texto: Circe Bonatelli
Fotos: Francisco Emolo e Cecília Bastos

 

Cecília Bastos

 

 

 

 

 

Crédito: Cecília Bastos
Ao fundo, imagem da Missão Histórica de Mário de Andrade, em exposição no CCSP. À frente, o “Alemão” – apelido de infância de Grossmann. Embora seja confundido com um estrangeiro até hoje, o professor é brasileiro, descendente de família austríaca e alemã.

 

 

 

 

 

 

Crédito: Cecília Bastos
“É difícil ver uma coleção como a dos museus da USP em outras partes do mundo. Quem é da área sabe o valor.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Crédito: Francisco Emolo
Pioneiro ao implantar a disciplina Teoria em Ação Cultural na ECA, Coelho defende uma formação específica para gestores de políticas culturais.

 

 


Crédito: Francisco Emolo
Coelho reforça a arte contemporânea no Masp com a exposição do artista brasileiro Alex Flemming.


Depois de dirigirem o MAC (Museu de Arte Contemporânea), os professores da ECA (Escola de Comunicações e Artes) Teixeira Coelho e Martin Grossmann estão à frente dos mais importantes centros artísticos de São Paulo. Nesta matéria, eles contam suas experiências dentro e fora da Universidade, além de revelar suas idéias e conflitos para desenvolver políticas de ação cultural na cidade.

Numa sexta-feira à tarde, chegamos ao Centro Cultural São Paulo procurando pelo diretor Martin Grossman. Até sua sala, atravessamos o prédio esculpido entre a rua Vergueiro e a avenida 23 de Maio, no bairro Paraíso. Por lá as salas são ligadas através de passarelas suspensas e paredes de vidro. As transparências nos permitem ver tudo que se passa na biblioteca, sala de exposições ou arena de shows. E encontramos a sala do diretor.

“Só topei a entrevista para divulgar o Centro Cultural”, brinca Grossmann ao receber a equipe do Espaço Aberto . O entusiasmo tem explicação. Há apenas três meses ele assumiu a instituição cujo papel está intimamente relacionado à sua corrente de pensamento: a ação cultural – necessidade de alimentar ambientes de orientação e formação cultural mais próximos da sociedade. “O que o público pensa? O que deseja? É importante você organizar um saber ampliativo que atraia outros sujeitos a mergulharem nesse universo da cultura,” explica.

Grossmann gesticula, arregala os olhos, sorri e se envolve ao falar das novas dimensões e suportes para a arte. A virtualidade é uma delas. Ele pôde trabalhá-la com pioneirismo de 1995 a 1998, quando recebeu a missão de coordenar o conteúdo do portal USP Online. Naquela época, pouca gente tinha uma noção do que era internet. Muito menos, então, poderia imaginar o que fazer com ela.

“Para mim, foi importante porque pude pensar na construção de uma nova mídia, dentro de uma formação muito mais ligada às artes visuais do que à comunicação. No USP Online, fiz diferente do que um jornalista faria. Eu me baseei nas vanguardas do século 20, que são mais transgressoras, expressivas e críticas ao sistema. E também pensam muito na relação entre arte, conhecimento e o social. As vanguardas sempre tiveram a preocupação em relacionar arte e vida.”

E Grossmann também. Em 1985, no final de sua graduação em Artes Plásticas pela Faap (Fundação Armando Álvares Penteado), ele desenvolveu um projeto de serviço educativo para o MAC, mostrando ao público a concepção da arte contemporânea dentro do ateliê. Foi o pontapé para seu mestrado na ECA e doutorado na Inglaterra, especializando-se em museologia, arte contemporânea, ação cultural e curadorias. De olho nos jovens pesquisadores com ampla formação, a USP lançou um programa para trazê-los de volta ao Brasil. Nessa leva, Grossmann retornou à ECA como professor do Departamento de Biblioteconomia, onde encontrou Teixeira Coelho e foi convidado para integrar o Conselho do MAC, sendo eleito vice-diretor em seguida.

“Hoje o MAC é um museu conservador e sem grandes ambições”, afirma o ex-dirigente, que ficou no cargo entre 1998 e 2002. “A minha crítica aos museus da USP é que eles não têm a preocupação do acesso ao universo científico e cultural que se produz. A visitação é pequena. Eu acho um crime a Universidade ser tão corporativa e manter seus patrimônios guardados para um grande público que não existe.”

A crítica de Grossmann tem um pano de fundo. Mas quem conta é o professor Teixeira Coelho, diretor do MAC naquele mesmo período. Fomos até seu encontro, numa sala com vista para as flores que decoram os postes de iluminação da avenida Paulista. O atual curador-coordenador do Masp (Museu de Arte de São Paulo) relembra o seu projeto na USP.

“É um problema deixar as obras do MAC escondidas. Elas estão enquistadas do lado de lá da Marginal Pinheiros. Quando o prédio foi fechado para reformas, levamos a coleção para o Centro Cultural Fiesp, na avenida Paulista. A visitação foi multiplicada por mais de dez. Pessoas muito bem informadas, que freqüentam o circuito artístico, se mostraram surpresas em descobrir as obras que o MAC tem. É difícil o acesso até a Cidade Universitária. Por isso, propus que o museu tivesse uma sede na cidade.”

Mesmo com o projeto definido, ele não deslanchou. O mandato de Coelho como diretor do MAC acabou e, em seguida, faltou força política para levar Martin Grossmann para o cargo de diretor.

Coelho sente-se à vontade para discutir políticas culturais e falar da Universidade. Pára, toma um copo de água e lembra: “Na própria USP me diziam que política cultural não é uma área. Ah, é?!” O desafio culminou no livro Dicionário Crítico da Ação Cultural, em que o professor fala mais sobre um tema que gerou a disciplina Teoria em Ação Cultural, criada na ECA em parceria com o professor Luis Milanesi, atual diretor da unidade.

“Esse programa foi pioneiro no Brasil. Ele visava a pensar a ação cultural em tempos contemporâneos. É preciso especializar profissionais para orientar mediações sem o rabo preso com ideologias, partidos, religiões e empresas,” explica.

Como escritor, Coelho tem uma produção bastante vasta. Ao todo, publicou 35 livros, entre obras acadêmicas, romances e ficções. Chegou a receber indicação para o Prêmio Jabuti, maior prêmio literário brasileiro, por Niemeyer – Um Romance, obra que levou mais de dez anos para ficar pronta. O namoro de Coelho com a arquitetura é longo: cogitou seguir esse curso, fez crítica para revistas especializadas e lecionou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie. Sua graduação, por outro lado, foi menos prazerosa. Formou-se em direito, “mas não dava para advogar em um País sem o menor senso como o Brasil da ditadura militar”. Então, seguiu outros caminhos. Desde 1973 faz parte do Departamento de Biblioteconomia da ECA.

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