São Paulo, 
transportes
25/10/2005
Finanças poderão influir na construção do complexo ferroviário de São Paulo
Construção de Ferroanel completo é o ideal. Situação financeira, porém, provavelmente levará a Secretaria dos Transportes a construir o trecho Sul pela possibilidade de proximidade ao Rodoanel Viário
Rafael
Veríssimo

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"A implantação somente do trecho Sul é menos prioritária, pelo fato de as duas empresas que possuem a concessão das ferrovias e que transportam cargas para o Porto de Santos já possuírem ou estarem encaminhando a construção da infra-estrutura necessária para melhor acessar o porto'
Na Escola Politécnica da USP (Poli), uma pesquisa desenvolvida na área de Engenharia de Transportes sugere mudança na prioridade de implantação do Ferroanel, sistema ferroviário que deverá ser feito em torno da cidade de São Paulo. Enquanto o governo prioriza a construção do trecho Sul, inclusive por razões financeiras, a pesquisa aponta como sendo mais importante o trecho Norte/Leste na implantação inicial do Ferroanel.

O trecho Norte/Leste ligaria duas estações ferroviárias localizadas na Grande São Paulo: Campo Limpo Paulista, cidade na região norte, e Engenheiro Manoel Feio, estação em Itaquaquecetuba, na região leste. A outra linha, o trecho Sul, faria a ligação entre a cidade de Rio Grande da Serra e o bairro de Evangelista de Souza (zona sul de São Paulo). A proposta do governo é facilitar o acesso ao Porto de Santos e melhorar o fluxo da Rede Metropolitana, que atualmente recebe trens de carga (principalmente da empresa MRS Logística).

A Secretaria de Transportes do Estado de São Paulo prioriza a implantação do trecho Sul pela possibilidade de sua construção ao lado do trecho sul do Rodoanel Viário, o que representaria um ganho de custo e tempo na obra.

Para o engenheiro Paulo Gimenez Gonçalves, que estudou o projeto em sua pesquisa de mestrado, a implantação somente do trecho Sul é menos prioritária, pelo fato de as duas empresas que possuem a concessão das ferrovias e que transportam cargas para o Porto de Santos - MRS Logística e Brasil Ferrovias - já possuírem ou estarem encaminhando a construção da infra-estrutura necessária para melhor acessar o porto.

Conflito de interesses
Para chegar a essa constatação, Gonçalves usou o Método da Análise Hierárquica (MAH). O objetivo era analisar o conflito de interesses das quatro principais partes envolvidas - Secretaria de Transportes do Estado, CPTM, MRS Logística e Brasil Ferrovias - de acordo com seis situações: a construção do Ferroanel inteiro, apenas do trecho Sul, do trecho Norte inteiro (Eng. Manoel Feio - Mairinque), apenas da parte leste do trecho Norte (Eng. Manoel Feio - Campo Limpo Paulista, chamado Norte/Leste), o trecho Norte/Leste mais o Sul, ou a não construção de nenhum trecho.

Com base no MAH, Gonçalves produziu um questionário diferente para cada uma das entidades envolvidas, visando verificar o interesse de cada parte em cada situação de construção. O resultado foi uma classificação das alternativas de construção de acordo com a composição dos pesos dados pelos entrevistados para diferentes fatores, como "melhora do acesso ao Porto de Santos", "aumento da capacidade de transporte" ou "aumento da capacidade de transporte de passageiros". Ao final, seria possível descobrir qual alternativa de construção atenderia mais amplamente os interessados.

Prioridades
A princípio, o maior interesse de todos está na implantação do Ferroanel completo. Depois, o melhor colocado é o trecho Sul mais o trecho Norte/Leste, seguido pela construção do trecho Norte completo.

O projeto deve ser construído por etapas, mas a questão gira em torno de qual trecho é prioritário na construção. A opção melhor colocada, então, passou a ser a construção da parte Norte/Leste, entre Campo Limpo Paulista e Eng. Manoel Feio. Assim, os trens de carga dariam a volta pelo norte da Grande São Paulo. As maiores beneficiadas seriam a CPTM, que poderia melhorar o seu sistema urbano de passageiros, e a MRS Logística, que evitaria a região metropolitana por meio de uma linha que interligaria outras, uma delas sob sua concessão. Para a Brasil Ferrovias, dizem os pesquisadores, a obra seria praticamente indiferente.

O orientador do estudo, professor Nicolau Fares Gualda, ressalta que o estudo é uma contribuição da Universidade para a tomada de decisão e para a melhoria do sistema de transporte da Capital e do Estado, lembrando que os Secretários de Transportes e de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo fizeram parte da banca julgadora da dissertação e aprovaram a tese com elogios ao trabalho realizado.



Mapa da linha ferroviária da região da Grande São Paulo sem...

... e com o Ferroanel, se implementado por completo

[Imagens: Paulo Gimenez Gonçalves]


· vínculos:
Escola Politécnica

· mais informações:
paulo.gimenez@poli.usp.br e ngualda@usp.br

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