texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo

 

 

 

 

 

 

 

Crédito: Franciso Emolo
Aos 70 anos, a garantia: “Enquanto eu tiver forças, inteligência e capacidade, estarei aí.”

 

Seu uniforme de trabalho é o jaleco branco com o brasão da Faculdade de Medicina na manga esquerda. O homem tem fala baixa e pausada. Cabelos grisalhos. Calmo. Desse jeito ele explica a importância em ser o primeiro especialista latino-americano a receber o prêmio Sidney Ingbar: “O reconhecimento internacional não significa apenas a minha projeção, mas de todo o conjunto da Universidade, órgãos financiadores de pesquisa e colegas que trabalham comigo. Eles foram o suporte para eu publicar 253 artigos em revistas internacionais e os 15 livros”.

Entre as obras que escreveu, O Gordo Absolvido é a mais famosa, por se tratar de uma publicação destinada ao grande público. Nela, o médico destaca os fatores genéticos como um dos grandes responsáveis pela obesidade, absolvendo as pessoas da culpa isolada pelo excesso de peso. “Muitos obesos que vemos na rua possuem antecedentes genéticos fortes: 30% a 40% têm parentes obesos ou diabéticos”, afirma. “Um dos grandes passos que a medicina vai dar nos próximos anos é o início do tratamento fármaco-genético: uma terapia em que os remédios visam à correção de proteínas produzidas e dos genes defeituosos.”

Enquanto o escritor prepara o próximo livro, que é uma revisão de O Gordo Absolvido, ele conta suas preferências como leitor. Novelas históricas no tempo da Grécia e Roma antigas são um prato cheio. O interesse é grande também por obras que mostrem a aplicação da ciência no cotidiano. Mas o principal é a lista de biografias que admira: “A de Napoleão, já li duas ou três vezes”. Na lista de personagens aparecem ainda os presidentes norte-americanos Abraham Lincoln e Harry Truman, e os brasileiros Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

“Gosto de ler sobre as coisas que passaram para eu ter uma visão mais segura do futuro.”

 

 

 

 

Medeiros é casado, ou melhor, “casadíssimo”, como ele próprio se define, há 47 anos. É quase a mesma idade que tem de relacionamento com a medicina. Desde o início da graduação, já se passaram 52 anos. Hoje tem quatro filhos e nove netos. “Quando me casei, eu estava no primeiro ano de residência. Minha mulher reclamava porque, a cada três noites, uma eu passava fora. Mas, fazer o quê?”, brinca.

Por coincidência, o especialista, cujas pesquisas fazem intersecções com os hábitos alimentares, tem uma filha que é chefe de cozinha diplomada. “Ela conhece uns pratos extraordinários”, diz, em referência ao camarão no papaya, uma das especialidades que adora.

Apesar da vida corrida durante toda a semana, o professor procura se dedicar à família e aproveitar o tempo livre. “Na sexta à tarde, já parto para casa.” Ao pensar sobre os projetos futuros, a conciliação se torna mais evidente: nos próximos meses, vai produzir artigos para o site Gerente da Tireóide (Thyroid Manager), voltada para profissionais da saúde. Outro plano é se dedicar mais ao sítio nos arredores de São Paulo, para onde viaja com a família.

O que tem lá, professor?

“Ah, não tem muita coisa não” (com um sorriso no rosto). “Fazemos feno para cavalos, é uma coisa bonita e gostosa de ver. O final de semana lá, pra mim, é um bálsamo.”

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