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O
mundo invisível dos micróbios pode ser explorado por qualquer pessoa no Museu de Microbiologia do Instituto Butantan, em São Paulo. Com instalações atraentes e inovadoras, o museu foi equipado com aparelhos e materiais de um laboratório científico contemporâneo, o que possibilita aos alunos do ensino médio, acompanhados de seus professores de biologia, ampla interatividade com as experiências seguidas de monitoria especializada. Com quatro anos de existência, o museu recebeu no ano passado cerca de 70 mil visitantes.

A sala de exposição é composta de uma grande bancada ao centro, onde se dá início a uma viagem interativa através da história dos microorganismos, com várias atrações, como o primeiro microscópio e as atuais conquistas da ciência. São 18 painéis que relatam a vida de microorganismos como o vírus Mycobacterium tuberculosis, que pode ser visto em forma de bacilo ampliado milhões de vezes.

As visitas podem ser feitas com monitoria previamente agendada. São equipamentos, painéis, modelos gigantes tridimensionais de bactérias, vírus e protozoários que explicam as bases da microbiologia e revelam o que são os chamados “germes” ou micróbios.

O diferencial do museu está no seu laboratório de ciências, equipado para oferecer cursos práticos a alunos e professores. Composto de 15 microscópios, cada turma deve ter no máximo o mesmo número de alunos, para que cada um tenha acesso a um equipamento. Durante duas horas os alunos e o professor de biologia, de escola pública ou privada, acompanham a aula, preparam o meio de cultura para semear as bactérias e aprendem a replicá-las usando todos os equipamentos.




“Queremos despertar neles a curiosidade científica, trabalhando com toda assepsia necessária”, ressalta Gláucia Colli Inglez, bióloga formada pela USP e coordenadora do museu. “Alunos e professores também aprendem a fazer coloração de Gran, um método para distinguir diferentes tipos de bactérias, e extraem DNA de frutas para ver como é esse filamento. Procuramos ensinar uma série de experimentos para que possam se sentir estimulados a ser cientistas.”

O curso oferecido pelo museu é estruturado em cinco módulos. O módulo inicial é básico para escolas que nunca usaram laboratório e microscópio. Depois seguem mais quatro módulos diferenciados. Um deles trabalha só com bactérias, outro com fungos, outro ainda analisa DNA e o último se refere à ação dos agentes físicos e químicos nos microorganismos. Desde que tenha passado pelo módulo básico, a escola pode optar por fazer o curso no museu ou na própria escola, caso possua laboratório.

Ao final do curso cada escola recebe um kit de experiências. Com ele, o professor pode reproduzir o que aprendeu no curso para seus alunos na escola. “O interesse é tanto que o professor divide a sala em várias equipes, dando oportunidade para todos participarem do aprendizado”, ressalta Gláucia.
Outra preocupação dos coordenadores do curso é fazer com que todas as escolas tenham acesso a esses conhecimentos. Gláucia explica que há um custo de R$ 150,00 por turma de alunos de escola privada. Nesse valor está incluído o kit de experimentos, que tem custo de R$ 65,00. A diferença de R$ 85,00 é usada para financiar a participação das escolas públicas, que não pagam pelo curso nem pelo kit. “Assim acreditamos que estamos ajudando a todas as escolas”, complementa.

Animalículos

O passeio pelo museu começa a partir de um microscópio antigo simples, que possui uma pequena ponta em agulha, próxima a um círculo transparente, a lente, onde se colocava o material a ser analisado. A história da microbiologia nasceu da curiosidade de um tecelão holandês nascido no século 17 chamado Anton van Leeuwenhoek, que tinha como passatempo fazer lentes polidas. Foi nesse microscópio, observando gotas de água sob a luz de vela, que Leeuwenhoek viu pequenos corpúsculos que ele denominou de “animalículos”. A curiosidade do tecelão levou-o a analisar as bactérias presentes na boca ao retirar material entre os dentes e colocar em água limpa.

Dois séculos depois, na segunda metade do século 19, o químico francês Louis Pasteur conseguiu comprovar de forma decisiva que todos os seres vivos, desde o mais simples até os mais complexos, são sempre provenientes de outros seres vivos através da reprodução, consolidando assim a teoria da biogênese. No museu é possível acompanhar toda a experiência desenvolvida por Pasteur a partir da réplica de um tubo fino e curvo como “pescoço de cisne”, onde o químico francês colocou um caldo de carne fervido para matar os microorganismos. “O químico francês deixou o balão esfriar e, com o resfriamento, a entrada de ar ficou bloqueada pela poeira e gotículas de água, funcionando como um filtro e mantendo o caldo estéril”, explica João Luís de Abreu Vieira, monitor da Fundação Butantan. “Ao entornar o balão, o filtro deixa de existir e o caldo volta a ter contato com o ar e suas impurezas, causando a contaminação desse caldo pelos microorganismos, que encontram ali as condições adequadas para sua proliferação. “


O Museu de Microbiologia: ciência de forma didática


Continuando a viagem, o visitante do museu avista algumas máquinas, entre elas o sintetizador de DNA e o microscópio Leitz, do início do século 20, que chegou ao Instituto Butantan na década de 40 e foi utilizado em diferentes laboratórios até 1987. Há ainda a maquete da produção da vacina contra a coqueluche, uma tecnologia desenvolvida pelo Butantan, onde todo o processo produtivo é automatizado. Também se vê a maquete de produção de soros obtidos através do plasma sanguíneo de cavalos imunizados, passando por um sistema fechado de tanques e tubos de aço inoxidável até se transformar em soro hiperimune pronto para aplicação nos seres humanos.

A maioria das pessoas acha que os micróbios só causam doenças ou sujeira. Mas Vieira faz um alerta: “Não é bem assim. Muitos micróbios podem trazer também benefícios, como no caso da planta do feijão, que nas suas raízes tem bactérias do gênero Rhizobium. Essas bactérias, em seu metabolismo, transformam o nitrogênio em nitritos e nitratos, tirando o nitrogênio da atmosfera.”

Os insetos hematófagos, aqueles que sugam sangue, também estão presentes na exposição, permitindo que o visitante conheça quem são os transmissores de muitas doenças no Brasil, como a malária, a doença de Chagas, a leishmaniose e a dengue.

Outro painel mostra o vírus Influenza, mais conhecido como vírus da gripe, ampliado um milhão de vezes. No caso do vírus da Aids, também ampliado, compostos sintéticos se encaixam nos lugares das bases nitrogenadas do DNA, como o AZT, que bloqueia a síntese do DNA a partir do RNA. Nesse caso a esfera tem um corte para mostrar o interior do vírus. O último painel fala sobre os vírus que causam epidemias de febre hemorrágica, como o vírus Ebola. A doença da vaca louca, que matou 150 mil vacas em 1986 na Inglaterra, foi transmitida ao homem pela ingestão de carne ou de leite de animais contaminados pela ingestão de ração baseada nos restos de vísceras de carneiro, informa o painel.

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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