São Paulo, 
saúde
03/04/2006
Síndrome Fetal Alcoólica tem altas taxas na população de baixa renda
A síndrome, que atinge crianças cujas mães consumiram bebidas alcoólicas durante a gravidez, é completamente evitável. Mesmo assim, é uma das maiores causas de deficiência mental adquirida em crianças
Juliana
Cardilli

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"A população brasileira é de alto risco, e nada é feito para alertar e tratar esse problema. Além disso, há uma ignorância da classe me´dica quanto ao diagnóstico, e muito poucos trabalhos publicados no Brasil"
É comum se ver no Brasil crianças de baixo peso e estatura, ecom dificuldade de aprendizado. Tão comum que essa realidade faz passar despercebido o diagnóstico da Síndrome Fetal Alcoólica (SFA), que atinge crianças cujas mães tiveram uso abusivo de álcool durante a gravidez. A neuropediatra Dilza Zoéga Coelho, da Faculdade de Medicina da USP, analisou 203 crianças de uma instituição estadual na cidade de São Paulo. Em 12 delas (média de 59 em cada 1.000 crianças), foi constatado o diagnóstico da síndrome.

"Trata-se de uma taxa muito maior do que a estimada para a população geral (de 1 a 3 em cada 1000)", conta Dilza, que estudou o assunto para pesquisa de mestrado. O estudo nasceu da necessidade de mostrar que a população brasileira é de risco para a síndrome, principalmente pela falta de instrução e informação. Como as características da doença são de certo modo comuns entre as crianças de menor renda, os próprios médicos não a diagnosticam. Além disso, há poucos estudos sobre o assunto no Brasil.

"Há uma grande ignorância da população em relação à síndrome", lamenta a pesquisadora. Segundo ela, as gestantes não são alertadas sobre os efeitos da bebida alcoólica durante a gravidez do mesmo modo como é feito com o cigarro, que tem uma publicidade pesada. "Apesar disso, a propaganda dos dois é regulamentada pela mesma lei", conta Dilza.

Características
As crianças com síndrome fetal alcoólica geralmente possuem algumas características dismórficas (quadro que caracteriza a síndrome completa). Entre elas, estão olhos pequenos, nariz achatado, lábio superior fino, filtro nasal apagado.

Outros problemas também podem ser desenvolvidos no sistema cardiológico, renal, na audição e na visão. Das 12 crianças com a SFA encontradas por Dilza, oito possuíam a síndrome completa, e quatro foram caracterizadas com a síndrome quase completa (não possuem déficit de crescimento).

Populações de risco
Uma pesquisa feita na África do Sul, com trabalhadoras de uma vinícola que recebiam parte de seus salários em vinho, encontrou 40 em cada 1.000 crianças em idade escolar portadoras da SFA. O valor muito alto assustou a comunidade internacional, que passou a se preocupar com a questão. Um estudo feito com índios americanos, outra população historicamente carente e excluída, constatou que 36 em cada 1.000 crianças possuíam a síndrome. Apesar destes índices serem altíssimos, os encontrados na instituição paulista foram ainda maiores.

"Os problemas de aprendizado, comportamento, e as características físicas são para toda a vida. A síndrome é completamente evitável, mas ninguém faz nada a respeito para a prevenção. A investigação e o tratamento são muito caros e, muitas vezes, em quadros mais graves, a criança nunca vai ter uma vida independente", alerta Dilza. A neuropediatra ainda salienta as dificuldades de diagnóstico: "Não há nenhum exame específico que diagnostique a síndrome, e nem mesmo as pessoas que trabalham com essas crianças atentam para a importância do histórico de bebida na família".






· vínculos:
Faculdade de Medicina

· mais informações:
dilzoega@uol.com.br , com a pesquisadora

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