por Talita Abrantes
foto por Francisco Emolo


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“Com o diagnóstico a secretaria pôde perceber uma grande falha na alocação de recursos: faltava foco nos cursos que eram oferecidos no estado”, afirma Maria de La Luz Prada Mato, analista sênior da Divisão de Estudos Econômicos da Seade


Pesquisa aponta que no estado falta mão-de-obra preparada para exercer funções que exigem pouca escolaridade

Cerca de metade da população economicamente ativa do Estado de São Paulo não possui Ensino Fundamental completo. Difícil acreditar? Porém, esta foi uma das constatações do Diagnóstico para o Plano Estadual de Qualificação Profissional, encomendado pela Secretaria de Emprego e Relações de Trabalho do Estado de São Paulo (Sert) e produzido pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade). A pesquisa também verificou que no estado a oferta de emprego para pessoas menos qualificadas é maior do que para aquelas que estudaram mais.

Para se ter uma idéia, entre 2006 e 2007, as ocupações que mais ofereceram oportunidades de emprego na região de Ribeirão Preto foram de trabalhador da cultura de cana-de-açúcar, motorista de caminhão, vendedor de comércio varejista, auxiliar de escritório geral, alimentador de linha de produção e servente de obras.

Mesmo assim, os paulistas não estão preparados para ocupar esses postos de trabalho. Das pessoas que possuem idade entre 14 e 60 anos, 42% ainda não concluíram o Ensino Fundamental. Isso, contudo, não significa que o restante da população tenha qualificação suficiente. “Se você olhar os dados do Saresp [Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo], os estudantes do terceiro ano do ensino médio não sabem fazer cálculo de porcentagem. E uma das ocupações com mais vagas é  de vendedor do comércio varejista. Se ele não sabe calcular porcentagem, como poderá vender?”, enfatiza Miguel Mateo, chefe da Divisão Técnica de Estudos Econômicos da Seade.


 

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“O que falta é a qualificação básica. Saber ler, escrever, fazer conta. Saber se relacionar com as outras pessoas e por conseqüência ter capacidade de aprender coisas novas”, aponta Miguel Mateo, chefe da Divisão Técnica de Estudos Econômicos da Seade


Além disso, a pesquisa detectou a falta de especificidade dos programas de qualificação profissional que pipocam por todo o estado. “Há boa vontade das prefeituras municipais, porém sem foco”, analisa o secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho, Guilherme Afif Domingos. Tanto que, entre 2005 e 2007, 52,4% dos cursos de qualificação oferecidos no estado não tinham um público-alvo definido e boa parte deles era voltada para o artesanato.

De acordo com Maria de La Luz Prada Mato, analista sênior da Divisão de Estudos Econômicos da Seade, em todo o estado há uma séria confusão entre assistência social e profissionalização. “Esses cursos acabam servindo mais como complementação de renda da área social e menos como política para o mercado de trabalho”, observa. Na região de Ribeirão Preto, por exemplo, cursos mais voltados para o mercado como os de mecânico de manutenção de veículos automotores correspondem a apenas 0,9% de todos os projetos, com 144 vagas, enquanto há 2.490 vagas para cursos de artesanato.

A região metropolitana de São Paulo destoa um pouco dessa lógica. “Há mais cursos de caráter específico e voltados para o mercado do que aqueles oferecidos na média do estado.” Assim, entre os que apresentam mais vagas estão cursos de melhorias administrativas, técnicos em operação e monitoração de computadores, entre outros. Por exemplo, segundo Mateo, os cursos de operadores de máquina para costura de peças de vestuário, que respondem por 5.671 vagas, não são apenas para formar pessoas e tirá-las da marginalidade, mas para atender a uma demanda do próprio mercado de trabalho. Afinal, “o Município de São Paulo abocanha 2/3 da produção da indústria de confecções do estado”, informa o economista.


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“A partir desta pesquisa, vamos desenvolver o Programa Estadual de Qualificação Profissional voltado à realidade do mercado de trabalho do município”, explica Guilherme Afif Domingos, secretário estadual de Emprego e Relações do Trabalho


Tendo em vista essa dinâmica das necessidades do mercado de trabalho, a pesquisa mapeou as principais demandas por qualificação profissional em todo o estado. Assim, em oficinas realizadas com prefeitos e membros da sociedade civil, concluiu-se que na região metropolitana de São Paulo devem ser priorizados cursos que capacitem pedreiros, vendedores de comércio varejista e até catadores de materiais reciclados, entre outros.

Em todo o estado, a necessidade de pedreiros mais bem qualificados liderou o ranking das demandas. O curso foi requisitado em 43 das 94 oficinas. Recepcionista em geral e vendedor de comércio varejista estão logo atrás.

Com base nesse diagnóstico, o governo paulista irá oferecer, a partir do segundo semestre, cursos de qualificação profissional voltados para essas áreas (veja em "Direcionados e coerentes"). “Não adianta espalhar cursos de qualificação pelo estado todo se não há demanda específica dentro daquelas regiões que concentram atividades econômicas”, diz o secretário. “O mercado pede profissões simples como pedreiros, serventes, empregados domésticos – e as vagas continuam em aberto, sem profissionais qualificados.”

Entre outras, o diagnóstico também concluiu que a partir de 2010 o estado viverá uma fase chamada “bônus demográfico”. Entenda o processo em "Diminui a desigualdade de renda no Brasil". Acesse a pesquisa aqui e saiba como algumas unidades da USP trabalham para melhorar a qualificação profissional de seus funcionários, em "Mais que status, qualidade de vida".

 
 
 
 
 
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