O objetivo do estudo, ainda em andamento,
é demonstrar que só a cirurgia, que é feita no
hospital há nove anos, não basta para o sucesso do tratamento
utilizado para a diminuição drástica do peso |
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Alguns pacientes submetidos à cirurgia de redução
do estômago apresentam, após cinco anos ou mais, um considerável
novo ganho de peso. Além disso, outros distúrbios também
estão sendo observados no mesmo período após
a operação, entre eles o alcoolismo, anorexia, bulimia,
bruxismo, aumento excessivo de cáries e dentes quebradiços.
As informações vêm sendo obtidas e interpretadas
por um grupo de estudo multidisciplinar do Hospital das Clínicas
(HC) da Faculdade de Medicina da USP. O objetivo do estudo, ainda
em andamento, é demonstrar que só a cirurgia, que é
feita no hospital há nove anos, não basta para o sucesso
do tratamento utilizado para a diminuição drástica
do peso.
Segundo a psicóloga Marlene Monteiro da Silva, de um grupo
de pacientes operados pela técnica Fobi-Capella entre cinco
e nove anos atrás, 13% voltou a um estado de obesidade mórbida,
com um índice de massa corpórea (IMC) superior a 40.
O IMC é obtido dividindo-se o peso da pessoa pela altura ao
quadrado. No total, 64,15% voltou a ser obeso, com um IMC maior que
30.
Após a cirurgia, espera-se que o paciente emagreça a
quantidade almejada e, depois, engorde dez quilos novamente. Porém,
entre os 53 pacientes pesquisados, 58,5% ganhou mais que dez quilos,
39,6% mais de vinte quilos e 13,2% engordou mais de trinta quilos.
Somente 7,84% dos pacientes mantiveram o peso ideal ou emagreceram
demasiadamente (nos casos de bulimia e anorexia).
"Trata-se de resultados brutos e ainda não foram feitos
estudos estatísticos. Os dados não foram correlacionados
com as questões orgânicas e a integridade da cirurgia.
Mas não deixa de ser um alerta a pacientes e médicos:
a cirurgia não deve ser entendida como uma fórmula mágica",
explica Marlene.
Compulsão
De acordo com o médico e coordenador do grupo, Bruno Zilberstein,
o estudo pretende mostrar que a operação não
é o fim do tratamento. "Esses pacientes podem substituir
uma compulsão por outra. O segredo para o sucesso é
o acompanhamento", explica.
Para Marlene, o caso do alcoolismo, observado em 18% dos mesmos 53
pacientes estudados, é um dos exemplos da troca de compulsão.
As pessoas começam a aproveitar o benefício social do
emagrecimento - diferentemente da condição anterior,
na qual elas não saíam de casa - passando, assim, a
beber excessivamente.
"A obesidade, porém, é um sintoma de problemas
anteriores a isso. Existe, no obeso, a necessidade de se esconder
de alguma coisa que vai ser descoberta somente após a cirurgia",
conta a psicóloga, acrescentando que perto de 80% das pessoas
apresentam um quadro de depressão tanto antes quanto depois
da cirurgia.
"A pessoa passa a comer menos porque o estômago não
admite maior volume de alimento, e não porque tenha deixado
voluntariamente o hábito de comer em grandes quantidades",
observa o médico Joel Faintuch. Os retrocessos na perda de
peso, segundo ele, vêm também pelo fato de o estômago
operado ainda ter a capacidade de se dilatar, "podendo ampliar
seu volume em até quatro vezes".
Problemas bucais
Os dados a respeito de distúrbios odontológicos são
inéditos e mostram que metade dos pacientes retornou ao médico
com alguma queixa. Cerca de 80% estava com os dentes quebradiços
e 60% apresentava um aumento no número de cáries. Esses
problemas foram observados tanto em pacientes vindos do Sistema Único
de Saúde (SUS) quanto de planos de saúde particulares,
o que mostra que a situação está pouco ligada
à classe socioeconômica dos pacientes
Segundo a dentista Vera Lúcia Kogler, os motivos exatos desses
problemas ainda estão sendo estudados. "Porém,
isto pode estar relacionado com um problema na absorção
de nutrientes já observado; com refluxos gastro-esofágicos;
com um ressecamento da boca, fruto da medicação administrada
ou ainda com vômitos".
A cirurgia de redução de estômago é
um dos principais temas do 32º Gastrão, evento
que conta com a participação de cerca de mil médicos
especialistas em cirurgia do aparelho digestivo. No evento, que começou
nesta segunda (dia 4) e vai até sexta (8), no Centro de Convenções
Rebouças, em São Paulo, haverá conferências,
mesas-redondas e transmissão de cirurgias ao vivo.
Com informações da Assessoria de Imprensa do HC
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