Marcolin testa o procedimento na médica e doutoranda do
IPq Bianca Bellini.
“Para mim, é primordial poder deixar os medicamentos. Não quero
ficar dependente a vida toda”. Deila Maria Gomes Barbosa
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Técnica estudada no IPq diminui efeitos
colaterais e agiliza o tratamento
Estimativas da Organização
Mundial da Saúde indicam que 121 milhões
de pessoas em todo o mundo sofrem de depressão.
Uma das principais causas dessa doença são
alterações químicas no cérebro
que provocam um desequilíbrio entre os chamados
neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina.
Geralmente, a fim de tratar o problema, são
utilizados medicamentos que, muitas vezes, causam efeitos
colaterais. No entanto, uma pesquisa desenvolvida pelo
Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
USP (IPq/FM/USP) mostra que a Estimulação
Magnética Transcraniana (EMT) pode ser uma alternativa
aos fármacos ou, se associada a eles, tornar
o tratamento mais rápido e eficaz.
A EMT consiste na aplicação de um campo
magnético de intensidade entre 1,5 e 2 teslas
(unidade que mede a indução magnética)
em pontos determinados do cérebro, de forma
a estimular ou inibir circuitos neuronais específicos,
nesse caso os relacionados à depressão.
O chefe do Grupo de Estimulação Cerebral
da FM/USP, Marco Antônio Marcolin, explica como
isso acontece: “Quando você estimula, há,
inicialmente, um aumento do consumo de glicose e circulação
sangüínea na região que estava pouco
funcionante. Depois, acontece a liberação
de neurotransmissores, como os antidepressivos, além
de uma cascata de eventos dentro dos neurônios,
que se alteram. Por último, há uma acomodação
genética dentro dos neurônios, um rebalanceamento”.
Deila Maria Gomes Barbosa, funcionária do setor
de Serviço Social do Centrinho, em Bauru, toma
medicamentos para depressão há dois anos.
Ela conta que, em função disso, sofre
alguns efeitos colaterais. “Tenho muita secura na boca
e um sono incontrolável”, revela. Para quem,
como ela, apresenta esses ou outros efeitos, tais como
ganho de peso e disfunção sexual, a EMT
pode ser uma alternativa. “Esse tratamento age em circuitos
mais específicos e os efeitos colaterais são
mínimos”, afirma Marcolin. Segundo o psiquiatra,
a associação da técnica com fármacos
também pode trazer resultados muito positivos: “Nosso
grupo foi o primeiro que demonstrou que, quando você associa,
num paciente com depressão grave, antidepressivo
com a estimulação, um medicamento que
leva de três a oito semanas para começar
a fazer efeito passa a funcionar na primeira semana,
diminuindo o sofrimento dos pacientes, o risco de suicídio
e os custos”.
A farmacêutica e bioquímica Ana Carolina
Simões considera a diminuição
dos efeitos colaterais uma grande vantagem da técnica,
mas acredita que a necessidade de o paciente se deslocar
até o hospital para receber as estimulações
pode dificultar o tratamento. “Se, para ser tratado
com EMT, o paciente tiver que mobilizar muitas energias, é muito
provável que, quando se sentir melhor, ele vá abandonar
o tratamento. Isso pode ser muito perigoso”, afirma.
Entretanto, Marcolin explica que, desde que o número
de sessões perdidas seja pequeno, não
há prejuízo ao paciente, já que é feita
uma reposição no final do processo de
aplicações.
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