NESTA EDIÇÃO

 

A reciclagem do lixo reduz a poluição ambiental e gera benefícios socioeconômicos

 

Muniz, Oliva e equipe do USP Recicla: reduzir, reutilizar e reciclar o lixo



 


 





U
m funcionário, estudante ou professor da USP que se preocupa com o ambiente e a cada momento busca melhorar a qualidade de vida ao seu redor. Com tal objetivo em mente, reduz o consumo de papel ao mínimo possível, evita desperdícios de água e energia, reutiliza e recicla todo material possível.
É exatamente nesse “cidadão uspiano” que o USP Recicla — o programa da Universidade voltado para a questão ambiental — quer transformar cada um dos 87.000 integrantes da comunidade USP. Para colaborar nessa tarefa, será lançado nesta terça-feira (9), às 17 horas, na Escola Politécnica, o vídeo institucional USP Recicla, que mostra um pouco das realizações do programa desde 1994, quando foi institucionalizado pela Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de Atividades Especiais (Cecae).
Dirigido pelo professor Marcelo G. Tassara, da Escola de Comunicações e Artes (ECA), o vídeo — com 12 minutos de duração — será distribuído para os diretores de todas as 70 unidades de ensino e administração da Universidade. “A idéia é que os diretores exibam o vídeo em suas unidades, para que toda a USP conheça e participe das nossas atividades”, afirma a coordenadora-executiva do USP Recicla, Regina Carvalho, uma empreendedora com interesses tão variados que vão da história e da música — áreas em que é formada — até economia e administração. “Queremos informar as unidades para que elas mesmas busquem realizar ações em benefício do ambiente.” Com o mesmo objetivo, o USP Recicla começou a oferecer neste ano um curso de especialização para capacitar pessoas a realizar ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida (leia texto ao lado).

Cuidar do planeta

O vídeo cumpre plenamente a missão de mostrar as atividades do USP Recicla a fim de conscientizar os uspianos. Uma dessas atividades se refere ao trabalho desenvolvido na Creche Oeste da USP, localizada ao lado da Prefeitura da Cidade Universitária. Ali, como mostra o vídeo, o programa instalou uma composteira, onde restos de comida são depositados, misturados com folhas ou serragem e, dois meses depois, transformados em uma espécie de adubo para as plantas. “Todos os dias, depois do almoço, as crianças vão à composteira, jogam os restos de comida e recebem orientações sobre a preservação do ambiente”, afirma no vídeo a psicóloga da creche, Maria Claudia Lopes da Silva. “Hoje as crianças daqui têm bem clara a importância de cuidar do planeta.” Além dessa conquista pedagógica, a creche possui outros motivos para comemorar o trabalho do USP Recicla: ela reduziu a produção de resíduos sólidos em nada menos que 90%.
As estratégias adotadas pelo USP Recicla — capazes de levar uma unidade a diminuir tão drasticamente o volume de lixo — são explicadas no vídeo pelo coordenador acadêmico do programa, o professor Ruy Laurenti, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Segundo ele, as ações do USP Recicla visam a mudar o comportamento das pessoas, a fim de que se conduzam de maneira a preservar o ambiente em todas as suas atitudes, seja em casa, no trabalho ou na faculdade. “Nós não percebemos o quanto jogamos fora, o quanto não reutilizamos”, alerta.
Para conseguir esse comportamento dos uspianos, o USP Recicla aplica o “princípio dos três erres” — uma referência à redução, à reutilização e à reciclagem do lixo, ainda de acordo com Laurenti. Segundo ele, é necessário que as pessoas, antes, reduzam o consumo de material. “Antes do programa, usava-se uma quantidade imensa de papéis. Não havia economia”, lembra. Já o material utilizado tem de ser reaproveitado sempre que possível. “Por que não reutilizar o outro lado da folha de papel?”, pergunta o professor. Finalmente, os produtos que não puderem mais ser utilizados devem ser levados para a reciclagem. Assim, evita-se que acabem nos já abarrotados lixões. “O que tem que ser reciclado é o que sobrou depois de se ter reduzido e de se ter reutilizado o lixo produzido.”
O geógrafo Aziz Ab’Sáber, professor do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, também empresta seu depoimento ao vídeo. Didaticamente, Ab’Sáber lembra que a questão ambiental significa a luta em favor da sanidade do ar, da água, do solo, do subsolo e da vegetação, livrando-os de ações que possam deteriorá-los. “O termo sustentabilidade pede mais responsabilidade das universidades”, convida o professor, acrescentando que a academia pode colaborar efetivamente para mostrar as formas mais racionais de usar os recursos naturais.

Mozart e Villa-Lobos

Outros especialistas que aparecem em USP Recicla são o jurista Dalmo de Abreu Dallari, professor da Faculdade de Direito da USP, e o coordenador da Cecae, professor Sérgio Muniz Oliva Filho. Para Dallari, o USP Recicla é uma iniciativa fundamental porque a Universidade tem a obrigação de se preocupar com a formação da consciência ambiental, uma necessidade da sociedade contemporânea. “E a Universidade deve estar sintonizada com os interesses sociais.” Já Muniz Oliva acrescenta que o programa representa um “paradigma de universidade conectada”: em oito anos de atividades, o USP Recicla foi capaz de “institucionalizar” a questão ambiental e sensibilizar a comunidade para trabalhar em favor de um ambiente sadio. “A teoria é posta em prática e a Universidade dá frutos para toda a sociedade.”
Mas não é só. O vídeo apresenta ainda uma recente iniciativa da USP em favor do ambiente — a criação do Conservusp, um projeto que tem o objetivo de racionalizar o uso dos recursos naturais na Universidade. Implantado pela Reitoria, o Conservusp reúne três programas: o USP Recicla, o Pura (Programa para o Uso Racional da Água) e o Pure (Programa para o Uso Racional da Energia). Coordenado pelo professor Marco Antonio Saidel, da Escola Politécnica, o Pure conseguiu a façanha de fazer com que, no primeiro mês do racionamento de energia determinado pelo governo federal, no ano passado, a USP economizasse 27% de energia — 7% além do mínimo exigido. Saidel e o professor Antonio Marcos de Aguirra Massola, coordenador do Pura, também dão depoimentos no vídeo.
USP Recicla traz belíssimas cenas do pôr-do-sol, de animais multicoloridos, de plantas e de povos indígenas, ao mesmo tempo em que a narração lembra a necessidade de preservar a imensa biodiversidade do planeta. Além de imagens do filme A terra, de Frédéric Létang, são mostradas originais cenas aéreas da Cidade Universitária, com suas vastas porções de vegetação. Tudo isso ao som de músicas como Floresta do Amazonas, de Villa-Lobos, Concerto para Flauta número 1, de Mozart, e Carinhoso, de Pixinguinha. O vídeo é uma realização da Cecae, com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.O vídeo institucional USP Recicla será lançado nesta terça-feira, dia 9 de abril, às 17 horas, no Anfiteatro do Edifício Engenheiro Mário Covas Júnior da Escola Politécnica da USP, à avenida Professor Luciano Gualberto, travessa 3, número 380, Cidade Universitária, em São Paulo. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-4428 ou pelo e-mail recicla@edu.usp.br . A página eletrônica do USP Recicla é http://cecae.usp.br/recicla/



Curso forma “conscientizadores”
O USP Recicla encontrou mais uma forma de difundir conhecimentos que colaborem para a preservação do ambiente. Teve início em março passado o curso de especialização “Formação de Agentes Locais de Sustentabilidade Socioambiental”, promovido graças a uma parceria entre a Cecae — que mantém o USP Recicla — e a Faculdade de Saúde Pública. Dividido em quatro módulos, a ser realizados de março a dezembro deste ano, o curso tem o objetivo de formar pessoas capazes de identificar problemas ambientais e propor soluções. As aulas são dadas na Faculdade de Educação. “Queremos formar educadores que, em suas unidades, vão promover ações que colaborem para a melhor qualidade de vida das pessoas”, afirma a coordenadora executiva do USP Recicla, Regina Carvalho. Neste ano, 40 alunos estão matriculados no curso — a maioria deles formada por funcionários e estudantes de diferentes unidades da USP. Segundo Regina, a partir do ano que vem deverão ser oferecidos dois cursos — um em São Paulo e outro no interior —, com 40 vagas cada. “Com um curso no interior, vamos atingir os funcionários, professores e alunos dos outros campi da USP”, explica Regina.
Das 360 horas que compõem a carga horária do curso, metade será dedicada a aulas expositivas e dinâmicas de grupo. A outra metade do curso será composta por atividades de campo — que, no caso, corresponde à unidade da USP a que o aluno do curso está ligado. No primeiro módulo, intitulado “Base conceitual e afetiva”, os alunos receberão noções sobre o conceito de sustentabilidade, de educação ambiental e do papel da Universidade na preservação do ambiente. O segundo módulo, “Elaboração de projeto”, será realizado nos meses de maio e junho e estará voltado para a identificação de problemas nas unidades e na proposta de soluções. Já o terceiro módulo “Intervenção educacional”, de agosto a outubro, abordará questões como construção de material didático impresso e audiovisual na área de educação ambiental. De outubro a dezembro, o quarto módulo, “Intervenção e avaliação”, consistirá na execução do projeto elaborado no segundo módulo.

Ações são simples e eficazes

As formas de reduzir, reutilizar e reciclar o lixo — e assim contribuir sensivelmente para melhorar o ambiente — são muito simples, segundo o USP Recicla. A seguir, algumas orientações do programa para minimizar o impaco dos resíduos sólidos em casa, na faculdade ou no trabalho:
Para reduzir a produção de lixo — Substitua descartáveis como copos, talheres, sacolas, guardanapos e toalhas por similares duráveis. Diminua o desperdício de alimentos, planejando melhor suas compras e refeições. Evite embalagens supérfluas, sofisticadas ou de difícil reciclagem no Brasil, como isopor, caixas de leite longa vida, celofane e papel aluminizado.
Para reutilizar objetos e materiais — Reaproveite papel para rascunho, frascos e potes. Conserte utensílios em sapateiros, costureiros, restauradores e outros profissionais. Reaproveite sobras de materiais de construção. Doe, troque ou venda seus materiais usados antes de descartar, pois o que parece lixo para uma pessoa pode ser útil para outra.
Para reciclar materiais — Separe papéis, plásticos, vidros e metais e doe esses materiais para catadores de sucata ou deixe-os em pontos de coleta seletiva. Os materiais precisam estar limpos e secos. Transforme sobras de comida e poda de vegetação em um tipo de adubo em casa ou no trabalho.
Os materiais orgânicos — restos de comida, cascas, ossos, borra de café, galhos e folhas, por exemplo — podem ser facilmente transformados numa espécie de adubo útil às plantas. Dessa forma, além de fortalecer o jardim, evita-se que esses resíduos se acumulem nos lixões e aterros e aumentem a poluição ambiental.
A compostagem — a transformação de materiais orgânicos em um tipo de adubo — é um processo simples, como descrevem os funcionários do Centro de Informática de Ribeirão Preto (Cirp), instalado na USP daquela cidade, que desde agosto de 2000 reaproveitam os restos produzidos no campus: coloque os resíduos em um recipiente, que pode ser uma caixa ou uma lata grande, e cubra-os com folhas ou serragem. Remexa o monte de três em três dias, para arejá-lo, e regue-o periodicamente. Depois de dois meses o composto estará pronto para ser usado em vasos, hortas e jardins.

Mais dicas podem ser obtidas na página eletrônica do USP Recicla (http://cecae.usp.br/recicla/)


Unidades reduzem o lixo em 90%

Depois de quase uma década de trabalho constante, o USP Recicla — criado em 1993 por professores e funcionários da USP e institucionalizado pela Cecae um ano depois — estendeu sua influência por quase toda a Universidade. Atualmente o programa está implantado em 51 das 70 unidades de ensino e administração da USP, que incluem órgãos como a Coordenadoria de Assistência Social (Coseas) e o Centro de Computação Eletrônica (CCE). No interior, com exceção de Pirassununga, todos os campi estão engajados na missão de reduzir, reutilizar e reciclar o lixo produzido. No campus de São Paulo, o USP Recicla atua em 29 das 48 unidades existentes. “O nosso objetivo é alcançar cada um dos 87 mil membros da comunidade USP, entre funcionários, alunos e professores”, afirma a bióloga Patrícia Silva Leme, uma das cinco educadoras que fazem parte da equipe do USP Recicla, composta também por 13 bolsistas da Coseas, 4 coordenadoras instaladas em campi do interior e 3 funcionários que atuam no empacotamento de material reciclável, em São Paulo. “Com isso, quero dizer que o USP Recicla é um programa permanente, que continuará sempre insistindo em educar as pessoas para criar um ambiente melhor.” O programa conta ainda com a assessoria do professor Marcos Sorrentino, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, especialista em educação ambiental. Regina Carvalho é a coordenadora executiva e o professor Ruy Laurenti responde pela coordenadoria acadêmica.
Os resultados obtidos pelo USP Recicla são inegáveis. Nas unidades que adotaram o programa, a produção de lixo foi reduzida a índices que variam de 50% a 90%. A Creche Oeste da Cidade Universitária, em São Paulo — mostrada no vídeo USP Recicla — é um dos locais que geram, agora, apenas 10% do que geravam antes da interferência de Regina Carvalho e sua equipe. O Centro de Computação Eletrônica (CCE), também na Cidade Universitária, conseguiu reduzir em 60% a produção de resíduos sólidos.
Outra vitória do USP Recicla se refere à coleta seletiva de lixo. Uma boa porção de resíduos que teriam como destino os já abarrotados lixões são agora reaproveitados e transformados em matéria-prima. No campus de São Paulo, o programa recolhe a cada mês 15 mil quilos de papel. Em Piracicaba e em São Carlos, esse número é de 2,4 mil e 1,5 mil, respectivamente. Em Bauru e em Ribeirão Preto, onde a USP fez parcerias com as prefeituras locais, o lixo reciclável — papel, vidro, metal e plástico — é doado a uma cooperativa formada por catadores de rua, que antes atuavam nos lixões em precaríssimas condições de saúde. A renda obtida com a venda desse material é dividida entre os catadores. “Ou seja, além de evitar que esses resíduos parem nos lixões, a coleta seletiva de lixo tem uma importante função social, ao criar empregos dignos”, avalia outra educadora do USP Recicla, a geógrafa Elizabeth Teixeira Lima.
A instalação de composteiras — os equipamentos em que a matéria orgânica fica armazenada até se transformar em um tipo de adubo — foi outra iniciativa bem-sucedida do USP Recicla. Atualmente há sete desses equipamentos no campus de São Paulo. Eles estão localizados na Escola de Educação Física e Esporte, Prefeitura, Creche Oeste, Instituto de Física, Centro de Práticas Esportivas (Cepeusp), Escola de Aplicação e nas dependências do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) instaladas no bairro da Água Funda, em São Paulo. “Esses são apenas os resultados mais visíveis”, considera Elizabeth. “Já quanto à educação das pessoas, à mudança de comportamento, isso é muito difícil mensurar mas também nessa área certamente tivemos resultados muito positivos.”
O USP Recicla ainda investe na produção de impressos. Distribuídos na Universidade, os folhetos educativos que o programa já editou ensinam, por exemplo, a fazer papel reciclado e a reduzir, reutilizar e reciclar o lixo em casa e no trabalho (leia texto ao lado). Em 1999, a Cecae e o Sistema Integrado de Bibliotecas (Sibi) lançaram o livro Sobre o lixo..., que traz a relação de toda a produção bibliográfia da USP — teses, dissertações, livros e artigos — na área de resíduos sólidos até aquele ano. O livro tem 90 páginas recicladas.
Ampliando sua atuação, o USP Recicla planeja elaborar uma política interna para o tratamento de resíduos perigosos — como restos químicos e radioativos — na Universidade. Com exceção de iniciativas isoladas verificadas nos campos de São Carlos e de Ribeirão Preto, a USP não conta com uma estratégia adequada para esse fim. Uma primeira reunião está marcada para esta quinta-feira, dia 11, às 14 horas, na Cidade Universitária, entre representantes da Cecae, do USP Recicla e de unidades da USP. Eles deverão nomear uma comissão para elaborar essa política de resíduos perigosos.


Telefones verdes

Os educadores do USP Recicla, na capital e no interior — que estão à disposição de professores, funcionários e estudantes da Universidade para qualquer orientação — podem ser contatados através dos seguintes telefones e e-mails:

São Paulo
Telefone: (11) 3091-4428
E-mail: recicla@edu.usp.br
Bauru
Telefone: (14) 253-8209
E-mail: recicla@pcab.usp.br
Piracicaba
Telefone: (19) 3429-4459
E-mail: recicla@esalq.usp.br
Pirassununga
Telefone: (11) 3091-4428
E-mail: recicla@edu.usp.br
Ribeirão Preto
Telefone: (16) 602-3551
E-mail: uspreciclarp@pcarp.usp.br
São Carlos
Telefone: (16) 273-9147
E-mail: recicla@sc.usp.br

 




ir para o topo da página


O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
[EXPEDIENTE] [EMAIL]