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A influência dos astros: técnica ou metafísica?

A grandiosidade e o mistério que envolvem os astros aguçam a curiosidade sobre seus poderes de intervenção em nossas vidas

Por Maria Clara Matos

O céu é mapa, calendário, relógio, morada dos deuses e, talvez, a dos humanos que bem se comportarem. Os registros astronômicos mais antigos datam de aproximadamente 3000 a.C. e se devem aos babilônios, chineses, assírios e egípcios. Os astros eram estudados com objetivos práticos, como medir a passagem do tempo ou com viés astrológico, para fazer previsões do futuro. Hoje a duplicidade de leitura desses astros permanece e o consenso é de que a influência deles sobre nós é considerável.

Roberto Bozcko, professor do Instituto de Astronomia e Geofísica, explica que do ponto de vista científico os astros influenciam a vida das pessoas e da própria Terra, uma vez que é a luz do Sol que define o ciclo do dia e da noite sem o qual muito provavelmente não existiria vida na Terra. Mas além do planeta, o astrônomo chama a atenção para a influência causada pela Lua.

O fênomeno das marés, segundo o professor, está ligado às forças gravitacionais diferenciais provocadas pelo satélite. Ele explica que essas forças funcionam como um elástico que é puxado mais para a direção da Lua. Assim, como o planeta não é um corpo rígido, o lado que está voltado diretamente para o satélite é puxado mais do que pontos diametralmente opostos, como as diferenças de marés existentes entre o Brasil e o Japão , por exemplo. “O conhecimento de que a Lua influencia as marés é uma coisa muito antiga. Certamente os primeiros homens que utilizaram um porto para sair com seus navios, possivelmente há mais de 4 mil anos atrás, já tinham associado as marés com as fases da Lua. É simples perceber que quando a Lua nasce a maré é baixa e quando a Lua está passando acima de nossas cabeças a maré é alta”, esclarece Bozcko.

Os demais planetas também exercem fenômenos de marés, assim como de radiação, mas o professor aponta que são de intensidade muito pequena, uma vez que estão distantes demais. Mitos em relação às fases da Lua não faltam e o astrônomo não deixa de esclarecê-los. Nascem mais crianças na Lua cheia, porque sua força gravitacional auxilia no parto; para que cresça o cabelo deve ser cortado em determinada fase da Lua e para que a safra seja boa deve ser plantada e colhida em dias corretos. Essas e outras receitas não têm correlação alguma com as fases do satélite garante o professor do IAG.

Roberto Bozcko, professor do Instituto de Astronomia e Geofísica

Roberto Bozcko, professor do Instituto de Astronomia e Geofísica

Outro assunto delicado é a astrologia, mas nesse assunto o professor diz ser necessário cuidado para que não sejam feitas análises generalistas. Segundo Bozcko, alguns cientistas costumam se arvorar da idéia de que explicam tudo e aquilo que ele não sabem explicar não existe. “Essa é uma atitude um tanto quanto perigosa e anticientista, porque o pesquisador deve estar aberto a novas descobertas, procurar explicar novos fatos”, comenta. Mas ele pondera e opina que tudo para o que não há explicação também não pode ser considerado prontamente sobrenatural.

A Universidade Federal de Brasília (UnB) criou em 1989 o Núcleo de Estudos de Fenômenos Paranormais que comporta pesquisas sobre ufologia, astrologia, terapias integrativas, entre outras. O coordenador do grupo enfatiza que um dos principais objetivos é “levar o conhecimento popular para o mundo acadêmico” e com isso dar uma interpretação científica ao popular.

Para Francisco Seabra, pesquisador do núcleo de estudos da UnB, “a criação do grupo aumentou o nível de exigência e da capacidade crítica no trato com a matéria”. Os estudos realizados por Seabra, Paulo Celso dos Reis Gomes, do Instituto de Tecnologia, e pelo professor Hiroshi Masuda, do Departamento de Engenharia, também da UnB, utilizam a Teoria das Determinações Astrológicas de Jean Baptiste Morin de Villefranche na interpretação de mapas astrológicos. O pesquisador destaca a importância da teoria de Morin que permite exatidão na interpretação do mapa. Tendo isso em vista, o astrólogo defende a criação de núcleos de estudos em outras universidades, preferencialmente, ligados às cadeiras de física e psicologia.

Seabra comenta que acredita que a astrologia tanto no Brasil como no mundo esteja bem evoluída, embora ainda não seja aceita pelo universo acadêmico. “O nível de aceitação é bastante baixo. Creio que parte dos danos advém de profissionais de imprensa e de astrônomos desinformados sobre a astrologia. Porém, a grande culpa deve recair sobre a própria categoria dos astrólogos que permite em seu seio profissionais que não dominam o assunto”, enfatiza.

Bozcko pondera e exemplifica com a questão da astrobiologia, ou exobiologia, isto é, o estudo de formas de vida na Terra e também fora dela. O professor conta que: “Durante muito tempo essa idéia de que a exobiologia pudesse existir era considerada simplesmente uma atitude não científica e quem ousasse falar isso era simplesmente banido de qualquer convívio de sociedades astronômicas científicas. Há poucos anos foi incluída na União Astronômica Internacional uma comissão especialmente criada para o estudo da exobiologia, ou seja, passou a ser um estudo científico”.

Serviço

http://www.nefp.unb.br/astro.html

7 comentários sobre “A influência dos astros: técnica ou metafísica?”

  1. Roberto Dias da Cost disse:

    É pena que a Revista Espaço Aberto tenha iniciado 2009, o Ano Internacional da Astronomia por decisão da Assembléia Geral da ONU, com uma matéria tão ruim sobre o tema. Em vez de abordarem as notáveis descobertas dos últimos anos na área, a autora limitou-se a uma discussão vazia sobre astrologia!!! Talvez isso reflita suas superstiçõea e crenças pessoais, mas certamente é um desserviço aos leitores da revista.

    Surpreende-me a surpresa do prof. Francisco Seabra, da UnB, de que a astrologia tem "nivel de aceitação bastante baixo".

    Isto é o normal! Seria inacreditável se, em pleno século XXI, a maioria das pessoas aceitasse uma superstição arcaica como esta. A aceitação da astrologia é baixa por razões bem objetivas: as "previsões" astrológicas não sobrevivem a testes estatísticos elementares e podem ser desmentidas por qualquer estudante de estatística. Argumentos de que "as marés provam que os astros influenciam as pessoas" são risíveis e só mostram que as pessoas não sabem o que é força de maré, e que a autora provavelmente não entendeu o que disse o professor Boczko.

    Péssima matéria.

  2. MARIA AMELIA disse:

    Adorei ter visto que a Universidade resolveu, ao menos, tocar no assunto. Gostei dos comentários feitos na matéria sobre aqueles que não estão acostumados a pensar além do convencional!!!

    Amo estudar a astrologia e astrofísica.

    Parabéns pela publicação!!

    MARIA AMELIA ZOGNO

    Depto. de Reprodução Animal –

    FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA

    UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO – Tel.:011 3091 1206 com.

    cel. 011 9715 5008

  3. Giancarlo C. X. Oliv disse:

    Concordo plenamente com o comentário do sr. Roberto Dias da Costa. O artigo da sra. Maria Clara Matos provavelmente em nada ajudará a USP a atingir a classe mundial que a universidade almeja. O artigo peca por dar, talvez inadvertidamente, indevido status de ciência à brincadeira de gente grande chamada de astrologia. Os cientistas, as universidades e o público têm o dever intelectual de serem céticos com relação a todo tipo de conhecimento, incluindo hipóteses sobre o funcionamento da natureza e técnicas para a predição do futuro. Qualquer um pode lançar as hipóteses que quiser, mas elas só serão levadas a sério se se apresentarem evidências fortes, independentes, numerosas e repetidas em seu favor. Newton, Darwin, Mendel, Einstein e todos os outros cujas teorias são parte de livros textos universitários hoje em dia tiveram que submeter suas idéias a esse teste imposto pelo rigor da ciência, e mesmo assim, partes de suas teorias tiveram de ser revisadas e consertadas por cientistas que vieram depois, o que é normal e desejável em ciência – não é fácil desvendar os segredos da natureza. Repito, não é fácil, não basta a imaginação criativa, é necessário que os testes não joguem por terra as teorias. Ninguém deve acreditar de pronto numa teoria se não há evidências. Pois bem, nós, os céticos, estamos esperando há 5000 anos por evidências para as hipóteses astrológicas (bem menos do que tiveram Copérnico, Freud, Wegener, McClintock et al.). Suas previsões nunca acertam mais do que seria de se esperar por mera obra do acaso. Os perfis psicológicos que os mapas astrais produzem são amontoados de generalidades que se encaixam em qualquer pessoa, mesmo que ela seja de outro signo. Nunca se determinaram explicações físicas, químicas ou biológicas para a suposta fenomenologia astrológica. Nunca se propôs uma única explicação física razoável para a suposta influência sobre nosso comportamento, e muito menos sobre nosso futuro, de conjuntos de estrelas que só parecem estar juntas formando uma constelação devido ao ângulo particular sob o qual as observamos (fato sobre o qual os babilônios e chineses antigos não faziam a menor ideia), mas que na verdade estão a diversas distâncias da Terra, e distâncias grandes demais para que suas emissões de radiação superem as das rochas radiativas do próprio planeta ou a força gravitacional de uma geladeira próxima. E por que essa importância toda da hora e data do nascimento? Será que a parede do útero protege a criança da influência dos astros até o último segundo de gestação? Será que a fricção do bebê contra a vagina potencializa os raios cósmicos no parto? E os gêmeos idênticos que têm destinos diferentes?

    Todo interesse intelectual que um cético pode ter na astrologia só pode ser antropológico/sociológico/psicológico, isto é, como objeto de estudo e não como metodologia séria de estudo em si. A debilidade da astrologia não deriva das suas conclusões, mas sim da ausência do uso de métodos de qualquer natureza que as ponham à prova.

    A respeito da exobiologia, antes que ela se firmasse como estudo sério, era perfeitamente aceitável que alguém perguntasse "existirá vida fora da Terra?" ou que afirmasse "considerando as condições ambientais da Terra que permitiram o surgimento da vida, é razoável achar que exista uma certa probabilidade de que haja vida em outros planetas". Agora, inaceitável seria dizer "existe, sim, vida na constelação de Andrômeda, mas não podemos visualizá-la; também não temos nenhuma evidência química, física ou de qualquer outra natureza sobre ela, mas garanto que vamos obtê-las em breve e, então, explicaremos os métodos que nos permitiram chegar a esta conclusão". Que periódico publicaria isso?

    Que jornais sérios como o Estadão publiquem seções de astrologia já é constrangedor e antieducacional demais. Que universidades sérias (e a USP é muito séria) dessem trela a tais anacronismos seria estupefaciente.

    Giancarlo C. X. Oliveira

    Departamento de Genética

    Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiróz" – USP

    Piracicaba – SP

  4. Gostaria de parabenizar a senhora Maria Clara Matos pela excelente matéria destituída de preconceitos e superstições, o que não foi o caso dos comentários dos leitores Roberto Dias da Costa e Giancarlo Oliveira. Entretanto, estou percebendo que a aceitação da Astrologia enquanto ferramenta para auto-conhecimento, incluindo prevenções e diagnósticos está crescendo cada vez mais. Inclusive no meio acadêmico. Sou astróloga em Brasília e tenho diversos clientes que são professores da UnB, Ceub e até mesmo da Universidade Católica. Atualmente, desenvolvo uma pesquisa juntamente com uma doutora em Genética da UnB estudando a afinidade entre os 4 Elementos da Natureza e as 4 bases nucleotídicas. Empresários utilizam o trabalho do astrólogo para seleção de empregados mais enquadrados a determinadas funções. Psicólogos e Homeopatas também consultam a Astrologia a fim de definir com maior precisão o diagnóstico do cliente, principalmente quando o desequilíbrio emocional é enfático. Sim, existe um crescimento do uso da verdadeira Astrologia em todas as áreas, mesmo que não seja revelado ou reconhecido, justamente por causa de preconceitos e a própria falta de conhecimento daqueles que mais criticam a Astrologia. O professor Bozcko foi brilhante quando disse que é “necessário cuidado para que não sejam feitas análises generalistas. “ As análises generalistas dentro da Astrologia chamam-se horóscopo de jornal. Isto NÃO é Astrologia, é uma brincadeira. Astrólogo profissional não faz horóscopo de jornal! “Segundo Bozcko, alguns cientistas costumam se arvorar da idéia de que explicam tudo e aquilo que ele não sabem explicar não existe. Essa é uma atitude um tanto quanto perigosa e anticientista, porque o pesquisador deve estar aberto a novas descobertas, procurar explicar novos fatos”, comenta. Excelente este comentário! A Astrologia funciona de acordo com a Analogia, matéria muito estudada por filósofos e empregada pelo psicólogo analítico Carl G. Jung na sua teoria dos arquétipos. O dia em que a ciência acadêmica deixar de ser tão cartesiana os horizontes serão expandidos e “tudo aquilo que não sabem explicar” terá uma explicação. A Medicina e a Psicológica deixarão de errar e de demorar tanto para definir diagnósticos.

    Mônica C. Schwarzwald

    Astróloga em Brasília, Asa Norte, DF
    http://www.templodeminerva.com

  5. Daniella disse:

    Acredito sim na influência dos astros sobre a vida das pessoas e da terra. Acho que a astrologia é uma área do conhecimento humano milenar que deve ser respeitada e merece estudos mais aprofundados cientificamente. A corrente do misticismo influenciou negativamente a astrologia com a publicação de horóscopos, reduzindo e generalizando esse conhecimento. Para ter de volta a credibilidade e aceitação como verdade e instrumento útil para a compreensão da vida e orientação nas tomadas de decisões, a astrologia necessita de validação científica.

    Uma prova da importância e utilidade da astrologia é sua presença na cultura indiana e aplicação no cotidiano dessa gente que representa uma das civilizações mais antigas do mundo.

    Falta estudo mais aprofundado e organização das informações astrológicas que já existem. Acredito que a união dos conhecimentos da astrologia e astronomia trará bons frutos para o conhecimento humano a respeito da influência do cosmo em nossas vidas. É evidente que o sol, a lua e os outros planetas do sistema solar influenciam tudo que há no planeta Terra. O sol permite a incrivel biodiversidade na face da terra. As culturas tradicionais brasileiras conhecem e aproveitam na prática a influencia da lua em suas plantações. Trabalho com grupos etnos e vejo que é simplesmente possível provar essa influencia lunar cientificamente.

    Concordo com Francisco Seabra que há muitos astrônomos desinformados sobre a astrologia, que o nível de aceitação da astrologia é bastante baixo e que há indivíduos que se dizem astrólogos e não estão preparados para exercer a profissão. Deveria existir critérios mais rígidos para dar a uma pessoa a permissão para exercer a astrologia.

    Acho também que um grande problema da atualidade no meio acadêmico é que os cientistas se dizem céticos e donos da verdade. Antes era a igreja que ditava a verdade, hoje são os cientistas. Essa idéia inflexível do ceticismo limita as infinitas possibilidades da vida.

    Fico feliz ao ler matérias, artigos, ainda mais num espaço como esse, que coloquem em discussão a astrologia e astronomia juntas. Acredito no potencial da astrologia e gostaria muito de conhecer mais a astronomia. O pouco que sei sobre astrologia já me faz pensar com a visão do cosmo e aplicar esse conhecimento no meu dia-a-dia. Tenho muita vontade de ver a astrologia com a credibilidade que merece e incluída no meio acadêmico.

  6. Alexey Dodsworth disse:

    Meus parabéns ao professor Bozcko por sua declaração no que concerne aos perigos da postura anticientista. A astrologia pode não ser explicada pelos entendimentos atuais da ciência, mas quando um cientista rejeita o assunto a priori, tratando como "tolice" algo que nunca estudou, tolo é o cientista. A melhor postura diante do que não conhecemos é a postura agnóstica. Precisamos de mais cientistas como o professor Bozcko, para evitar a arrogância e prepotência quase sacerdotal destas pessoas.

  7. Carlos disse:

    Cmo faço para entrar em contato com a jornalista Maria Clara Matos?

    grato,

    att,

    Carlos Alberto Machado

    Doutor em Educação pela PUC-Rio

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