O renascer das chamas: o novo Botafogo da Era Textor
Trabalho apresentado à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo como parte da disciplina Teoria e Técnica da Publicidade 2 ministrada pelo Dr. Eneus Trindade.
RESUMO
Este trabalho analisa a transformação do Botafogo na era Textor, destacando sua reestruturação como Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Aborda mudanças estruturais, reposicionamento de marca e adoção de estratégias modernas de gestão, inspiradas em exemplos internacionais como o Manchester City. Explora a integração entre esporte, negócios e cultura, evidenciando como inovações no marketing e na identidade visual reposicionaram o clube no cenário esportivo. A análise reforça o impacto da profissionalização na revitalização de marcas esportivas, projetando o Botafogo como referência no futebol brasileiro e internacional.
Palavras-chave: Botafogo, SAF, reposicionamento, gestão esportiva, identidade.
INTRODUÇÃO
O futebol moderno transcende sua função original de esporte para se consolidar como um fenômeno cultural, social e econômico. Nesse contexto, os clubes esportivos, especialmente os de grande tradição, evoluíram para verdadeiras marcas globais que precisam se reposicionar para atender às demandas contemporâneas. Como destacado no Publicitor (Brochand et al., 1999), o marketing desempenha papel fundamental nesse processo, ao construir identidades que conectam produtos e serviços às emoções dos consumidores, criando laços duradouros com suas bases.
Este trabalho examina o caso do Botafogo, cuja transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) representa um marco de modernização no futebol brasileiro. Inspirado por modelos internacionais como o Manchester City, o Botafogo investiu em infraestrutura, reposicionamento de marca e marketing estratégico para reverter um histórico de crises financeiras e esportivas, consolidando-se como exemplo de resiliência no cenário global.
A análise também explora como elementos visuais e campanhas emocionais foram integrados para fortalecer a identidade do clube, utilizando estratégias alinhadas ao conceito de marketing como ferramenta de conexão entre empresas e consumidores (Brochand et al., 1999). Com isso, o estudo posiciona o Botafogo como um caso de sucesso no esporte brasileiro, reforçando o impacto do marketing na revitalização de marcas esportivas.
1- CONTEXTUALIZAÇÃO
1.1- Um novo olhar sobre o esporte
De acordo com De Melo Neto (2020), no mundo atual, o tratamento basal dado ao esporte como apenas um entretenimento, valorizado pelos media, empresas, governo e sociedade, se altera; passa a ser um importante fator gerador de riquezas, moda e novos comportamentos da sociedade, um exemplo, é o futebol que se globalizou e tornou-se um espetáculo sob a forma de grandes eventos mundiais, como a Champions League e a Copa Conmebol Libertadores que ajudou no surgimento dos jogadores como astros e celebridades a serem apreciadas por fãs e torcedores.
Essa visão do esporte como um produto e serviço é transcendida, passa a ser um fator de identidade nacional e de inclusão social, assim, pode ser visto por meio de diferentes enfoques, como produto (relacionado aos seus benefícios), como marca (o sentimento que causa) e como experiência (como se encaixa em sua vida) (Ibid).
O novo olhar do marketing esportivo está relacionada ao esporte como experiência, uma vez que o contempla como um meio e modo de vida, exemplos práticos são a contratação de grandes atletas, os quais formam equipes vencedoras e que garantem a felicidade para os seus torcedores. A principal intenção é buscar o vínculo entre clube, fã e vida, uma concepção já abordada anteriormente por Kotler (2010), em que os atuais consumidores buscam além da satisfação funcional e emocional, mas sim, uma espiritual nos produtos e serviços que escolhem, ou seja, que defendam suas missões, visões e valores pessoais.
2- O CASO MANCHESTER CITY
O Manchester City é um clube inglês da cidade de Manchester fundado no ano de 1880, sua história é marcada por alguns sucessos e períodos de decadência. Conquistou seu primeiro título da liga em 1937 e sua única Recopa Europeia em 1970. Após as glórias dos anos 60 e 70, o clube enfrentou rebaixamentos e uma fase instável, chegando a jogar na terceira divisão nos anos 90. Mesmo com dificuldades, retornou à Premier League em 2002, entretanto era sempre visto como um coadjuvante na cidade de Manchester, ficando atrás de seu rival Manchester United (Ventura, 2021).
Entretanto, uma reviravolta na história do clube acontece, quando em 2008 é comprado por Mansour bin Zayed Al Nahyan, dono da empresa City Football Group, dos Emirados Unidos. Por meio de investimentos bilionários, o time passa a se tornar um protagonista em solo inglês e uma ameaça aos grandes clubes do país. O primeiro resultado no esporte vem com a vitória da Barclays Premier League na temporada de 2011/12 superando o seu rival United, após isso o clube empilharia taças, ganhando seu décimo campeonato nacional inglês em 2023 (Ibid).
A mudança do clube não viria apenas em campo com seus resultados fabulosos e astros do futebol, também foi uma alteração na percepção de sua imagem. Ao ser comprado pelo grupo City, a nova postura adotada é de uma empresa e não mais de apenas um time de futebol. Essa visão empresarial do esporte busca o lucro, atividade privada, geração de riqueza, produto de qualidade, ênfase no mercado, capacidade de atrair seu público, autossustentabilidade, capacidade de gerar receita e benefícios para seus investidores e desempenho esportivo (De Melo Neto, 2020).
A ação mais radical adotada pelos novos donos foi a alteração do escudo do time no ano de 2016, o redesign eliminou a águia, as três estrelas douradas e o lema em latim “Superbia in proelio” que significa ‘’Orgulho na luta’’. O novo escudo ao mesmo tempo que é uma atualização, é também um retorno às origens, dando uma nova cara ao antigo emblema usado de 1972 até 1997, decisão que foi tomada juntamente com os torcedores por meio de uma pesquisa pública (Merigo, 2015).
Figura 1 – Os escudos do Manchester City ao longo dos anos Fonte: B9 (Site de notícias)[1]
Oito anos após essa decisão, é possível analisar como um grande acerto, já que conseguiu resgatar a história do clube ao mesmo tempo que o modernizou, fortalecendo sua identidade global e aproximá-lo dos valores de modernidade, inovação e sucesso, que é essencial para um reposicionamento eficaz, onde o objetivo é adaptar a imagem da marca para maximizar seu apelo e relevância em novos mercados, como mencionado por Kotler (2010) de que o marketing transcende as negociações privadas entre indivíduos e empresa, atingindo e influenciando uma grande escala da sociedade, isso pode ser comprovado com o aumento da torcida do clube desde a sua compra em 2008, conquistando torcedores de todas as partes do mundo, um exemplo é o vídeo produzido pelo próprio clube no ano de 2022, mostrando a comemoração ao redor do mundo com a conquista do título da Premier League. (Manchester City, 2022)
Figura 2 – Vídeo de torcedores ao redor do mundo Fonte: Printscreen retirado do site oficial do clube[2]
Dessa forma, conclui-se que a transformação do Manchester City em uma marca global é um exemplo marcante de como a gestão empresarial pode redefinir a identidade de um clube esportivo. A aquisição pelo City Football Group e o redesign da identidade visual demonstram a importância de uma gestão voltada para a modernidade e inovação, valores que ampliaram o alcance e a influência do clube em escala mundial. Esse novo posicionamento conecta o City a um público que vê o futebol não apenas como esporte, mas como parte de um estilo de vida, o que está em linha com o conceito de marketing emocional e espiritual discutido por Kotler (2010).
Além disso, ao integrar a experiência dos torcedores na construção de sua nova identidade, o clube fortaleceu os laços com sua base tradicional enquanto atraiu novos fãs ao redor do mundo. Essa estratégia é distinta de outros grandes clubes globalizados, como o Real Madrid e o Barcelona, que se consolidaram por meio de uma combinação de títulos e identidade cultural (Lance, 2019). O Manchester City, por outro lado, utilizou uma abordagem orientada para o mercado, focando em sua projeção internacional e na construção de uma imagem de marca que transcende fronteiras, ou seja, desenvolveu um ‘’DNA autêntico’’ (Kotler, 2010) que o diferencia em relação aos outros clubes.
O sucesso dessa estratégia se reflete no crescimento da torcida e no aumento da receita de marketing, fortalecendo o City não apenas como uma potência esportiva, mas como um ativo de alto valor no mercado global. Ao implementar práticas empresariais, o clube exemplifica uma nova era do futebol, em que a conexão entre esporte, negócios e cultura global se torna essencial para o sucesso e a longevidade no cenário competitivo atual, algo semelhante que ocorre com o Botafogo SAF no Brasil.
3- O BOTAFOGO PRÉ-TEXTOR
3.1 – A história do Botafogo
O Botafogo de Futebol e Regatas é uma das mais tradicionais instituições esportivas do Brasil, com raízes oriundas do final do século XIX. Sua origem está na fundação do Clube de Regatas do Botafogo em 1894 e do Botafogo Football Club em 1904. Mais tarde, em 1942, há a fusão com o Botafogo de Regatas, formando o clube unificado que se conhece hoje, e que se destacou tanto no futebol quanto nos esportes náuticos (Castro, Valladão, 2020).
A primeira conquista relevante do clube foi o Campeonato Carioca de 1907, dividido com o Fluminense. O título que realmente consolidou a alcunha de “Glorioso” veio em 1910, com uma goleada de 6 a 1 sobre o próprio time tricolor. No entanto, a década de 1960 foi o período áureo do Botafogo, quando o clube contou com lendas como Garrincha, Nilton Santos e Jairzinho. (Botafogo FR Social Olímpico, 2024).
Após essa fase de glórias, o clube viveu um período de jejum que durou 21 anos, encerrado apenas em 1989 com a conquista do Campeonato Carioca. Na década de 1990, o Botafogo voltou ao protagonismo com títulos importantes, como a Copa Conmebol de 1993 e o Campeonato Brasileiro de 1995. (Ibid).
Nos anos 2000, apesar de enfrentar rebaixamentos e crises financeiras, o Botafogo seguiu relevante. Em 2007, inaugurou sua nova casa, o Estádio Nilton Santos, mais conhecido como Engenhão, que foi construído para os Jogos Pan-Americanos daquele ano, sendo arrendado pelo clube, dois meses depois do campeonato. Em 2022, o clube deu início a um novo ciclo ao ser adquirido pelo investidor John Textor e se tornar uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF), marcando uma nova fase em sua trajetória (Ibid).
3.2 – O Botafogo nos anos 2010
Durante os anos de 2000 a 2021, o Botafogo enfrentou uma crise financeira profunda, causada por uma combinação de má gestão, dívidas crescentes e instabilidade esportiva. O rebaixamento para a Série B em 2002 foi um dos primeiros marcos desse período turbulento, afetando gravemente as receitas do clube e prejudicando sua capacidade de honrar compromissos financeiros. Embora tenha retornado à Série A em 2003, os problemas financeiros se mantiveram devido à falta de planejamento de longo prazo e à frequente mudança de dirigentes. (Botafogo FR Social Olímpico, 2024).
Nas décadas seguintes, a situação se agravou. O clube acumulou dívidas significativas, principalmente nas áreas trabalhista e tributária, sofrendo diversas penhoras e bloqueios de receitas. Em 2014, o Botafogo viveu um de seus momentos mais críticos, com salários atrasados, queda de desempenho e um novo rebaixamento para a Série B. A instabilidade se tornou constante, com dificuldades em campo e problemas financeiros que comprometiam a folha de pagamento e as operações básicas do clube (Ibid).
Mesmo com o retorno à Série A em 2016, o Botafogo não conseguiu estabilizar suas finanças. Em 2018, o clube teve que antecipar quase R$ 19 milhões de dinheiro de TV de 2020 e 2021 para pagar elenco e funcionários (ESPN, 2018) mostrando que a o estado financeiro só deteriorava.
Em 2020, a dívida total do clube já ultrapassava R$ 1 bilhão, tornando-o um dos clubes mais endividados do Brasil (UOL, 2020). A situação se tornou insustentável durante a pandemia de COVID-19, que reduziu ainda mais as receitas com a ausência de público nos estádios e colocou o clube à beira de uma nova crise esportiva e financeira. O rebaixamento no Campeonato Brasileiro em 2020, com a pior campanha da história do clube em campeonatos nacionais (GE,2020), foi a confirmação de que a recuperação era urgente.
Nesse contexto, o Botafogo começou a buscar alternativas para evitar a falência. A transformação do clube em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) foi identificada como uma possível solução, criando as condições para atrair novos investidores e reorganizar suas dívidas. A partir de então, a SAF passou a ser vista como um passo essencial para salvar o clube e proporcionar um novo começo, e assim, durante o ano de 2021 e finalizada no ano de 2022, o clube foi vendido para o empresário norte-americano John Textor (Botafogo FR Social Olímpico, 2024).
4- O BOTAFOGO DA ERA TEXTOR
4.1 – Estruturas
Ao assumir o clube, John Textor prometeu diversas mudanças para o Botafogo, com o objetivo de torná-lo um clube saudável financeiramente, competitivo e referência em território nacional (Terra Brasil, 2024). Uma das maiores necessidades existentes no clube era o investimento em estruturas para o futebol, uma vez que o time é o único dos quatro grandes do Rio de Janeiro que não possui um CT (Centro de Treinamento) fixo (Huber, 2023). Dessa forma, o atual Espaço Lonier passa por melhorias internas e o clube tem a proposta de construir um novo que seria o maior do país (Franco, 2024). Além disso, o estádio do Nilton Santos passou por reformas, por meio da instalação de gramados sintéticos no ano de 2023, com o objetivo de melhorar a administração do campo e possibilitar o uso para eventos e shows no local. (Huber, 2023).
Este processo de renovação das estruturas é importantíssimo para a integridade da marca, uma vez que está relacionado a concretização do que se foi prometido para a sua diferenciação (Kotler,2010), neste caso, aos outros clubes brasileiros.
Figura 3 – Novo gramado sintético do Nilton Santos Fonte: Globo Esporte[3]
4.2 – Departamento de futebol e scouting
Uma outra parcela do clube negligenciada na antiga gestão era o departamento de scouting, que antes de ser adquirido contava com apenas 5 profissionais que se expandiu e hoje consta com 19 funcionários. Por meio do uso de dados estatísticos e traçagem de características as novas contratações do clube devem seguir as necessidades do grupo, do atual elenco principal, 5 jogadores foram obtidos sem custos. A interação do Botafogo com as outras equipes da holding (Crystal Palace, da Inglaterra, Lyon, da França, e Molenbeek, da Bélgica) são providenciais para a prospecção de atletas e treinamento de jovens promessas (GE,2023)
Figura 4 – Atual elenco do Botafogo e seus custos Fonte: SportTV[4]
4.3 – Reposicionamento de marca
Além das diversas mudanças ocorridas dentro e fora de campo, uma das principais alterações na maneira que o clube passou a ser visto e identificado em território nacional perpassa principalmente pelos setores de comunicação e marketing do clube. O Botafogo sempre foi visto como um clube tradicional nacionalmente bancado em tradições históricas de seus grandes jogadores e títulos do passado, entretanto devido á gestões ruins, principalmente dos anos 2000, o clube passou a ser visto como uma instituição amadora e decadente. Entretanto, a grande transformação veio da transição do clube social para clube empresa, que passa a focar no profissionalismo para reposicionar o Botafogo como uma referência de elite para o cenário nacional e internacional (Azalim; Batista; Reynaud, 2024).
A situação pré-compra culminava em um discurso de um clube ‘’carismático’’ e ‘’inofensivo’’, já que estava à beira de sua falência, porém passa a incomodar seus adversários por ser um time destemido e altamente competitivo que disputa títulos e campeonatos (Ibid). A fase atual do clube também auxiliou no contato com a torcida no estádio, fazendo o time ter a melhor média de público nos últimos doze anos no ano de 2023 (FogãoNET, 2023). Essa reviravolta é marcada por uma mudança na identidade visual e sua estética nas redes sociais e dentro do estádio.
O uso da cor laranja e do fogo nas postagens do Botafogo nas mídias é uma estratégia que surgiu para representar a fase intensa e competitiva que o clube vive atualmente. Esses elementos visuais têm um apelo emocional e simbólico, ligando-se ao nome e ao emblema do Botafogo, em especial à “estrela solitária”, que remete à ideia de luz, brilho e agora também de “fogo” (Azalim; Batista; Reynaud, 2024).
A cor laranja foi adotada para representar paixão, energia e intensidade, buscando inovar na identidade visual e conectar-se com a torcida de uma forma mais vibrante. Isso ajudou a reforçar a identidade do clube e simbolizar a “chama” que impulsiona o time em campo e nas arquibancadas, além do uso de shows de pirotecnia dentro do estádio. Essa mudança também ajudou o clube a se diferenciar nas redes sociais, marcando uma identidade moderna e impactante, que rapidamente virou marca registrada (Ibid).
Esse novo estilo visual foi bem aceito pela torcida e gerou engajamento. A mudança acompanha uma fase em que o clube busca ressaltar sua força, resiliência e paixão, fatores essenciais em seu retorno ao topo do futebol brasileiro, especialmente enquanto liderava o campeonato brasileiro em 2023.
Figura 5 – Comparação de fotografias do clube de 2018 e 2024 Fonte: Compilação do autor[5]
4.3.1 – Coleção ‘’Passado, Presente e Futuro’’
Para o ano de 2024, o Botafogo juntamente com a Reebok, marca de vestimentas esportivas, lançaram as novas camisas do clube por meio de uma campanha que possui a temática de ‘’passado, presente e futuro’’, sendo cada camiseta responsável por demonstrar uma das etapas do clube (Azalim; Batista; Reynaud, 2024).
O uniforme número 1 possui uma estética retrô, em gola V com detalhes em preto e branco, também presente nas barras da manga, as listras possuem pequenos triângulos dando um efeito de serrilho, buscando simular o tecido do tricô usado na dé cada de 50 e 60, as costas também mantêm o padrão listrado. Essa peça ressalta o passado do clube, com o uso do off-white no lugar do branco tradicional contribuindo para a ideia de algo ‘’antigo’’ (FogãoNET, 2024).
Não atoa foi eleita a camiseta mais bonita do mundo pelo site Footy Headlines, site especializado em uniformes esportivos, superando clubes como Milan (Itália) e Celtics (Escócia) (Placar, 2024).
Figura 6 – Apresentação do uniforme 1 Fonte: Divulgação/Botafogo[6]
O uniforme de número 2 recebeu o nome de Away e tem como conceito ser ‘’forjado no fogo’’, ressaltando novamente o uso do fogo e do laranja no clube. O design da camisa tem grafismo com chamas, com golas e bordas das mangas com o mesmo padrão, o escudo, números e patrocínios possuem a cor bronze com uma característica metalizada, possui também a frase ‘’Forjada no fogo’’ estampada, é a representante do presente do clube. (Botafogo, 2024).
Figura 7 – Apresentação do uniforme 2 Fonte: Divulgação/Botafogo[7]
Já o terceiro uniforme, é o representante do futuro do clube, a camisa é inteiramente branca com um grafismo dominado pela estética futurista, representando o caminho que o clube tem pela frente. Além disso, possui uma gola em C, com um pequeno decote, com fontes e números exclusivos criados pelo branding do clube, na nuca pode-se observar a frase ‘’O Futuro é Glorioso’’ (Schwambach, 2024). O objetivo da instituição nessa campanha era atingir o mercado internacional, se inspirando nas principais tendências de moda esportiva do mundo, além de usar jogadores de renome mundial, como o zagueiro Bastos, angolano com experiência no futebol europeu, e o meia Almada, campeão do mundo pela Argentina (Azalim; Batista; Reynaud, 2024).
Figura 8 – Apresentação do uniforme 3 Fonte: Divulgação/Botafogo[8]
Por fim, o uniforme de número 4 é feito em homenagem para a torcida alvinegra. A camisa tem as cores tradicionais, preto e branco, com linhas irregulares na frente, representando o sangue alvinegro que “corre” nos torcedores do Botafogo. Além do desenho central, há detalhes na gola e mangas em amarelo, além da logo da Parimatch, patrocinadora do clube, na qual foi realizado a parceria para a camisa (Lance, 2024)
Figura 9 – Apresentação do uniforme 4 Fonte: Divulgação/Botafogo[9]
Além disso, o clube inovou ao mesclar as identidades visuais de escalações e artes pré-jogo com os uniformes, algo considerado como inovador no mundo dos esportes. (Azalim; Batista; Reynaud, 2024).
Figura 10 – Artes de escalação do clube Fonte: Compilação feita pelo autor[10]
A grande estratégia por trás da campanha foi utilizar de um apelo nostálgico e sentimental na confecção dos uniformes, principalmente no primeiro ao relembrar dos tempos áureos do clube (Azalim; Batista; Reynaud, 2024). A intencionalidade era atingir as emoções dos consumidores, ultrapassando assim as funções e características do produto, facilitando o seu posicionamento na mente dos torcedores e consequentemente, a compra (Kotler, 2010).
A campanha, no geral, foi considerada um sucesso já que o clube vendeu 37% mais camisas em relação ao ano de 2023 e 204% à média de cifras pré-SAF (GE,2024) e com certeza ficarão marcadas na história do clube, principalmente, por serem as representantes de um dos anos mais fabulosos do Botafogo.
CONCLUSÃO
A transformação do Botafogo na era Textor evidencia como a profissionalização e a modernização podem redefinir a trajetória de um clube esportivo. A transição para uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) não apenas reorganizou suas finanças, mas também permitiu investimentos em infraestrutura, marketing e desempenho esportivo. Essas mudanças deram ao clube uma nova identidade, mais competitiva e alinhada às demandas do futebol globalizado.
O reposicionamento de marca, simbolizado por inovações visuais e campanhas estratégicas, foi essencial para fortalecer a conexão do Botafogo com sua torcida e atrair novos públicos. Elementos como o uso da cor laranja e referências às “chamas” renovaram a imagem do clube, transformando sua história em um diferencial competitivo. Além disso, a integração de práticas empresariais e gestão estratégica consolidou o clube como exemplo de modernidade e visão de longo prazo no futebol brasileiro.
Ao final, o caso do Botafogo demonstra o potencial de união entre esporte, negócios e cultura. A experiência do clube destaca a importância de uma gestão orientada para resultados e valores, que transforma o futebol em um elemento de identidade cultural e fator de desenvolvimento econômico. Assim, o Botafogo não apenas resgata seu prestígio histórico, mas também se projeta como modelo para outros clubes em busca de reinvenção no mercado esportivo atual.
REFERÊNCIAS[11]
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BRASIL, T. Quem é John Textor? Saiba como o americano virou dono da SAF do Botafogo. Disponível em: https://terrabrasilnoticias.com/2024/09/quem-e-john-textor-saiba-como-o-americano-virou-dono-da-saf-do-botafogo/. Acesso em: 16 nov. 2024.
BROCHAND. B. et al. Publicitor. Lisboa. Publicações Dom Quixote. 1999. p. 37-64.
CASTRO, Bruno; VALLADÃO, Rafael. Um ensaio histórico sobre o surgimento do futebol, dos clubes de futebol carioca: Vasco, Flamengo, Fluminense e Botafogo e suas tendências elitizadas e populares. Efdeportes-Revista digital., 2020, v. 13.
DE MELO NETO, Francisco Paulo. Marketing Esportivo: O esporte como ferramenta do marketing moderno. Editora Best Seller, 2020.
ESPN. Botafogo antecipa quase R$ 19 milhões de dinheiro de TV de 2020 e 2021 para pagar elenco e funcionários. Disponível em: https://www.espn.com.br/futebol/artigo/_/id/4870873/botafogo-antecipa-quase-r-19-milhoes-de-dinheiro-de-tv-de-2020-e-2021-para-pagar-elenco-e-funcionarios. 2018. Acesso em: 18 nov. 2024.
FOGÃONET. Botafogo tem melhor média de público nos últimos 12 anos e lucra quase R$ 4,5 milhões com bilheteria em 2023. Disponível em: <https://www.fogaonet.com/blog-da-redacao/botafogo-melhor-media-publico-ultimos-12-anos-lucra-quase-45-milhoes-bilheteria-2023/>. Acesso em: 23 nov. 2024.
FOGÃONET. Botafogo e Reebok lançam nova camisa alvinegra do Glorioso. Disponível em: https://www.fogaonet.com/noticias-do-botafogo/botafogo-e-reebok-lancam-nova-camisa-alvinegra-do-glorioso/. Acesso em: 19 nov. 2024.
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- Conheça a estrutura do departamento de scout do Botafogo. Disponível em: https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2023/09/10/conheca-a-estrutura-do-departamento-de-scout-do-botafogo-que-descobriu-segovinha.ghtml. Acesso em: 17 nov. 2024.
- O que levou o Botafogo a ser o primeiro time rebaixado no Campeonato Brasileiro de 2020? Disponível em: https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/o-que-levou-o-botafogo-a-ser-o-primeiro-time-rebaixado-no-campeonato-brasileiro-de-2020.ghtml. 2021. Acesso em: 4 nov. 2024.
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VENTURA, M. Manchester City – História, Estatísticas e Conquistas. Disponível em: https://premierleaguebrasil.com.br/manchester-city-historia-mercado-da-bola-rumores/. Acesso em: 4 nov. 2024.
LISTA DE FIGURAS:
Figura 1 – Os escudos do Manchester City ao longo dos anos………………………………………….. 7
Figura 2 – Vídeo de torcedores ao redor do mundo…………………………………………………………. 8
Figura 3 – Novo gramado sintético do Nilton Santos…………………………………………………….. 11
Figura 4 – Atual elenco do Botafogo e seus custos……………………………………………………….. 12
Figura 5 – Comparação de fotografias do clube de 2018 e 2024…………………………………….. 13
Figura 6 – Apresentação do uniforme 1……………………………………………………………………….. 14
Figura 7 – Apresentação do uniforme 2……………………………………………………………………….. 14
Figura 8 – Apresentação do uniforme 3……………………………………………………………………….. 15
Figura 9 – Apresentação do uniforme 4………………………………………………………………………. 15
Figura 10 – Artes de escalação do clube………………………………………………………………………. 16
LINKS
[1] Disponível em: https://www.b9.com.br/62503/manchester-city-revela-redesign-de-seu-escudo-apos-pesquisa-com-torcedores/
[2] Disponível em: https://pt.mancity.com/citytv/mens/world-was-watching-premier-league-champions-63789260
[3] Disponível em: https://ge.globo.com/futebol/times/botafogo/noticia/2023/03/16/botafogo-avanca-na-instalacao-de-nova-grama-e-obra-no-nilton-santos-entra-em-fase-final.ghtml
[4] Disponível em: https://www.instagram.com/p/DCCXHqeOlZ5/
[5] Coletânea de fotos retirada do Google e do Flickr do clube. Capturadas pelo fotógrafo Vitor Silva (2024)
[6] Disponível em: https://www.fogaonet.com/noticias-do-botafogo/botafogo-e-reebok-lancam-nova-camisa-alvinegra-do-glorioso/
[7] Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/esportes/2024/08/6917408-botafogo-lanca-segundo-uniforme-para-a-temporada-veja-imagens.html
[8] Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/esportes/futebol/botafogo/botafogo-lanca-uniforme-3-para-a-temporada-veja-fotos/
[9] Disponível em: https://www.lance.com.br/botafogo/botafogo-lanca-quarta-camisa-da-temporada-em-homenagem-a-torcida-veja-fotos.html
[10] Compilado de imagens retiradas do Instagram do clube. Disponível em: https://www.instagram.com/botafogo/
[11] De acordo com a ABNT NBR 6023 – 2018
* Igor Tavernaro Vieira é aluno da disciplina JORNALISMO ESPORTIVO: A PAUTA ALÉM DO FUTEBOL e do curso de Publicidade e Propaganda na ECA-USP