Nos países da América
em que a Doença de Chagas existe, estima-se que de 16 a 18
milhões de pessoas estejam infectadas e que ocorram cerca de
50 mil mortes a cada ano |
|
|
|
|
A descoberta de um novo medicamento traz novas esperanças para
o tratamento da Doença de Chagas. Trata-se do hidroximetilnitrofural,
um novo composto químico desenvolvido a partir de uma pesquisa
realizada na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF)
da USP.
No Brasil, só existe um medicamento eficaz contra o Tripanossoma
cruzi, parasita causador da Chagas. Fora isso, os remédios
presentes no mercado são pouco eficientes, pois só funcionam
na fase aguda da doença.
Em sua tese de doutorado apresentada na FCF, a pesquisadora Chung
Man Chin, mostra a eficiência que o composto químico
nitrofural apresenta em exterminar o Tripanossoma cruzi. "O
nitrofural é usado como um antimicrobiano tópico, devido
ao seu alto grau de toxicidade, mas apresenta alta atividade contra
o parasita" diz Chung. Dessa forma, a proposta era diminuir essa
toxicidade para que o composto pudesse ser utilizado por via oral
e para o tratamento durante a fase crônica da doença.
Para isso, Chung modificou a molécula de nitrofural, provocando
uma alteração que aumentasse a seletividade para o parasita.
O nitrofural possui uma ação mutagênica elevada
e baixa solubilidade, o que faz com que ele tenha de ser consumido
em grandes quantidades. Esse é o motivo da toxicidade dessa
substância, que pode causar hemólise (quebra das células
sanguíneas), muito desconforto, doenças nervosas, entre
outras coisas. "Não existem fármacos sem efeitos
colaterais adversos, mas a idéia é diminuí-los
ao máximo" diz Chung, que constatou que, entre os derivados
sintetizados, o hidroximetilnitrofural foi o mais ativo em testes
realizados em células in vitro e o que apresentou menos
toxicidade .
Chung continua suas pesquisas na Unesp, onde é professora,
utilizando o sistema Adept, uma terapia que une anticorpos e fármacos
(neste caso o hidroximetilnitrofural) para aumentar o grau de seletividade
e fazer com que a substância aja somente contra o parasita.
Depois de sintetizar e fazer os testes in vitro, ela está
realizando os testes pré-clínicos (em ratos) que mostrarão
se o hidroximetilnitrofural é realmente eficaz no tratamento
da doença.
Mais de 15 milhões de doentes
Hoje em dia, segundo a professora Elizabeth Igne Ferreira, orientadora
de Chung, estima-se que de 16 a 18 milhões de pessoas estejam
infectadas e que ocorram cerca de 50 mil mortes a cada ano, nos países
da América em que a doença existe.
Quando o parasita entra em contato com a corrente sanguínea
da pessoa contaminada, se aloja nas células musculares e as
destrói. A principal conseqüência disso é
o crescimento anormal do coração, que, por causa do
tecido lesionado, sofre de insuficiência cardíaca e precisa
compensar a lesão aumentando seu tamanho.
A doença se manifesta em três fases: aguda, intermediária
e crônica, sendo que os sintomas só aparecem na última.
"Os medicamentos que existem só atuam na fase aguda, que,
por ser assintomática, quase nunca é detectada"
explica Chung, sobre as dificuldades de cura da Chagas. "Da contaminação
até a manifestação clínica do mal, pode
levar 20 anos", continua.
|
|
|