por
Gabriel Attuy


 



 
O dia do professor de educação física é celebrado no dia 15 de junho. Porém, com a regulamentação da profissão no dia 1º de setembro de 1998, criou-se uma polêmica. Aqueles que são a favor da regulamentação – ou seja, que o Conselho Federal de Educação Física zele pela qualidade do serviço do profissional de educação física – querem que o dia seja mudado para 1º de setembro. Mas nada ainda está resolvido. Contudo, segundo a professora Yara Carvalho, o problema maior não é esse. A maioria dos profissionais da área nem sabe que existe uma dia dedicado a eles.
Ao entrar na sala da professora Yara Maria de Carvalho, na Escola de Educação Física e Esporte, não há nada que possa indicar que se trata da sala de uma professora de educação física. Não há pôsteres de atletas nas paredes e nas estantes encontram-se livros de filosofia e história. Apesar de ser ainda pouco prestigiado, o trabalho desenvolvido pela professora Yara Carvalho é pioneiro, porque discute uma área pouco explorada da educação física.

O enfoque dado à educação física pela


professora Yara relaciona o esporte, a

atividade física e a visão do corpo com as ciências humanas, a filosofia, as ciências sociais e a história. Esse tipo de estudo parece meio deslocado quando pensamos na imagem que temos do profissional de
educação física.

Uma pessoa ativa que faz, organiza eventos e não tem muito tempo para parar e refletir sobre sua profissão e os conceitos teóricos envolvidos. Porém, Yara discorda dessa idéia. "Já aconteceu comigo. Uma ocasião em que viram um livro meu e me disseram: 'nossa Yara, não sabia que você escrevia'. E eu disse: 'Sim, escrevo, sei falar e sei ler'. A idéia que as pessoas têm da gente é que temos uma dificuldade em nos expressar, mas nós temos de mudar isso."
A educação física, segundo Yara, precisa ter atividades práticas mas não

deixar de lado o pensar sobre o que se faz. "Quando começamos a falar sobre o que fazemos, ler sobre o que fazemos e ter uma opinião, a gente até se surpreende."

O interesse de Yara pela relação entre a educação física e as ciências humanas começou quando ela estava fazendo o curso de Bacharelado em Educação Física na Unicamp. "Enquanto fazia o curso de graduação, estudei disciplinas de outras áreas, filosofia, história da ciência, ciências políticas, matérias da educação. Até que fui cair na saúde
   
  Uma ocasião em que viram um livro meu e me disseram: 'nossa Yara, não sabia que você escrevia'. E eu disse: 'Sim, escrevo, sei falar e sei ler'  
   

coletiva, que era um curso de especialização na Unicamp com enfoque na área de humanas", conta Yara. "Eu consegui agregar diferentes áreas fundadas numa mesma linguagem científica."

Dois anos depois de terminar seu curso de graduação, em 1989, Yara começou o curso de Especialização em Saúde Coletiva e junto com ele seu mestrado. A tese, intitulada O "Mito" da Atividade Física e Saúde, discute a relação entre a prática da atividade física e a saúde do indivíduo. "Todo mundo falava que a

atividade física fazia bem à saúde, desde o primeiro até o último ano da faculdade. Mas se isso é verdade, por que as pessoas que fazem atividade física têm problemas de saúde? Por exemplo, um jogador de vôlei, aos 20 anos, já operou o joelho, tem problemas de articulação", argumenta Yara. Ela então fez uma análise sociológica e histórica da origem da relação entre saúde e atividade física.

Existe uma questão social e cultural por trás de todo esse discurso. A indústria da beleza e do culto ao corpo dirige a

atenção das pessoas à imagem de um corpo ideal. Porém, por mais que você faça atividades físicas, esse padrão é inalcançável. O enfoque nas ciências humanas pode ajudar a ampliar a visão da educação física e a discutir a sociologia do corpo e a história da educação física, temas que, segundo a professora Yara, carecem de discussão

na área. Uma outra razão social pela qual o esporte foi associado fortemente à saúde tem bases nas ciências políticas. "Enquanto você está pensando no esporte, você deixa de pensar numa série de outras coisas. A educação física entrou nas universidades para tirar os estudantes dos centros acadêmicos. Porque enquanto eles estão fazendo esporte, não estão se organizando, elaborando idéias ou reivindicando", acredita Yara.

Depois de terminar seu mestrado, Yara também completou o seu doutorado na

saúde coletiva e foi a primeira aluna de educação física no Brasil a fazer pós-graduação em uma faculdade de ciências médicas. Em 1994, Yara começou a dar aulas na Universidade Federal de São Carlos e, há dois anos, prestou concurso para lecionar na USP. Ela conta que existe um certo preconceito por parte dos alunos em relação à discussão filosófica e sociológica dentro da educação física. Mas quando os alunos vêem que há outras formas de cuidar e pensar a respeito do corpo, eles ficam encantados. O esforço de Yara em

conciliar a área de humanas com a educação física vai além de sua própria pesquisa. "Na verdade, o conhecimento não é dividido, nós é que o dividimos. O caminho hoje está sendo integrar aquilo que está dividido, esse é o caminho para a sobrevivência da universidade. Senão nós vamos continuar muito distante do real, do mundo lá fora."