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Universidade cria instituto sobre o Holocausto

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Por João Vitor Oliveira
Guerrilheiros que resistiram e sobreviveram às tropas nazistas nos bosques poloneses, por volta de 1942-43

Guerrilheiros que resistiram e sobreviveram às tropas nazistas nos bosques poloneses, por volta de 1942-43

Direitos Humanos

Com milhares de documentos disponíveis, objetivos são pesquisa, informação e educação em direitos humanos

Estamos acostumados a chamar de Holocausto o extermínio de milhões de pessoas pertencentes a grupos politicamente indesejados pelo regime nazista de Adolf Hitler. A palavra, no entanto, vem do grego Holókauston – traduz-se “completamente queimado”, fazendo uma aproximação para o português – e era utilizada, séculos atrás, para designar um sacrifício dado em oferenda aos deuses, um ritual religioso de cremação de corpos. Por conta disso, muitos judeus preferem dar ao Holocausto o nome de Shoah, que em língua iídiche – um dialeto do alemão falado por judeus ocidentais – equivale a calamidade.

É esse termo que dá nome ao recém-fundado Instituto Shoah de Direitos Humanos (ISDH), resultado de uma parceria do Laboratório de Estudos da Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) com a entidade judaica B’nai B’rith do Brasil. Sediado no prédio da B’nai B’rith em São Paulo, o instituto vai administrar um acervo inicial de cerca de 12 mil documentos sobre o Holocausto reunidos nos últimos anos por pesquisadores do LEER.

Cerimônia de lançamento do instituto aconteceu em dezembrodo ano passado

Cerimônia de lançamento do instituto aconteceu em dezembro do ano passado

“A nossa missão é, de uma maneira geral, pesquisar, informar e educar sobre os perigos do racismo, da xenofobia e do negacionismo que têm proliferado em várias partes do mundo nestes últimos anos”, explica Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do LEER e professora do Departamento de História da FFLCH.

A ideia surgiu da necessidade emergencial de se criar uma sede para abrigar as atividades de pesquisa e ações educativas que, desde 2002, Maria Luiza vinha realizando junto à B’nai B’rith. Em 2006, com a criação do LEER, foi aprovado pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) o projeto Arqsoah – Arquivo Virtual sobre Holocausto e Antissemitismo, o qual virou fonte de material para os vários pesquisadores que, interessados em desenvolver trabalhos sobre o tema, procuravam o LEER. Além disso, a evolução das Jornadas Interdisciplinares para o Ensino do Holocausto, evento direcionado a docentes do ensino fundamental e médio criado pelo LEER e o B’nai B’rith também em 2002, trouxe um número cada vez maior de professores em busca de material didático sobre o assunto. No ano passado, por exemplo, a atividade reuniu cerca de 1.200 educadores em São Paulo. Diante desse cenário, decidiu-se como necessária a formação do instituto.

O acervo inclui documentos oficiais, testemunhos, fotografias, passaportes, diários e outros objetos doados por sobreviventes do Holocausto que buscaram refúgio no Brasil. Trata-se de um arquivo continuamente alimentado por constantes contribuições dos guardiões de pedaços desse passado que não pode ser esquecido.

“É nesse conteúdo que está o nosso diferencial”, declara Maria Luiza. “Nos concentramos em documentos e testemunhos que permitem uma reavaliação dos atos de violência praticados pelos nazifascistas contra os judeus, ciganos, homossexuais, negros e dissidentes políticos durante a Segunda Guerra, somando nosso conhecimento com o de outras instituições.”

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro é estudiosa do antissemitismo há décadas

A professora Maria Luiza Tucci Carneiro é estudiosa do antissemitismo há décadas

A professora destaca que, em breve, será assinado um convênio com o Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, que disponibilizará cópias digitalizadas de milhares de processos de naturalização e milhões de Fichas Consulares de Imigração, enriquecendo as histórias de vida dos refugiados e sobreviventes radicados no Brasil.

Educação em direitos humanos

A educação é o valor que rege as atividades do ISDH com o público. Além da pesquisa, o instituto concentra suas energias na promoção de ações direcionadas para a formação de professores. “O ISDH não é um museu. Não irá, neste momento de implantação, dispor de salas expositivas com apresentação de peças sobre o Holocausto ou documentos que contêm a história de vida de sobreviventes do genocídio”, declara Maria Luiza.

Serão organizados concursos e jornadas interdisciplinares visando ao ensino da história e memória do Holocausto; oficinas e workshops ligados ao teatro, música e literatura, dedicados à formação de educadores interessados em pesquisar e em orientar a criação de projetos pedagógicos; além de colóquios, simpósios, seminários com especialistas, encontros de gerações e cursos sobre o episódio, que promoverão reflexões a respeito de conceitos como democracia e cidadania.

“Optamos por investir em projetos educativos porque o obscurantismo e o silêncio proposital são elementos a serem combatidos com a informação”, comenta a professora, que vai além: “O respeito ao próximo e a valorização da diversidade deveriam ser prioridade em qualquer plano de governo e em todos os programas educacionais desde o ensino fundamental ao universitário”.

O papel da Universidade

"Acervo

A USP, por tradição, é uma instituição dedicada aos direitos humanos em todas as suas dimensões. Possui, inclusive, sua própria Comissão de Direitos Humanos, que tem como objetivo ser um sistema integrado de pesquisa, reflexão, informação, documentação e difusão no campo dos direitos individuais e coletivos, administrando a Biblioteca Virtual de Direitos Humanos da Universidade.

Maria Luiza já participou em vários anos como membro da Comissão. Para ela, a parceria com o Instituto Shoah reafirma a competência universitária em busca de soluções para questões relacionadas com a concretização dos direitos humanos no Brasil.

“Esperamos, dessa parceria, que persista um processo de criação conjunta, envolvendo a reciprocidade que, neste empreendimento, extrapola a academia”, declara. “Daí a necessidade do envolvimento não apenas das Pró-Reitorias, como também de outras unidades da Universidade. Direitos humanos não tem departamento, é um direito e dever de todos”.

Interessados em doar material sobre o Holocausto e recursos (Lei Rouanet) devem entrar em contato pelo e-mail isdh@bnai-brith.org.br. O Instituto Shoah fica na Rua Caçapava, 105, 4ºandar, Jardins, São Paulo.

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