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Fotografias em branco e preto de mulheres vitimadas pelo conflito armado em Antioquia, Colômbia, tiradas enquanto narram as dramáticas experiências do assassinato de entes queridos, as quais tiveram que presenciar e sobreviver.

Os retratos, tirados em momentos cruciais da narração, congelam instantes de profunda tristeza, que a artista fixa a uma fina tela de seda, evocando a relíquia cristã do sudário, da Paixão e da Piedade. Por isso, a série Sudários, em suas múltiplas itinerâncias, vem sido apresentada em igrejas, num diálogo entre a arquitetura sacra, o espaço de oração e a imagem da artista.

O corpo, como superfície e profundidade, é o espaço onde se objetiva a dor. É através do corpo que a pena se expressa, diz Veena Das, o que faz dele “um pergaminho de perdas”. A relação entre corpo e texto é articulada pelo recurso da inscrição, da gravura que fala para fazer visíveis os nós que atam a dor e a memória.

Tais são as coordenadas que enquadram a criação da fotógrafa e artista visual colombiana, Erika Diettes. Sua obra, que pode ser expressa como um corpus de perdas, é gerada por intensos processos de indagações em sitios específicos, por sustentados encontros e relações com pessoas que tem sofrido a morte violenta e a desaparição dos seus entes queridos.

Sudários é composta por vinte retratos, impressos em seda, de mulheres de Antioquia, Colômbia, que foram obrigadas a presenciar, olhar e chorar enquanto torturaram e assassinaram seus mais caros afetos. As fotografias foram realizadas no momento em que elas prestavam depoimento, como testemunhas, sob a agonia das lembranças e na mesma geografia dos acontecimentos.

Um sudário é um manto fúnebre, o pano que amortalha o corpo do defunto, mas é também aquele tecido que, uma vez em contato com o rosto, é contaminado e se torna impregnação fantasmática. Sob esta concepção alegórica, os Sudários de Diettes são o registro de um corpo espectral duplo: o corpus da agonia que encarnam os retratos, e esse outro corpus fúnebre que vela os rostos. Este duplo registro expõe o pathos liminar a partir do qual habitamos hoje o mundo: como sobreviver e conviver com a perda, como processar as mortes violentas que envenenam a memória e contaminam a ilusão de uma paz.

Muito tem se falado sobre a legibilidade das imagens e seu poder de informar. Particularmente, as imagens vinculadas a acontecimentos traumáticos expõem um pathos que nos confronta e fazem perceptível a inquietante experiência da qual eles emergem. A imagem queima, como tem dito Didi-Huberman, pela urgência que manifesta, fazendo impossível toda retirada.

Submersos no corpus de perdas que estas telas condensam, como não estar envolvido neste abismo de dor sublimado? Como não habitar em meu próprio corpo isso que temos chamado de a dor dos outros? O sublime está inevitavelmente vinculado ao sensível, ao corpo, a um estado de mundo que nos fere e frente ao qual é humanamente difícil ficar alheio.

Sudários, Pergaminho de Perdas
Ileana Diéguez

Serviço

II Bienal Internacional de Teatro da USP
Exposição Sudários
Abertura com Ileana Diegues, Érika Diettes e Ferdinando Martins
Quando Abertura 02/12- 18h – Até 16 de dezembro de 2015.
HORÁRIOS: SEG., QUA. A SÁB.,18-20H, DOM., 7H30-10H30, 18-20H
Quanto Gratís
Onde  Igreja N. Sra. da Paz - R. DO GLICÉRIO, 225 – LIBERDADE – 11 3340 6950