"Há grandes bancos de vegetação
na várzea, cujas raízes retêm material particulado" |
|
|
|
|
A
várzea do ribeirão Parelheiros contribui para a melhora
da qualidade da água que chega à represa de Guarapiranga,
em São Paulo, aponta pesquisa do químico Almir Aparecido
de Souza Andrade. Em tese de mestrado apresentada em 2005 na Escola
de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, o químico
constatou redução da turbidez da água, além
da queda dos níveis de algas cianofíceas e Microcystina
(toxinas das algas).
Formada com a junção dos córregos Parelheiros
e Itaim e pelas águas bombeadas da represa Billings para a
Guarapiranga, a várzea do Parelheiros ocupa uma área
de 93 mil metros quadrados no sul da Grande São Paulo. "Na
entrada e na saída da várzea foram comparados níveis
de nitrogênio, fósforo, pH, cor, Demanda Química
de Oxigênio (DQO) medida da quantidade de oxigênio
usada por bactérias aeróbicas na decomposição
de matéria orgânica e turbidez das águas,
além dos índices de coliformes fecais e totais, algas
cianofíceas e Microcystina", conta Andrade.
As medições foram divididas em dois períodos,
conforme o regime hidrológico: entre outubro e março,
período chuvoso, e entre abril e junho, época de estiagem.
"No período das chuvas, houve aumento das concentrações
de nitrogênio e fósforo", destaca o pesquisador.
"Existem zonas agrícolas na região. As chuvas 'lavam'
o solo, levando os nutrientes que compõem os fertilizantes
para a várzea durante as cheias."
De acordo com Andrade, a queda na turbidez da água chegou a
30% no período seco e 50% no chuvoso. "Há grandes
bancos de vegetação na várzea, cujas raízes
retêm material particulado", explica. A grande capacidade
de degradação de matéria orgânica, usada
como nutriente pelas plantas, reduziu em 30%
a Demanda Química de Oxigênio (DQO).
"A água chega mais limpa até a represa."
Toxinas
O nível de coliformes fecais, maior no período seco,
sofre influência de fontes difusas. "Além da chuva
diluir os poluentes, há córregos que desembocam na várzea
e a deposição de esgoto vindo de ocupações
irregulares", explica Andrade.
Segundo a pesquisa, o nível de algas cianofíceas teve
redução de 60%. "Os bancos vegetais na várzea
sombreiam as águas, reduzindo o espaço para as algas
fazerem fotossíntese", diz o químico. "O regime
hidrodinâmico (variação do fluxo das águas)
também tem influência criando turbulências
e zonas que não favorecem o desenvolvimento das algas."
A redução de microcistinas chegou a 55% no período
seco e 80% no chuvoso, provavelmente devido a grande adsorção
dessas substâncias pelas raízes da vegetação
da várzea. "O local tem grande biodiversidade e sua influência
na redução de algas e toxinas deve ser mais pesquisada",
defende o pesquisador. "Alguns especialistas relatam a possibilidade
de excreção de substâncias antibióticas
pelas raízes dos vegetais."
O químico sugere que a coibição do aumento das
ocupações irregulares ao longo da várzea do Parelheiros
deva ser prioritária. "A implantação de
rede coletora de esgotos nas áreas não atendidas pelo
serviço irá melhorar o desempenho da várzea",
afirma. "As instituições que cuidam da gestão
dos reservatórios devem ter atenção voltada ao
manejo desses locais, estudando sua biodiversidade
e tentando preservá-los ao máximo."
|
|
|