"O bilhete único é
uma solução social importante para as populações
de baixa renda. O dinheiro que seria empregado para pagar o transporte
pode ser usado na compra de produtos de primeira necessidade" |
|
|
|
|
A
construção de bicicletários ao lado das estações
de trem, a aceitação do bilhete único (integração
gratuita com limite de tempo) em toda a Região Metropolitana
de São Paulo (RMSP) e a concessão de vale-transporte
para trabalhadores do mercado informal, além de medidas que
desestimulem o uso de automóvel ajudariam a melhorar o transporte
público.
Segundo o engenheiro Silvio José Rosa, essas práticas
beneficiariam diretamente a população de baixa renda.
"Os locais de moradia dessas pessoas influenciam no custo da
viagem e no tempo de deslocamento, dificultando o acesso às
oportunidades de interesse", afirma.
Com base nas pesquisas Origem-Destino (OD), da Companhia do
Metropolitano de São Paulo (Metrô), e Acesso e Difusão
(AD), coordenada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos
(CPTM), o engenheiro desenvolveu seu estudo de mestrado que abordou
a mobilidade da população de baixa renda na região
Metropolitana de Sao Paulo. O estudo, apresentado em setembro de 2006
na Escola Politécnica, obteve o 4º lugar no Concurso de
Monografia da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU edição
2006).
A pesquisa Origem-Destino (OD), do Metrô, foi realizada
em 1997 e envolveu 98.780 mil entrevistados, usuários
e não-usuários de transporte público dos 39 municípios
da Região Metropolitana de São Paulo. O estudo coordenado
pela CPTM, Acesso e Difusão
(AD), de 2005, entrevistou 18.245 usuários de seus trens. "A
comparação das pesquisas
permitiu identificar os padrões de viagem da população
de baixa renda e propor soluções que melhorem e ampliem
sua mobilidade", conta Sílvio.
Bicicletários
O engenheiro sugere o uso da bicicleta como meio de transporte, bem
como a sua integração física e tarifária
com o trem metropolitano. "Percebemos, por exemplo, que muitos
habitantes de Francisco Morato [cidade distante 50 quilômetros
da Capital], apesar de morarem muito longe da estação,
chegavam até ela a pé", conta Silvio. "Para
melhorar essa mobilidade, pode-se criar bicicletários nas proximidades
das estações da CPTM que ofereçam uma ampla infra-estrutura
ao ciclista com chuveiro, vestiários e armários com
chave." Ele lembra da necessidade de tirar a mácula de
'transporte de pobre' que acompanha o uso das bicicletas: "Em
cidades como Mauá, que conta com um bicicletário, elas
já são usadas pelos moradores como meios de transporte".
Quanto ao bilhete único, Sílvio considera uma solução
social importante para as classes de baixa renda. "O dinheiro
que seria empregado para pagar o transporte pode ser usado na compra
de produtos de primeira necessidade", comenta. O pesquisador
propõe a ampliação do benefício a todos
os 39 municípios que compõem a região Metropolitana
de São Paulo. Ele também sugere que, com tecnologia
adequada, poderia haver o rastreamento do usuário para saber
quais são os seus itinerários e, a partir daí,
planejar várias integrações entre os modos (ônibus,
trem e metrô)", diz.
Uma outra sugestão é a concessão do vale-transporte
aos trabalhadores informais cadastrados na Previdência Social.
"Seria uma forma alternativa de levar este benefício para
a população mais pobre, porém é uma medida
que ainda carece de várias análises para ser implantada",
pondera Sílvio.
Consciência ambiental
Iniciativas que desestimulem o uso do automóvel, como aumento
de impostos, e campanhas que incentivem a transferência das
viagens individuais para o transporte coletivo (de qualidade) são
outros pontos apontados pelo pesquisador como necessários para
a melhoria do sistema de transporte. "No Brasil, ao contrário
do que acontece na Europa e nos Estados Unidos, essa questão
é tratada como um subproduto. É preciso desenvolver
consciência sobre o uso do automóvel, principalmente
sob o aspecto ambiental."
A pesquisa Transporte e exclusão social: a mobilidade da
população de baixa renda da Região Metropolitana
de São Paulo e o trem metropolitano recebeu o prêmio
durante o XX Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes da Associação
Nacional de Pesquisa e Ensino em Transportes (ANPET), realizado no
último mês de setembro.
|
|
|