"A população brasileira é de alto risco, e nada
é feito para alertar e tratar esse problema. Além disso, há uma ignorância da
classe me´dica quanto ao diagnóstico, e muito poucos trabalhos publicados no Brasil" |
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É
comum se ver no Brasil crianças de baixo
peso e estatura, ecom dificuldade de aprendizado. Tão comum que essa realidade
faz passar despercebido o diagnóstico da Síndrome Fetal Alcoólica
(SFA), que atinge crianças cujas mães tiveram uso abusivo de álcool
durante a gravidez. A neuropediatra Dilza Zoéga Coelho, da Faculdade de
Medicina da USP, analisou 203 crianças de uma instituição
estadual na cidade de São Paulo. Em 12 delas (média de 59 em cada
1.000 crianças), foi constatado o diagnóstico da síndrome.
"Trata-se de uma taxa muito maior do que a estimada para a população
geral (de 1 a 3 em cada 1000)", conta Dilza, que estudou o assunto para pesquisa
de mestrado. O estudo nasceu da necessidade de mostrar que a população
brasileira é de risco para a síndrome, principalmente pela falta
de instrução e informação. Como as características
da doença são de certo modo comuns entre as crianças de menor
renda, os próprios médicos não a diagnosticam. Além
disso, há poucos estudos sobre o assunto no Brasil. "Há
uma grande ignorância da população em relação
à síndrome", lamenta a pesquisadora. Segundo ela, as gestantes
não são alertadas sobre os efeitos da bebida alcoólica durante
a gravidez do mesmo modo como é feito com o cigarro, que tem uma publicidade
pesada. "Apesar disso, a propaganda dos dois é regulamentada pela
mesma lei", conta Dilza. Características As
crianças com síndrome fetal alcoólica geralmente possuem
algumas características dismórficas (quadro que caracteriza a síndrome
completa). Entre elas, estão olhos pequenos, nariz achatado, lábio
superior fino, filtro nasal apagado. Outros problemas também
podem ser desenvolvidos no sistema cardiológico, renal, na audição
e na visão. Das 12 crianças com a SFA encontradas por Dilza, oito
possuíam a síndrome completa, e quatro foram caracterizadas com
a síndrome quase completa (não possuem déficit de crescimento).
Populações de risco Uma pesquisa feita na
África do Sul, com trabalhadoras de uma vinícola que recebiam parte
de seus salários em vinho, encontrou 40 em cada 1.000 crianças em
idade escolar portadoras da SFA. O valor muito alto assustou a comunidade internacional,
que passou a se preocupar com a questão. Um estudo feito com índios
americanos, outra população historicamente carente e excluída,
constatou que 36 em cada 1.000 crianças possuíam a síndrome.
Apesar destes índices serem altíssimos, os encontrados na instituição
paulista foram ainda maiores. "Os problemas de aprendizado, comportamento,
e as características físicas são para toda a vida. A síndrome
é completamente evitável, mas ninguém faz nada a respeito
para a prevenção. A investigação e o tratamento são
muito caros e, muitas vezes, em quadros mais graves, a criança nunca vai
ter uma vida independente", alerta Dilza. A neuropediatra ainda salienta
as dificuldades de diagnóstico: "Não há nenhum exame
específico que diagnostique a síndrome, e nem mesmo as pessoas que
trabalham com essas crianças atentam para a importância do histórico
de bebida na família". |
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