comunidade usp

Ansiedade pode levar a disfunção temporomandibular

Dores faciais podem ser causadas por disfunção na articulação temporomandibular. Um dos motivos pode ser a ansiedade

Por Roberta Figueira

Quando comemos, dificilmente prestamos atenção em como está nossa mastigação. Esse movimento envolve músculos e articulações, uma delas é a temporomandibular (ATM). A ocorrência de disfunção temporomandibular (DTM) é comum e pode gerar diversos problemas, mas pode ser tratada. É para combater esse problema que a Faculdade de Odontologia criou, em 1992, o Serviço de Oclusão e ATM (SOATM), que oferece atendimento à comunidade e estágio para alunos e profissionais.
O termo DTM abrange vários problemas clínicos que envolvem a musculatura da mastigação, a articulação temporomandibular e as estruturas associadas do sistema estomatognático. Porém, segundo o professor José Benedito Dias Lemos, do Departamento de Cirurgia, Prótese e Traumatologia Maxilofacial, o termo é mais utilizado no dia a dia para as limitações da função causadas por contraturas musculares ou por alterações dos elementos internos da articulação, como os deslocamentos do disco articular.
“Apesar de a DTM ser comum, não podemos diagnosticá-la erradamente, atribuindo a ela a culpa por todas as dores faciais que não tenham uma causa imediatamente visível”, afirma o professor. As dores devem ser analisadas em todos os seus aspectos e um exame clínico completo deve ser realizado.
Os sinais mais frequentes observados durante o exame clínico são a diminuição da função mandibular em movimentos de abertura ou lateralidade, a cobertura muscular e dor à palpação dos músculos mastigatórios e posturais da cabeça e pescoço. Além disso, ainda há ocorrência do apertamento dentário chamado bruxismo e ruídos na abertura ou fechamento da mandíbula.
Os pacientes costumam relatar dor de cabeça, algumas vezes com irradiação para a face, fadiga e sensibilidade na musculatura facial relacionada à mastigação e dor de ouvido, conta Dias Lemos.
O tratamento, para os casos da chamada disfunção extra-articular, que envolve os músculos faciais e posturais, é clínico, sendo iniciado interrompendo-se o ciclo de dor e melhorando a movimentação articular e a postura do paciente. Nesses casos os dentistas utilizam medicamentos anti-inflamatórios, analgésicos e relaxantes musculares. “O concurso da fisioterapia é de grande ajuda, bem como a atenção fonoaudiológica, para a melhora da função dos órgãos fonoarticulatórios”, conta o professor. Em casos em que o paciente apresenta-se muito ansioso, a avaliação e o apoio de psiquiatras e psicólogos podem ser necessários. Segundo ele, o uso de aparelho dentário passivo, a placa interoclusal, é de grande ajuda.
Já o tratamento para lesões intra-articulares, quando há deslocamentos do disco articular e traumatismos, pode abranger inclusive procedimentos cirúrgicos, com a abordagem direta da articulação.
Além dos problemas relacionados especificamente aos sinais e sintomas, a DTM pode causar alterações do sistema auditivo, como zumbido, sensação de ouvido tampado, sintomas semelhantes a labirintite, náusea, enjoo, problemas de postura, de natureza neuromuscular e psicossociais, explica o professor Matsuyoshi Mori, especializado em ATM.
As disfunções extra-articulares podem gerar casos de dores crônicas da articulação, com limitação progressiva dos movimentos e eventualmente até a ocorrência de quadros intra-articulares, pela repetição do trauma sobre as estruturas articulares. “O hábito de apertamento dentário (briquismo) pode levar a desgastes dentários excessivos, fraturas dos dentes ou mesmo à necrose pulpar (morte do nervo do dente)”, diz Dias Lemos.
Até a década de 1960, a oclusão dentária era apontada como a grande causadora da disfunção. Esse conceito começou a mudar quando foram introduzidos conceitos de envolvimento dos quadros de ansiedade na gênese da disfunção extra-articular da ATM.
Para Dias Bastos, para haver um quadro de disfunção extra-articular da ATM, o paciente precisa ter fatores anatômicos e funcionais que facilitem o quadro: perdas dentárias que interferem nos movimentos articulares, hábitos como morder objetos, restaurações ou próteses insatisfatórias e, por último, quadros de ansiedade. “Uma das respostas à ansiedade é a contração muscular, que pode atingir várias regiões do corpo, principalmente a face”, explica o professor.
Para prevenir é necessário manter a saúde bucal e evitar esses quadros de ansiedade excessiva. Segundo o professor Mori, o diagnóstico e o tratamento precoce também são importantes para evitar desdobramentos do problema.
Além do SOATM, de responsabilidade da disciplina de Prótese Fixa do Departamento de Prótese da FOUSP, existem alguns serviços na faculdade que se preocupam com o atendimento de pacientes com disfunção de ATM. O mais antigo é o da disciplina de Traumatologia Maxilofacial, fundado pelo professor Barros na década de 1960.

Deixe um Comentário

Fique de Olho

Enquetes

As questões nas reuniões do Conselho Municipal de Política Urbana envolvem, indiretamente, transporte e mobilidade. Em sua opinião, qual item seria prioridade para melhorar o transporte público?

Carregando ... Carregando ...

Dicas de Leitura

A história do jornalismo brasileiro

O livro aborda a imprensa no período colonial, estende-se pela época da independência e termina com a ascensão de D. Pedro II ao poder, na década de 1840
Clique e confira


Video

A evolução do parto

O programa “Linha do Tempo”, da TV USP de...

Áudio

Energia eólica e o meio ambiente

O programa de rádio “Ambiente é o Meio” foi...

/Expediente

/Arquivo

/Edições Anteriores