"Uma sugestão é que equipes ligadas
à saúde elaborem manuais de procedimentos específicos que
englobem medidas de prevenção e controle para os riscos à
saúde desses trabalhadores" | |
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O mesmo profissional que faz as mulheres ficarem cada vez
mais bonitas no salão de beleza pode ter seu material genético cada
vez mais danificado por conta dos produtos altamente tóxicos que
manuseia. Pesquisa pioneira no País mostrou uma alta freqüência
de mutações no material genético em profissionais de institutos
de beleza quando comparada com a população em geral - o que pode
estar relacionado com um risco maior de desenvolvimento de câncer.
O grande problema para esses profissionais é a exposição
crônica a produtos com uma composição química muito
forte, muitas delas com propriedades cancerígenas - como é o caso
do formol, presente nos esmaltes e usado na "escova progressiva", e
da amina aromática, que dá cor nas tinturas. Outros exemplos
são substâncias presentes em loções de clareamento
e em permanentes. "Além disso, a profissão
não é regulamentada e, portanto, não há vistorias
nos locais de trabalho nem normas ou padrões de funcionamento que devem
ser seguidos", lembra a bióloga Maira Precivalle Galiotte,
autora do estudo desenvolvido na Faculdade de Medicina (FM) da USP. Ele faz parte
de um projeto maior, encabeçado pela professora Gilka J. F. Gattás
e pela enfermeira Gisele Mussi, com
o objetivo de analisar as condições de trabalho e saúde de
profissionais do setor. "A idéia inicial do projeto era
avaliar as mulheres no ambiente de trabalho, já que os estudos nesse sentido
costumam ser voltados para o sexo masculino", explica Maira. As profissionais
de instituto de beleza foram escolhidas devido aos riscos do trabalho e a falta
de estudos com essa classe profissional, mesmo mundialmente. "Populações
que possuem uma alta freqüência de mutações no DNA têm
um risco maior de desenvolver câncer. Logo, detectando esse dano de maneira
precoce, podemos intervir e implementar medidas de segurança para os riscos."
Mutantes Maira realizou dois testes citogenéticos para
avaliar a freqüência de mutações. No Teste do Cometa,
a passagem de uma corrente elétrica arrasta o DNA danificado para longe
do DNA íntegro, formando uma estrutura semelhante
a um cometa, cuja "cauda" é formada pelo material genético
que sofreu mutação. O Teste do Micronúcleo (MN) avalia o
aparecimento de estruturas que se formam quando o material genético é danificado.
"Além de serem testes simples e baratos, eles permitem avaliar um
grande número de pessoas e de uma maneira relativamente rápida",
explica. A pesquisadora trabalhou com 160 mulheres, sendo 80 profissionais
selecionadas em salões de beleza da cidade de São Paulo. As outras
80, que não trabalham no setor, formaram o grupo controle. Foram colhidas
amostras de sangue das participantes e elas
responderam a um questionário sobre hábitos da vida e situação
de saúde. No teste do micronúcleo, o grupo das profissionais
de beleza apresentou o dobro da freqüência de alterações
no DNA em comparação ao grupo controle.
"É uma diferença preocupante", diz a pesquisadora.
A aplicação do Teste do Cometa também resultou numa diferença
significativa. "É preciso regulamentar a profissão
para que haja meios de fazer com que se diminuam esses riscos", alerta. "Uma
sugestão é que equipes ligadas à saúde elaborem manuais
de procedimentos específicos que englobem medidas de prevenção
e controle para os riscos à saúde desses trabalhadores."
O próximo passo dos estudos já está
planejado no doutorado de Maira. A pesquisadora realizará testes
mais complexos para entender a fundo essas mutações. "A idéia
é fazer uma avaliação com maior número de profissionais
de institutos de beleza, incluindo agora os homens, para obtermos uma compreensão
mais precisa dos efeitos e conseqüências dessa exposição
ocupacional." |
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