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A Unicef, Fundo das Nações Unidas para a Infância, está recolhendo opiniões de crianças do mundo inteiro sobre as prioridades para uma política educacional coordenada. A campanha, iniciada em abril do ano passado, chama-se Diga Sim pela Criança e propõe a escolha de três itens num total de dez (leia texto ao lado). O órgão da ONU sugere como possíveis prioridades combater a pobreza e todo tipo de discriminação contra crianças e adolescentes, acabar com a exploração sexual e do trabalho infantil, garantir a educação e o atendimento à saúde básica. As informações coletadas serão disponibilizadas pelo Unicef em reunião de cúpula em Nova York, entre os dias 8 e 10 de maio.
No que toca ao Brasil, a região Nordeste tem até agora a maior participação na campanha, com 63% do total de votos recolhidos, enquanto que o Sudeste tem a menor parcela. Para incentivar a participação dessa região, o Unicef buscou o Projeto Vida, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SMESP). Respondendo ao apelo, a Secretaria foi buscar ajuda do Projeto Educom.rádio, numa parceria com o Núcleo de Comunicação e Educação da Escola de Comunicações e Artes da USP.
O Projeto Vida vem desenvolvendo uma série de ações de prevenção contra a violência nas escolas da rede municipal de educação. Segundo a coordenadora Dirce Gomes, a proposta é trabalhar as múltiplas linguagens da comunicação voltadas para o ensino; daí a razão da parceria com o Educom.rádio, que capacita professores, alunos e comunidade para trabalhar com a linguagem radiofônica. “A partir do trabalho desenvolvido pelo Educom.rádio estaremos sensibilizando o público do projeto a discutir os dez temas propostos pela campanha”, analisa.

Participação juvenil

Serão 66 escolas municipais envolvidas, sendo 26 que já participaram da primeira etapa do Educom.rádio, em 2001, e mais 40 que estão passando pelo processo de capacitação. Elas terão encontros no próximo sábado (dia 13 de abril) em 13 escolas-pólo, para analisar detalhadamente as dez propostas temáticas. Professores, alunos e comunidade vão produzir programa de rádio e cartazes. Posteriormente, esse material de divulgação será selecionado e se multiplicará pelas escolas.
“A participação juvenil já é uma realidade em toda a rede de educação municipal”, observa Dirce. “Nós, da Secretaria, acreditamos que através da linguagem radiofônica o jovem possa encontrar alternativas de expressão, organização e cooperativismo. Sem contar que através do rádio o jovem desenvolve a oralidade e, conseqüentemente, a escrita, pois precisa pesquisar, entrevistar para compor um programa radiofônico.”
Segundo Patrícia Horta, coordenadora do Educom.rádio, o projeto já vem discutindo em suas atividades o direito da criança, o Estatudo da Criança e do Adolescente, a gestão participativa e a participação ativa juvenil, temas que fazem parte dos itens propostos pela campanha do Unicef. Trata-se de atividade baseada na educação dialógica de Paulo Freire e se insere no movimento mundial denominado Mídia Education.
Até dezembro de 2004 o Educom.rádio pretende formar 12 mil educomunicadores, ou seja, professores qualificados para introduzir a mídia no espaço educativo, e desenvolver propostas colaborativas através do uso da comunicação.
A campanha Diga Sim pela Criança vem coletando também assinaturas de políticos, empresários, desportistas, profissionais da saúde, jornalistas, educadores, estudantes, artistas, advogados, representantes de movimentos sociais, centrais sindicais, organizações governamentais e não-governamentais, além das crianças e adolescentes do Brasil.
Segundo Salvador Soler, coordenador do Unicef para o Centro-Sul , o Diga Sim pela Criança não se resume a uma coleta de assinaturas. A campanha faz parte do Movimento Global pela Criança, que dá continuidade ao compromisso estabelecido por 71 chefes de Estado e de governo na Cúpula Mundial pela Criança, realizada em 1990, em que líderes firmaram acordo definindo metas para melhorar as condições de vida das crianças em todo o mundo.
Será em maio de 8 a 10 que os dirigentes de vários países, inclusive o Brasil, vão se reunir em Nova York em conferência dedicada ao progresso da infância. Entre os principais temas do encontro está o papel que podem desempenhar as crianças e os adolescentes em favor da paz e da segurança do mundo. A Sessão Especial da Assembléia Geral das Nações Unidas sobre a Criança estava prevista inicialmente para setembro de 2001. Em função dos atentados de 11 de setembro em Nova York e Washington teve que ser agendada novamente. Espera-se que pelo menos 60 chefes de Estado e de governo estejam presentes ao encontro.
A Sessão Especial vai apresentar aos dirigentes políticos um exame dos avanços alcançados e as tarefas que ainda estão por se realizar. Serão debatidas as formas pelas quais os investimentos em educação, saúde e proteção da infância contribuem para a estabilidade e a paz no mundo. A intenção é adotar um novo conjunto de metas relacionadas à infância e um plano de ação para que elas sejam alcançadas.
Essa sessão será realizada entre duas importantes reuniões sobre o desenvolvimento social, a Conferência Internacional sobre o Financiamento do Desenvolvimento, no México, e a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, que está marcada para julho na África do Sul. A diretora-executiva do Unicef, Carol Bellamy, disse que a questão dos investimentos nos temas relativos à infância figura como um dos pontos mais importantes dessas reuniões, o que ela considera “muito apropriado”.
Por que uma campanha mundial voltada para esse público? Segundo um relatório publicado pelo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, que examinava as metas estabelecidas em 1990, os objetivos não foram alcançados. Sob o título “Nós, as crianças”, o informe apresentava as conclusões de 135 estudos e descrevia o panorama mais completo até aquela data sobre a situação da infância no mundo. “O mundo não conseguiu alcançar a maioria dos objetivos da Cúpula Mundial pela Infância, não apenas porque eles eram ambiciosos ou tecnicamente inalcançáveis, mas, em sua maioria, porque não foram feitos investimentos suficientes”, informa o relatório.

 




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