"A pesquisa mostra que cada paciente
possui um grau de tolerância à anemia e que a transfusão
não deve ser indicada com base apenas no valor da taxa de hemoglobina" |
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O
número de pacientes que recebem transfusões de sangue
em procedimentos cirúrgicos de maior porte é grande,
mas pode diminuir com estratégias de cirurgia sem sangue. "A
principal delas é a tolerância do médico à
anemia do paciente", aponta a médica anestesista Daniela
Rocha Gil, em dissertação de mestrado apresentada na
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
"A tolerância do paciente à anemia deve ser levada
em conta antes, durante e depois da cirurgia", diz. "A anemia
é causada pela perda de hemoglobina do sangue, que reduz o
transporte de oxigênio aos órgãos do corpo e debilita
o paciente."
Daniela aponta que o nível ideal de hemoglobina no corpo gira
em torno de 12 a 15 gramas por decilitro
(g/dl), mas muitos médicos indicam a transfusão
sangüínea quando os valores atingem 8 g/dl. "Na pesquisa,
encontramos pacientes com valores muito inferiores, como 3 g/dl, e
mesmo não recebendo sangue, sobreviveram", relata. "A
pesquisa mostra que cada paciente possui um grau de tolerância
à anemia e que a transfusão não deve ser indicada
com base apenas no valor da taxa de hemoglobina."
Daniela estudou no Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto, 11 pacientes Testemunhas de Jeová submetidos a cirurgias
de grande porte. "Esta religião não permite transfusão
sangüínea, mas qualquer que seja a crença do paciente,
a cirurgia sem sangue pode ser usada como alternativa para evitar
o risco do contágio de doenças como aids, hepatites
B e C e HTLV nas transfusões", afirma. "O estudo
mostra que é possível minimizar o número de transfusões
sangüíneas no período intra-operatório."
Alternativas
Uma opção de cirurgia sem sangue é a de administrar
eritropoetina ao paciente. "Esta substância estimula o
aumento dos valores de hemoglobina no sangue e deve ser usada no período
pré-operatório, de preferência três semanas
antes da data prevista para a cirurgia", explica Daniela. "Outra
alternativa é usar substâncias que favorecem a coagulação
e minimizem a perda sanguínea intra-operatória."
Existe a opção de utilizar uma máquina que recupera
o sangue que seria perdido no período intra-operatório.
"O aparelho aspira o sangue do campo operatório e consegue
processá-lo para posterior re-infusão no paciente",
diz a médica. "No entanto, a máquina recupera só
metade do sangue perdido e seu uso não é recomendado
em cirurgias oncológicas, pelo risco de re-contaminação."
Na maioria dos casos pesquisados foi usada a hemodiluição
normovolêmica, para reduzir a perda sangüínea no
período intra-operatório. "O sangue do paciente
é retirado e mantém-se o volume sanguíneo com
a infusão de outros líquidos, em geral solução
fisiológica, mas com uma quantidade muito menor de hemoglobina,
reduzindo sua perda na cirurgia", explica a médica. O
sangue retirado fica armazenado para ser re-infudido ao final do procedimento
ou quando for absolutamente necessário. "Esta técnica
é de baixo custo, eficaz e segura".
Daniela alerta que os métodos de cirurgia sem sangue não
estão disponíveis em todos os centros médicos
do País. "O ideal seria associar várias estratégias
concomitantes, como o uso de eritropoetina e a hemodiluição,
para reduzir a perda sanguínea, como foi feito na maior parte
dos pacientes estudados." O trabalho foi orientado pelo anestesista
do HC de Ribeirão Preto e professor da FMRP, Luís Vicente
Garcia.
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