É justamente o processo de ação
ainda pouco conhecido do tratamento homeopático que atrai a
atenção dos pesquisadores |
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Apesar
de questionarem a cientificidade da Homeopatia, os profissionais de
outras áreas da Medicina enxergam nela um resgate do caráter
humanista da profissão. Enquanto as tradicionais consultas
médicas vêm sendo reduzidas a um encontro cada vez mais
breve entre médico e paciente, a Homeopatia valoriza esse contato.
De acordo com a médica homeopata Sandra Abrahão Chaim
Salles, na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) as primeiras
consultas duram cerca de uma hora. Para elaborar sua tese de doutorado,
realizada no Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina
(FM) da USP, Sandra ouviu médicos de outras especialidades
sobre a prática da Homeopatia.
Ela explica que, desde o seu reconhecimento como especialidade médica,
em 1980, vem ocorrendo uma gradual aproximação entre
a Homeopatia e as demais áreas da Medicina. Em maio deste ano,
o ministro da Saúde lançou uma portaria recomendando
a implantação e ampliação da Homeopatia
no SUS.
"Minha idéia era conhecer as características dessa
aproximação, identificando os aspectos considerados
pelos entrevistados como fatores que a facilitam e aqueles que, ao
contrário, indicam resistências ou oposições",
afirma a pesquisadora, que concluiu seu estudo com financiamento da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp). Segundo ela, o que esses profissionais mais valorizam
na Homeopatia é a prática de ouvir o paciente, dando
espaço para que ele fale sobre seu processo de adoecimento.
"A prática é valorizada também por sua abordagem
integral das pessoas, em contraposição ao excesso de
fragmentação promovido pela medicina das especialidades."
Afastamento
Entre os pontos de distanciamento entre a Homeopatia e as outras especialidades,
ressalta Sandra, está a dificuldade de se entender o funcionamento
da medicação homeopática. "O medicamento
homeopático é ultradiluído e não é
possível detectar quimicamente a presença do princípio
ativo. Os entrevistados consideram a Homeopatia capaz de lidar com
muitos sintomas com os quais as demais práticas têm dificuldades,
como quadros recorrentes, alergias, doenças crônicas
e psicossomáticas. Mas quando se trata de doenças mais
graves - infecções, por exemplo - não se sentem
seguros em relação à Homeopatia, pois não
conhecem seus procedimentos."
Entretanto, é justamente o processo de ação ainda
pouco conhecido do tratamento homeopático que atrai a atenção
dos pesquisadores. Para alguns deles, a motivação para
estudar a Homeopatia é o "desafio do novo". Os modelos
tradicionais de pesquisa em Medicina, que geralmente atestam a eficácia
de um medicamento a partir de testes realizados em um grande número
de pessoas, não são válidos para a Homeopatia.
"Para essa especialidade, a medicação deve ser
ajustada às necessidades de cada paciente em particular. Por
isso, é necessário um desenho diferente de estudos",
destaca Sandra.
Isolamento
Alguns médicos reclamaram da "falta de retorno" dos
homeopatas. "Muitos profissionais, após encaminharem pacientes
para a Homeopatia, não recebem mais informações
sobre o tratamento. Há uma visão de que os homeopatas
são um grupo isolado. E, de fato, isso acontece. Cabe também
aos homeopatas divulgarem mais suas práticas e procurarem um
contato maior com os outros médicos", afirma a pesquisadora.
Sandra ouviu 48 profissionais de saúde (apenas dois não-
médicos), sendo 16 gestores, 12 médicos que atendem
pela rede pública em diferentes estados do País e 20
pesquisadores e docentes, de 11 faculdades de Medicina.
"Todos eles mantiveram algum contato profissional com a Homeopatia,
orientando pesquisas nessa área, apoiando a implantação
do ensino da especialidade em faculdades de medicina, encaminhando
pacientes para tratamento homeopático ou apenas convivendo
com sua presença em seu local de trabalho", esclarece
a médica.
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