Tempos de fascismos: ideologia – Intolerância – Imaginário

Maria Luiza Tucci Carneiro,
Federico Croci

Maria Luiza Tucci Carneiro é historiadora, graduada e pós-graduada em História pela Universidade de São Paulo. Tanto no Mestrado como no Doutorado tem o racismo e ao antissemitismo como objeto de estudo, ambos publicados no formato livro. Em 2001 apresentou sua Tese de Livre Docência intitulada Cidadão do Mundo: O Brasil diante da questão dos refugiados judeus, 1933-1948. Atualmente é professora Livre Docente dos seguintes programas de Pós-Graduação da Universidade de São Paulo: História Social do Departamento de História/FFLCH; Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaicas do Departamento de Letras Orientais/FFLCH; e Direitos Humanos da Faculdade Direito São Francisco. Coordenadora do LEER- Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP, do Departamento de História/USP.

Federico Croci é Doutor em História Contemporânea pela Università di Genova, membro do Comitê Científico do Centro Internacional de Estudos sobre a Emigração Italiana e pesquisador do Arquivo da Escrita Popular, centro de pesquisa do Dipartimento di Storia Moderna e Contemporanea, da Università di Genova. Atua como Professor Visitante junto ao Departamento de Letras Modernas da FFLCH-USP. Desde novembro de 2006, coordena o módulo Migrações do LEER-USP; é pesquisador Senior do PROIN, Projeto Integrado Arquivo Público do Estado/USP.

Tempos de Fascismos são tempos de intolerância, tema objeto dos ensaios que compõem esta coletânea. A intolerância do fascismo deriva claramente de seu nascimento político como ideologia política contraposta aos princípios e práticas da democracia liberal. Utilizando os termos de Bobbio, o fascismo, centrando-se na importância e na primazia do poder político, não admite as discussões que podem fazer prevalecer a razão. Entre outros motivos isto acontece porque as verdades do fascismo não são necessariamente de origem racional, mas basicamente porque o fascismo não reconhece o direito natural à vida (o direito humano básico), nem o direito à integridade física e todas as liberdades que derivam disto, mas propõe uma visão orgânica na qual o bem-estar do indivíduo está subordinado ao da comunidade (nação-raça) e às leis que esta desenvolve ao longo da história e que impelem se bem-estar, mesmo que, para consegui-lo, seja necessário o sacrifício individual.
Se à visão anti-Iluminista – para sintetizar os elementos antirracionalistas, antimaterialistas e antiuniversalistas (especialmente do pondo de vista ético) que caracterizam o fascismo – agregamos o rol histórico da violência e o sistema de valores relacionado, está claro que a intolerância no fascismo é um corolário natural de sua própria ideologia. Tudo e todos os que se anteponham ao ou impeçam o bem-estar do corpo nacional colocam-se, para o fascismo, automaticamente no plano dos inimigos da comunidade-nação-raça e contra eles é exercida a intolerância em seus vários graus, que vai desde a exclusão até a morte.
Na visão ideológica fascista da vida humana como uma luta contínua, ou se preferir, uma contínua guerra de sobrevivência, a relação com o "inimigo" assume, com muita facilidade, a qualidade de um jogo soma zero no qual a sobrevivência do fascismo e do fascista só é possível através do combate e da eliminação do inimigo. É assim que este tipo de visão não cede espaço para a existência das categorias que são definidas como "inimigas" ou acaba sendo altamente intolerante com elas. Os críticos do fascismo, a oposição política, os "parasitas", os inimigos internos – ou células inassimiláveis ao corpo nacional, nas visões mais biológicas – são excluídos e sofrem a intolerância. Em versões e situações extremas – o inimigo que não se rende, o crítico que prejudica – são eliminados, destruídos, assassinados. Portanto, o aparato repressivo fascista, além de ser uma metodologia sistêmica própria do Estado forte, é uma necessidade ideológica.

São Paulo
Edusp / Imprensa Oficial / Arquivo Público do Estado de São Paulo
2010
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