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Por meio da alimentação,
por exemplo, esses metais podem ser incorporados por um pequeno organismo,
acumulados e transferidos para um peixe que dele se alimenta, podendo
acabar numa mesa de jantar |
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A
concentração de metais pesados no fundo de uma parte
da Represa Billings está até 102 vezes acima do nível
máximo recomendado. Dentre essas substâncias contaminantes,
destaca-se o cobre. "A quantidade desse metal supera em muitas
vezes a indicada pelo Conselho Canadense do Ministério do Meio
Ambiente (CCME), órgão de proteção ambiental
aceito pela comunidade acadêmica que estabelece limite de teor
desses metais e de outros componentes tóxicos no sedimento",
afirma Carolina Fiorillo Mariani.
Em seu mestrado, realizado no Instituto de Biociências (IB)
da USP, a bióloga avaliou a presença de seis metais
pesados (cobre, cádmio, zinco, chumbo, níquel e cromo)
nos sedimentos do Reservatório do Rio Grande, que faz parte
do Complexo Billings. "Os sedimentos funcionam como um compartimento
de registro histórico do que acontece no local", explica.
Separado da represa na década de 80 devido ao despejo das águas
do Rio Pinheiros, altamente poluidoras, o reservatório está
localizado na Região Metropolitana de São Paulo e é
aproveitado para abastecimento público e até como local
de recreação.
A bióloga coletou amostras de 29 locais do Rio Grande para
conhecer a disposição espacial desses metais - um importante
diferencial do estudo. "Essa amostragem é considerada
muito grande se comparada com o que se costuma fazer", afirma.
Contaminação
As maiores concentrações de metais foram encontradas
próximas à barragem, uma região baixa cujo menor
fluxo de água favorece a sedimentação. As concentrações
também foram mais altas onde desemboca o Rio Ribeirão
Pires. O esgoto proveniente do município de mesmo nome e a
proximidade com indústrias e mineradoras são possíveis
causas para a forte contaminação.
No caso específico do metal que mais marcou presença
nas análises, Carolina aponta como causa potencial o tratamento
das águas do local realizado pela Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp). "Sabe-se que a Sabesp
já usou sulfato de cobre para combater a proliferação
de algas, organismos que acabam dando gosto à água e
podem até contaminá-la com toxinas". A bióloga
ressalta que não há como saber ao certo que tipo de
algicida é usado, pois a Companhia não divulga essa
informação.
Além da quantidade de metais pesados, a pesquisadora analisou
outros fatores. A presença de sulfeto, por exemplo, pode garantir
que os metais não fiquem livres na água. Em um ambiente
anaeróbico (sem oxigênio) os metais reagem com ele, formando
um composto insolúvel que se precipita e fica depositado no
fundo do reservatório.
Mas apesar de ter notado a forte presença dessa substância,
a bióloga descobriu que o teor de metais variou conforme o
de matéria orgânica. Esse dado chama a atenção
porque as possibilidades de destino de metal associado a ela podem
ser muitas. Por meio da alimentação, por exemplo, esses
metais podem ser incorporados por um pequeno organismo, acumulados
e transferidos para um peixe que dele se alimenta, podendo acabar
numa mesa de jantar.
Contribuições
A pesquisa de Carolina deixa alguns alertas relacionados à
atenção dada à Represa Billings pelos órgãos
competentes. Segundo a pesquisadora, a Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental (Cetesb) - órgão que faz o monitoramento
da Represa - coleta água em apenas dois pontos. "Não
é possível acreditar que tão poucas amostras
possam retratar a situação da represa", afirma.
Entre as 29 amostras coletadas houve uma variação muito
grande quanto aos fatores e às respectivas concentrações.
A bióloga chama a atenção também para
o teor excessivo de metais pesados. "Como o equilíbrio
entre água e sedimentos é muito sensível e imprevisível,
é difícil ter um controle da localização
dos metais no reservatório". E o alerta vai também
para o modo como a Sabesp faz o tratamento - que pode contribuir para
contaminar ainda mais a água.
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