. Na margem ou centro, sempre me sinto acolhida ou luto por isto”, afirma.

Exibida pela primeira vez no ano passado, em João Pessoa, a exposição aborda a passagem do tempo de formas variadas. Na série Varas de Sombra encontram-se tubos de algodão preenchidos com areia, uma alusão às formas mais antigas de se medir a passagem do tempo, anterior até mesmo às ampulhetas. Diferentemente destas, nos tubos de algodão a areia não se esvai, pois eles estão fechados. Isso representa o desejo de controlar ou mesmo parar a passagem do tempo.

A artista plástica Marlene Almeida em meio a suas obras

A artista plástica Marlene Almeida em meio a suas obras

Também faz parte da mostra o aviso comumente encontrado em voos internacionais, onde está escrito time to destination. Se no contexto das aeronaves a frase significa o tempo restante de viagem até o destino desejado, na exposição ela adquire novos significados. “A expressão passa a indicar um destino desconhecido, incerto, sem data ou horário previstos”, conta Marlene.

Mudando o sentido original de símbolos da passagem do tempo, Marlene Almeida faz pensar sobre a forma com a qual ele rege a vida de todas as pessoas. Suas obras provocam uma reflexão sobre como gastamos o nosso tempo, questão que aflige a própria artista: “Se o entendimento da dependência do ser humano à passagem do tempo era a grande preocupação que sempre me acompanhou, agora, com a idade que acumulo (a artista tem 71 anos), a sensação de efemeridade, de fragilidade, é muito maior”, revela.

A exposição “Tempo para o Destino” pode ser visitada no MuBE entre os dias 8 e 26 de maio,nas salas Burle Marx e Pinacoteca do museu, que fica na avenida Europa, 218, Jardim Paulista, em São Paulo.

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