"Com o acúmulo de chumbo
nos ossos dos bebês, os danos à saúde podem se
manifestar à longo prazo, nos rins e no sistema nervoso" |
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Pesquisa
feita com 76 mães de recém-nascidos em Taubaté
(interior de São Paulo) identificou uma média de 154
microgramas de chumbo por litro (µg/L) de leite materno produzido
nos primeiros sete dias de vida da criança (colostro). Os dados,
obtidos pelo médico pediatra Luiz Fernando Costa Nascimento,
reforçam a necessidade de estudos sobre as fontes de contaminação,
em especial na alimentação das mães.
O leite materno foi recolhido em mães que tiveram filhos no
Hospital Universitário de Taubaté, entre um e dois dias
após o parto. "Na gestação e nos primeiros
dias de vida dos bebês, o chumbo acumulado nos ossos é
mobilizado e chega ao leite da mãe pela corrente sanguínea",
conta o médico, que é pesquisador da disciplina de Informática
Médica da Faculdade de Medicina (FM) da USP. "Após
esse período, o nível de chumbo cai notavelmente e chega
a níveis não detectáveis."
As amostras de leite foram submetidas à técnica de espectroscopia
de absorção atômica em forno de grafite para que
fossem identificados os teores do metal. "Em média, foram
encontrados 154 µg/L de chumbo",
relata o pesquisador. "Entretanto, em 70,6% das amostras,
este nível ficou abaixo de 60 µg/L de colostro, média
encontrada em um estudo semelhante realizado na Cidade do México,
que apresenta elevados índices de poluição."
De acordo com Nacimento, professor de Medicina na Universidade de
Taubaté (Unitau), o maior valor encontrado na pesquisa foi
de 300µg/L de chumbo no leite materno. "Nas amostras de
quatro mães não foram encontrados traços do metal",
ressalta.
Fontes
O pesquisador aponta que não existem estudos sobre o
valor máximo de chumbo admitido no colostro. "A Organização
Mundial de Saúde (OMS) aponta um máximo de 5µg/L,
mas especificamente para o leite materno maduro, produzido 30 dias
após o nascimento", explica. "Com o acúmulo
de chumbo nos ossos dos bebês, os danos à saúde
podem se manifestar à longo prazo, nos rins e no sistema nervoso."
A fonte mais provável da contaminação, observa
Nascimento, é a ingestão de alimentos com altos teores
de chumbo. "A pesquisa mostrou baixo consumo das fontes habituais
do metal, como vinhos, peixes e ostras, por isso o mais provável
é que o chumbo esteja, por exemplo, contaminando a água
usada na irrigação de hortaliças."
Outra possibilidade é a exposição das mães
a partículas do metal na atmosfera, originárias da combustão
de gasolina. "A média de idade das mães pesquisadas
é de 24,8 anos, ou seja, muitas já eram nascidas antes
da proibição do uso de chumbo tetraetila no combustível",
diz o médico.
"Os poluentes entram no corpo por meio da respiração
e também pela ingestão de alimentos contaminados, acumulam-se
nos ossos e são mobilizados pela corrente sanguínea
durante a gestação e a lactação".
Os testes de espectroscopia foram realizados na Escola de Engenharia
de Lorena (EEL) da USP, sob a supervisão do professor Hélcio
Izário Filho.
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