Servindo versos

 

 

 

 

 

 

 


Créditos: Cecília Bastos
“Há leitores para o Paulo Coelho e há leitores para o Osmar, o público dele não está nas livrarias.” Plínio Martins

 

 

créditos: Francisco Emolo
“Escrevo para o público universitário, os vizinhos, os freqüentadores da região, o pessoal do CEU Butantã, para aqueles que me viram crescer, mas quero fazer meus livros chegarem ao maior número possível de pessoas. Aqui tem uma lição de vida.” Osmar Afrísio dos Santos

Entre 1985 e 1989, com o apoio financeiro de seu Manoel, Osmar cursou pedagogia nas Faculdades Integradas Hebraico-Brasileiras Renascença. Dos trocadilhos com o jargão científico, o garçom logo passou aos versinhos, que cativavam ainda mais os freqüentadores do Rei das Batidas. Conhecendo seu talento para a comunicação e sabendo de sua longa trajetória no bar, alguns fregueses passaram a incentivá-lo a escrever um livro que contasse a história do bar.

“Quando comecei a escrever era para um grupo de cerca de 200 amigos que me incentivavam. Pessoas da FFLCH, da Odontologia, da FEA, da ECA, entre outras, que freqüentavam o Rei”, conta o garçom-escritor. Finalmente decidido a publicar um livro, Osmar foi à luta: para conseguir fazer a impressão, buscou patrocínio com amigos, fregueses e até com os patrões; a editoração, por sua vez, ele conseguiu gratuitamente, na Com-Arte, uma editora-laboratório da ECA.

Plínio Martins, diretor da Edusp e professor responsável pela Com-Arte, relata que, inicialmente, houve resistência de alguns alunos em investir no livro de Osmar. No entanto, essa barreira acabou sendo superada: “Não deveríamos ser elitistas e publicar no laboratório apenas aquilo que o establishment considera como bom. Um livro como o dele poderia ter um público muito maior do que o de muitas teses”. De fato, a previsão de Martins se concretizou. Lançado em 1996, Sem Rei Nem Bar, Somente Osmar já está em sua quarta edição.

Considerado pelo autor “um despejo amorfo de idéias e pensamentos”, o livro vem sendo vendido principalmente no boca a boca, nas conversas com os freqüentadores do Rei das Batidas, que, por sinal, são o principal assunto da obra. Ele chegou a ter espaço em algumas livrarias, como a Belas Artes, mas isso não ocorre mais atualmente. Supervisor do trabalho de editoração do livro, Martins julga normal essa rejeição: “Há leitores para o Paulo Coelho e há leitores para o Osmar, o público dele não está nas livrarias”.

Hoje, mais de dez anos após a publicação de Sem Rei Nem Bar, Somente Osmar, o autor começa a divulgar e vender sua segunda obra. Copos na mão, idéias em vão é uma continuação da primeira e apresenta ao leitor uma compilação de pequenos poemas em verso e prosa, sempre baseados nas experiências diversas vividas por Osmar nesses mais de 30 anos como garçom do Rei das Batidas. O livro traz organização e comentários de Antônio Celso Xavier de Oliveira, um antigo freguês que atualmente trabalha no Itamaraty.

Osmar não objetiva apenas fazer um relato poético de situações muitas vezes inusitadas. Seus livros são, para ele, quase uma missão: “Acredito que eu posso ser um veículo de comunicação para as pessoas. Aqui dentro tem uma lição de vida: falo de Deus, das relações humanas, da humildade, dos exageros e suas conseqüências”. Embora escreva para o público local, Osmar sonha em fazer seus livros chegarem ao maior número possível de pessoas. “Meu objetivo não é fazer disso um comércio. Quero fazer uma divulgação social, um incentivo à cultura popular e, principalmente, quero ajudar a mudar a vida das pessoas, especialmente na parte sentimental.”

< anterior página 1 | 2

   





web
www.usp.br/espacoaberto