Enquanto os termos Holocausto e Shoah se referem ao extermínio de 6 milhões de judeus (2/3 da população judaica da Europa, 1/3 dos judeus do mundo, o grupo com o maior número de vítimas da política nazista), a historiografia européia mais recente cunhou o termo em romani Porrajmos para denominar o extermínio dos ciganos pelos nazistas e

Foto crédito: United States Holocaust Memorial Museum, Washington, DC, Estados Unidos

seus colaboradores na Alemanha e nos países ocupados. O Porrajmos vitimou aproximadamente metade da população cigana da Europa (500 mil ciganos) e foi resultado de uma política planejada – direcionada sobretudo contra os ciganos nômades – de exclusão socioeconômica, “guetoização”, trabalho forçado para firmas alemãs em campos de concentração (“extermínio pelo trabalho”), fuzilamentos pelas Einsatzgruppen (forças-tarefa especiais), experiências pseudocientíficas, eutanásia, fome, doenças e morte por gás Zyklon B nos campos de extermínio. Todo esse processo de extermínio cigano é desconhecido em pesquisas no Brasil e

Campo de Auschwitz: “Símbolo do assassinato de seres humanos só por terem nascidos judeus ou ciganos”

passou a ser objeto de estudos na Europa a partir de 1972 e, em especial, a partir da década de 90.

Não houve uma sistematização de relatos e pesquisas a respeito dos ciganos durante o nazismo antes de 1972, ano em que foi publicado The destiny of Europe’s gypsies (O destino dos ciganos europeus), de Donal Kenrick e Grattan Puxon. Apesar desse e de outros estudos, eles ainda são bastante escassos. Um estudo sistemático a respeito dos ciganos durante o Holocausto é tarefa difícil, sobretudo pela falta de fontes escritas do período, praticamente restritas aos documentos nazistas. Procedentes de uma tradição oral, os ciganos não deixaram relatos de testemunhos a respeito do período. Só recentemente o romani se transformou em língua escrita, o que tem auxiliado no estudo do Porrajmos, com recentes publicações de sobreviventes, como é o caso da biografia do cigano alemão Otto Rosenberg, Das Brennglas, publicado em 1998.

Antes do nazismo – Na década de 30, os ciganos estavam em toda a Europa. Muitos deles não viviam mais em caravanas, e tinham uma vida urbana fixa. As estimativas de ciganos na Alemanha quando da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, variam de 15 mil (0,03% da população total de 60 milhões) a 30 mil (0,045%). Também os judeus eram uma população minoritária naquela época: 500 mil (0,77% da população).

Mesmo antes do nazismo a discriminação contra os ciganos já existia. No início do século 20, por exemplo, começou a funcionar na Alemanha uma “oficina de informação cigana”, cuja função era registrar os ciganos, considerados uma ameaça contra a qual o estado precisava se defender. Em 1905, foram publicados registros com dados genealógicos e fotografia de centenas de ciganos alemães. Já então a “mistura de raças” era declarada um perigo.

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, foram promulgadas leis que regulamentavam o nomadismo e essa atitude se voltou contra alguns ciganos e está diretamente relacionada com o nacionalismo e a xenofobia.

Durante a República de Weimar (1919-1933), os ciganos sofreram algumas discriminações e prisões feitas pelo estado. Por exemplo, em 1926, a Baviera promulgou uma lei para “combater ciganos, a-sociais e indivíduos sem hábitos de trabalho”. Qualquer cigano que não pudesse provar que possuía um emprego fixo corria o risco de ser levado à prisão. No entanto, como afirma a historiadora francesa Henriette Asséo, durante a República de Weimar, “a polícia ainda não procurava sistematicamente por ciganos. Ela só prendia aqueles nos quais esbarrava acidentalmente e isso ocorria com o objetivo claro de obrigá-los a viver de acordo com as normas sociais predominantes”.

Ainda antes da ascensão de Hitler ao poder, a agência de informações do Partido Nazista começou a realizar um levantamento a respeito das “raças estrangeiras não-européias” na Alemanha, os judeus e os ciganos, embora ambos fossem cidadãos alemães.

Foto crédito: United States Holocaust Memorial Museum, Washington, DC, Estados Unidos
Campo de trabalhos forçados deciganos em Lety, na Tchecoslováquia, durante a Segunda Guerra Mundial: no verão de 1938 foi elaborado o Decreto dos A-Sociais, que preconizava o trabalho forçado de todos os ciganos, que estava inserido no Plano Econômico Quadrienal

Hitler e a “higiene da raça” – As teorias formuladas pela biologia racial e pela antropologia um século antes nos países de língua alemã seriam desenvolvidas pelos nazistas para justificar as medidas de extermínio que vitimizaram as chamadas “raças inferiores”, por causa de suas características antropológicas ou pelo seu estilo de vida. Os ciganos, considerados o modelo dos denominados “a-sociais”, deveriam ser separados da comunidade alemã. A partir daí, ainda na época da República de Weimar, as medidas anticiganas passaram a apresentar similaridade com as medidas antijudaicas. Hitler trouxe uma modificação na perspectiva de discriminação dos ciganos, relacionando o fim da desordem social com a propagação da “higiene da raça”.

Logo depois da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, entraram em vigor leis e decretos que passaram a excluir os ciganos da sociedade alemã, além de leis que dificultavam a sobrevivência – como as que determinavam aumento do aluguel e o pagamento de 15% do salário como imposto. O Serviço de Raça e Povoação da SS, em Berlim, exigiu a esterilização de “ciganos e meio ciganos”. O programa de esterilização forçada, adotado pelos nazistas desde o início da década de 30 para eliminar qualquer “inferioridade racial” e preservar a “pureza” da “raça ariana”, se voltou contra doentes físicos e mentais alemães, filhos de pais negros e ciganos. De 1933 a 1939, 200 mil jovens alemães deficientes foram esterilizados.

Desde 1934, muitas repartições do Partido Nazista tentaram excluir ciganos de seus empregos, iniciando o processo de exclusão econômica desse grupo. As Leis Raciais de Nuremberg, de 1935, foram a primeira grande medida de exclusão social decretada contra judeus e também contra ciganos. Elas retiravam a cidadania desses grupos, considerados seres de “sangue estrangeiro” (“artfremdes Blut”) e que, por isso, deveriam se separar da sociedade ariana. Nas Leis consta: “Às raças estrangeiras pertencem todas as outras raças [que não a ariana] que na Europa são, além dos judeus, somente os ciganos”.

Guetos – Desde o início do regime nazista, houve a tentativa de “guetoização” dos ciganos na Alemanha, ou seja, de separá-los da sociedade. A política racista começou a ser reforçada em 1936, ano em que cerca de 600 ciganos foram levados para o “campo de ciganos” de Marzahn, nos arredores de Berlim, antes que os Jogos Olímpicos começassem. Os ciganos estavam proibidos de sair desse campo.

Para Henrich Himmler, chefe das SS e chefe da polícia alemã – arquiteto da “solução final” e um dos principais assessores de Hitler –, havia ciganos “arianos puros”, embora acreditasse que a maioria era “inferior”, considerando-os seres “indesejáveis, para serem eliminados e mortos”. A denominada biologia racial – pseudobiologia – acabou por decidir quem deveria morrer e quem continuaria vivo, assim como determinou uma série de experiência pseudocientíficas, desumanas, buscando a “limpeza” racial, a “purificação racial” de ciganos e também de judeus.

Foto crédito: Centro de Documentação do Yad Vashem, Israel
Plataforma de trem em Auschwitz-Birkenau e ciganas sob trabalhos forçados em Ravensbrueck (abaixo): a política do “extermínio pelo trabalho”

Nesse sentido, o racismo na ciência foi a tônica e os cientistas tiveram papel importante no extermínio. No que tange ao programa de “eutanásia”, os ciganos foram as vítimas mais numerosas. A política de apoio às experiências pseudocientíficas e de repressão política racista era conduzida tanto pela Polícia Criminal quanto pelo Instituto de Higiene Racial, fundado em novembro de 1936, sob a direção do médico Robert Ritter.

Como os ciganos são um grupo étnico de provável origem indoariana e, portanto, representam por si “arianos puros”, passou-se a definir a categoria de “cigano misturado” ou “meio cigano” (“Zigeunermischling”), à qual 90% dos ciganos foi classificada. Os “meio ciganos” – ou Mischlinge – deveriam ser separados dos “arianos”, esterilizados e encarcerados. No mesmo ano da fundação do Instituto de Higiene Racial, os ciganos passaram a ser deportados para campos de concentração na Alemanha, em especial a partir de 1937, quando Himmler decretou a Campanha de Prevenção de Criminosos, ordenando a prisão e deportação de “a-sociais”. A partir daí houve vários decretos e ondas de aprisionamento de ciganos para campos na Alemanha nazista, como os de Sachsenhausen, Sachsenburg, Dachau, Mauthausen, Flossenbürg e Buchenwald.

Em outros lugares da Alemanha também foram formados campos coletivos de ciganos, que se mostraram depois locais de junção de ciganos que seriam deportados. Portanto, ao processo de identificação e classificação dos ciganos, seguiu-se o processo de “guetoização” de ciganos na Alemanha, para em seguida, com a eclosão da guerra, facilitar a deportação para a exploração de trabalho forçado e o extermínio na Europa ocupada.

Os ciganos se encaixavam em duas categorias: na de “a-sociais” e na de “seres racial e biologicamente inferiores”. Era justamente essa segunda categoria à qual os judeus pertenciam. Os judeus e ciganos sofreram uma política sistemática de extermínio em massa, denominada pelos nazistas de “solução final da questão judaica” e “solução final da questão cigana”, preconizada e posta em ação somente a partir de 1941, na qual o “extermínio pelo trabalho” se incluía. Nesse sentido, pode-se compreender a afirmação de Yehuda Bauer, de que, “apesar das diferentes razões históricas, os ciganos dividiram de variadas formas com os judeus a duvidosa honra de serem a quintessência dos estrangeiros em uma Europa cristã predominantemente sedentária”.

O motivo central para o extermínio dos ciganos foi racial. Eles não condiziam com o ideal da “raça ariana”, mas foram discriminados e excluídos da sociedade porque muitos não eram sedentários e não se encaixavam na sociedade preconizada por Hitler – daí serem chamados de “a-sociais”.

Foto crédito: United States Holocaust Memorial Museum/Washington, DC, Estados UnidosTrabalhos forçados – No verão de 1938, foi elaborado o Decreto dos A-Sociais de Heydrich (Asozialen-Erlass Heydrichs), que preconizava o trabalho forçado de todos os ciganos, cuja força de trabalho estava inserida no Plano Econômico Quadrienal. Centenas de ciganos e pessoas consideradas “vagabundos” foram deportados a partir de 21 de abril de 1938 para o campo de concentração de Buchenwald, durante a ação contra “vagabundos do Reich”, reforçada pelas prisões em massa de julho de 1938 e as deportações de judeus e ciganos, conduzidas por Adolf Eichmann, para campos de concentração da Alemanha e Áustria depois da Noite dos Cristais Quebrados, de 9 de novembro do mesmo ano. Durante as deportações, a Gestapo recolhia as posses roubadas das vítimas.

O caminho para o extermínio de milhares de ciganos nas câmaras de gás começou com o Decreto da Luta contra a Praga Cigana, de 8 de dezembro de 1938, ou Decreto Fundamental, no qual consta: “Por motivos raciais, a regulamentação da questão cigana deve começar. A identificação de pertencer aos ciganos vai de encontro com a RSHA (Reichsicherheitshauptamt, o serviço central de segurança do Reich), com base no ‘parecer racial’ de Robert Ritter”. Segundo o historiador Romani Rose, a “solução definitiva” (“endgültige Lösung”) da assim denominada “questão cigana” foi anunciada nesse decreto de Himmler, cuja conseqüência direta foi “a deportação, no início de 1943, de ciganos de 11 países europeus para o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau”. 

As medidas do Decreto Fundamental foram reforçadas pelo “decreto de fixação de residência”, promulgado a 7 de outubro de 1939 por Himmler, no qual os ciganos estavam proibidos de se mudar dentro das fronteiras do Reich e a partir do qual passaram a ser massivamente utilizados como mão-de-obra forçada. Com a invasão da Polônia e o início da guerra, Reinhard Heydrich resumiu a questão judaica da seguinte maneira: “1) judeus o quanto antes para as cidades; 2) judeus fora do Reich para a Polônia; 3) os 30 mil ciganos restantes também para a Polônia”. A estimativa de Heydrich em relação aos ciganos era exagerada, mas nesse documento é claro o objetivo de dar aos ciganos o mesmo destino. Além disso, é clara a relação direta entre exploração da mão-de-obra de judeus e ciganos antes de seu extermínio (“extermínio pelo trabalho”) e o extermínio direto, passando pelo processo de “guetoização” e extermínio nas câmaras de gás.

Como trabalhadores forçados, os ciganos foram vítimas do programa de extermínio de firmas da SS e de empresas privadas. Dentre as firmas da SS destacamos a Deutsche Erd und Teinwerke GmbH (Dest, Escavadeira e Pedreira Alemã), instalada nos campos de concentração de Buchenwald, Mauthausen, Flossenburg, Gross-Rosen e Natzweiler com o objetivo de explorar a mão-de-obra de prisioneiros. Segundo Romani Rose e Walter Weiss, os ciganos também exerceram trabalhos forçados em grandes empresas, como a Siemens, Daimler-Benz, BMW, IG Farben, AEG, Heinkel, Messerschmitt e Steyer-Daimler-Puch, além de empresas menores de produção bélica e na empresa de construção atualmente conhecida como Phillip Holzmann.

Foto crédito: United States Holocaust Memorial Museum/Washington, DC, Estados Unidos
O campo de Ravensbrueck: empresas alemãs colaboraram com a exploração e extermínio de ciganos

As condições de trabalho eram igualmente desumanas tanto nos campos de concentração quanto nas empresas privadas alemãs da produção bélica. Em média, os ciganos trabalhavam exaustivamente de 12 a 15 horas por dia, sendo subalimentados, o que conduzia em poucas semanas à subnutrição, doenças, enfraquecimento e, por conseguinte, à morte. Além disso, durante o trabalho, a SS maltratava os prisioneiros física e psiquicamente, xingando-os, humilhando-os, batendo, enforcando ou fuzilando. Por isso, os sobreviventes sofreram graves danos à saúde.

Extermínio – Até o processo de deportação para o campo de extermínio de Auschwitz, houve um processo sistemático de perseguição, deportação e assassinatos dos ciganos. Quase dois meses depois da eclosão da Segunda Guerra Mundial, ocorreu a primeira deportação de ciganos para a Polônia ocupada, em 20 de outubro de 1939, à qual se seguiram outras. Outro decreto de Himmler, visando à seleção de ciganos para a deportação, foi promulgado em 7 de agosto de 1941, ao que se sucederam os primeiros fuzilamentos de ciganos na União Soviética ocupada e o confinamento em guetos (como Lódz, Radom e Varsóvia), muitos dos quais seguidos de transporte para os campos de extermínio. Os guetos eram locais de confinamento de judeus, para onde os ciganos também foram levados. Neles, a situação era de quase completa carência material, desnutrição e doenças.

O auge dessa política contra os ciganos ocorreu com o Decreto Auschwitz, promulgado por Himmler em 16 de dezembro de 1942, que ordenava que todos os ciganos restantes do território do Reich, isto é, cerca de 10 mil almas, deveriam ser deportados para o campo de extermínio de Auschwitz, um complexo de campo de concentração (Auschwitz als Stammlager) que incluía o campo de extermínio Auschwitz-Birkenau e o campo de trabalhos forçados de Auschwitz-Monowitz, o maior centro de exploração de prisioneiros. Em Auschwitz-Birkenau foi utilizado o gás mortal Zyklon B nas câmaras de gás, para o qual as firmas IG-Farben, Degussa e Degesch (Deutsche Geselschaft für Schädlingsbekämpfung) tinham o monopólio de produção.

A partir de 26 de fevereiro de 1943 iniciou-se a deportação de ciganos para Auschwitz, que continuou no ano seguinte. Em 16 de maio, muitos dos 6 mil ciganos que sobreviveram em Auschwitz às condições subhumanas do “extermínio pelo trabalho” e das experiências pseudocientíficas se revoltaram diante da tentativa do comandante de Auschwitz-Birkenau de levá-los para as câmaras de gás. Em 2 de agosto, 3 mil deles foram deportados para outros campos e os demais 3 mil, assassinados.

Auschwitz foi a maior máquina de extermínio de todos os tempos, onde 900 mil judeus, 70 mil poloneses não-judeus, 21 mil ciganos e 13 mil prisioneiros de guerra soviéticos foram assassinados. Ali, entre 1941 e 1945, pelo menos 30 mil prisioneiros, sobretudo judeus, ciganos e eslavos, morreram em decorrência do programa do “extermínio pelo trabalho”. Segundo o historiador e sobrevivente de Auschwitz Hermann Langbein, “Auschwitz é o símbolo do assassinato de seres humanos nas câmaras de gás, somente por terem nascidos ciganos ou judeus”.

As estimativas do total de vítimas ciganas do regime nazista, assassinadas nas câmaras de gás, em fuzilamentos em massa e nos guetos, giram em torno de 200 mil a 500 mil. O reconhecimento da colaboração no extermínio por parte de algumas firmas ocorreu ao longo do pós-guerra, em especial depois da reunificação da Alemanha, em 1989/1990. A empresa Daimler-Benz, por exemplo, erigiu um monumento em memória dos cerca de 40 mil trabalhadores forçados que foram explorados no período nazista por essa firma, que também pagou indenização para alguns sobreviventes da Holanda e da Polônia, no final da década de 80.

Mas ainda há muito a ser reconhecido, pesquisado, debatido e compreendido a respeito da simbiose entre o capitalismo, a ciência, o nazismo e a máquina de morte em escala industrial nesse capítulo infame da história. Nesse sentido, buscamos dar uma pequena contribuição, numa época em que revisionistas – e até mesmo estadistas – tentam negar o Holocausto e em que a intolerância e a discriminação ainda são um dos combustíveis, junto com interesses econômicos espúrios, de muitas das atuais guerras.

Ania Cavalcante, doutoranda em História pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, é professora estagiária do curso “Literatura e Holocausto” da área de Literatura Hebraica da FFLCH, professora nativa de alemão e co-autora de Imperialismo e guerra na Iugoslávia (Xamã, 1999).

 

Discriminação ainda continua

Atualmente vivem cerca de 60 mil ciganos na Alemanha, dos quais 40 mil são ciganos sinti e 20 mil são ciganos rom. Os ciganos são até hoje discriminados, embora sejam cidadãos alemães e trabalhem como comerciantes, operários, artesãos, artistas e funcionários públicos, dentre outras profissões. Antes do genocídio nazista, os ciganos também trabalhavam como funcionários públicos, notadamente nos correios e nos meios de transporte, e muitos tinham residência fixa, em especial os ciganos sinti, há seis séculos vivendo na Alemanha. Portanto, ao contrário do que dizia a propaganda nazista, tanto ciganos como judeus viviam integrados na sociedade alemã como cidadãos, embora houvesse discriminação.

A integração desses ciganos e judeus à sociedade alemã pode ser notada, por exemplo, no fato de muitos deles terem servido como soldados do exército na Primeira Guerra Mundial e, também, em menor medida, na Segunda Guerra Mundial, até que os decretos do Ministério de Guerra do Reich proibissem judeus e ciganos de pertencer ao exército. No entanto, os mitos e preconceitos em torno dos ciganos perduraram ao longo dos séculos, muitos até os tempos atuais. (A. C.)

 
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