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O guaraná pode ser uma arma contra o câncer por retardar o desenvolvimento de tumores, impedindo a proliferação das células cancerosas. É o que sugere pesquisa desenvolvida na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP. O médico veterinário Heidge Fukumasu vem investigando os efeitos quimiopreventivos da semente em camundongos desde 2001 e os resultados mais recentes mostram que a expectativa de sobrevida dos animais tratados aumenta de forma significativa. Além disso, o processo de desenvolvimento do câncer se torna quase 55% menos agressivo com a presença de guaraná.

A quimioprevenção do câncer pode ter efeitos sobre o aparecimento do tumor, impedindo-o, ou sobre seu desenvolvimento, retardando-o. Nos experimentos iniciais, que Fukumasu realizou quando as pesquisas ainda faziam parte da sua iniciação científica, ele identificou que o tratamento com guaraná diminuía as lesões causadas pelo desenvolvimento de câncer em fígado. Em sua dissertação de mestrado, o médico veterinário identificou efeitos preventivos do guaraná, mas não sabia como ocorria essa interferência. Esclarecer esse ponto é um dos objetivos dos novos estudos, que compõem agora seu doutorado, sob orientação da professora Maria Lucia Zaidan Dagli.

Metodologia – Os resultados mais recentes tratam dos experimentos feitos com o uso do guaraná sobre uma linhagem de tumor de mama de camundongo (tumor de Ehrlich). A idéia era comparar o tempo de sobrevida de animais tratados e não-tratados e quantificar as células tumorais. Para isso, Fukumasu realizou dois experimentos, nas mesmas condições, com dois grupos de dez camundongos em cada.


Camundongos que não receberam a substância quimiopreventiva viveram por 21 dias após a injeção das células tumorais, enquanto os animais tratados com guaraná tiveram expectativa de vida média de 24 dias. “Essa é uma diferença significativa, pois um aumento de 12,5% na sobrevida de uma pessoa é um resultado muito interessante para pacientes com câncer”, afirma autor da pesquisa

Os animais do grupo experimental foram tratados por sete dias com guaraná antes da injeção das células cancerosas, e por mais 14 dias após a indução do câncer. O grupo-controle recebeu apenas água. No primeiro experimento, os camundongos foram tratados com três doses de guaraná para definir qual seria a melhor – no caso, 2 gramas de guaraná por quilograma (g/kg) de peso. O outro teste buscava saber se a planta poderia aumentar a sobrevida dos animais com tumor.

Efeitos – Apesar de se saber que a ação do guaraná sobre o câncer é positiva, faltava conhecer melhor o efeito da planta sobre as células tumorais. Para isso, o pesquisador sacrificou os animais 14 dias depois da indução do câncer e quantificou as células. Os resultados mostram que o guaraná retardou o desenvolvimento do tumor.

Apesar de o número de células ter aumentado em relação ao que foi injetado, a quantidade encontrada nos camundongos tratados foi 54% menor que no grupo-controle. “O guaraná manteve algumas células cancerosas numa espécie de estado ‘vegetativo’, pois impediu que essas células iniciassem o processo de proliferação”, explica. “Em outras que já haviam iniciado esse processo, o guaraná atuou atrapalhando o processo de mitose e a separação celular.”

Enquanto os camundongos que não receberam a substância quimiopreventiva viveram por 21 dias após a injeção das células tumorais, os animais tratados com guaraná tiveram uma expectativa de vida média de 24 dias. “Essa é uma diferença significativa, pois um aumento de 12,5% na sobrevida de uma pessoa é um resultado muito interessante para pacientes com câncer”, afirma.

Além disso, o volume do abdômen dos camundongos tratados foi 45% menor que no grupo-controle. O processo inflamatório desencadeado pela presença de um corpo estranho (no caso, as células tumorais) provoca inchaço da região abdominal, onde o câncer se desenvolve.

Esse processo é marcado também pelo extravasamento de hemácias (glóbulos vermelhos do sangue), já que os vasos ficam mais dilatados e danificados quanto maior é o número de células inflamatórias atuando contra a presença das cancerosas. Medir o nível de hemorragia é uma forma de atestar a agressividade desse tipo de tumor.

A quimioprevenção realizada na pesquisa resultou num câncer 87% menos agressivo quanto a esse aspecto nos camundongos tratados, em relação aos que compuseram o grupo-controle. “Nos animais que receberam guaraná, o grau de hemorragia ficou entre 0 e 1, enquanto no grupo-controle atingiram-se os níveis 2 e 3”, aponta Fukumasu.

Próximos passos – Agora que se sabe como o guaraná atua sobre as células tumorais, os próximos passos dos estudos de Fukumasu se concentrarão em descobrir por que a substância promove a menor proliferação. “Queremos descobrir onde o guaraná atua nas células cancerosas, quais as proteínas e vias metabólicas envolvidas”, planeja

 

 

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O Jornal da USP é um órgão da Universidade de São Paulo, publicado pela Divisão de Mídias Impressas da Coordenadoria de Comunicação Social da USP.
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